A tragédia da privatização da Vale

Para a empresa privada Vale S.A., a hipótese de incorrer em crime ambiental é muito mais barata do que garantir a segurança das pessoas, dos animais, enfim, do meio ambiente. No último trimestre, o lucro da companhia ultrapassou a casa dos 5 bilhões de reais. É por isso que a lógica neoliberal-capitalista destrói, não se importa com a vida humana. 

A tragédia da sexta-feira, 25 de janeiro de 2019, pelo rompimento de uma barragem da mina do Córrego do Feijão, da Vale S.A., é apenas mais uma das muitas que vêm aterrorizando a região, numa periodicidade média de aproximadamente um desastre a cada três anos. O número de vítimas fatais não é proporcional ao tamanho das barragens. Desastres como os das barragens da Mineração Rio Verde (atual Mar Azul/Vale, em Nova Lima-MG, em 2001) ou das minas de Fernandinho (Namisa/CSN, 1986) e Herculano (2014), em Itabirito-MG, tiveram vítimas fatais em número proporcionalmente maior do que o da Samarco, em Mariana-MG. 

A mineradora Vale, privatizada em 1997, é a terceira maior empresa do Brasil. Está minerando em 30 países e é uma das maiores do mundo. Após cometer o crime trágico do dia 5 de novembro de 2015, em Mariana, o qual ceifou vidas de 19 pessoas, peixes, animais, vegetação… envenenou a mãe terra e a irmã água do Rio Doce, cerca de outras 30 pessoas, nos últimos três anos, foram mortas como vítimas do crime que continua. A VALE prossegue a matança com a cumplicidade de seus aliados, incluindo autoridades e órgãos do Estado de Minas Gerais, governo federal e Poder Judiciário. 

Com grande perversidade, a Vale segue repetindo a mesma atrocidade anunciada. Dia 25 de janeiro, às 13h20min, o terror recaiu a partir do Município de Brumadinho-MG, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Esse crime cometido pela Vale pode ser muito maior do que o apontado pelos meios de comunicação. A lama tóxica CHEGARÁ AO RIO SÃO FRANCISCO, RUMO AO MAR! 

Recordemos exatamente quando iniciaram as tragédias tendo como responsabilidade direta a privatização da Vale, na voracidade do neoliberalismo de Fernando Henrique Cardoso. Em 6 de maio de 1997, o governo FHC leiloava a principal empresa brasileira no ramo da mineração e infraestrutura, a Vale do Rio Doce (hoje apenas Vale). 

A Vale do Rio Doce tinha um papel estratégico na economia nacional. A empresa foi criada em 1942, durante o governo de Getúlio Vargas, com recursos do tesouro nacional. Durante 55 anos, foi uma empresa mista, e o seu controle acionário pertencia ao governo federal. Batendo recordes atrás de recordes, a empresa se tornou uma das principais estatais do País. 

Em 1996, a Vale era uma estatal gigantesca, com reservas de metais de US$ 40 bilhões. Mas, antecipadamente, soube-se que grupos de empresas pagariam apenas US$ 3 bilhões para assumirem o poder acionário da estatal. Lembremo-nos do patrimônio da Vale em 1996, segundo a Revista Dossiê Atenção, “Porque a venda da Vale é um mau negócio para o país”, fls. 282-292 da Ação Popular nº 1997.39.00.011542-7/PA. 

  • maior produtora de alumínio e ouro da América Latina; 
  • maior frota de navios graneleiros do mundo; 
  • 1800 quilômetros de ferrovias brasileiras; 
  • 41 bilhões de toneladas de minério de ferro; 
  • 994 milhões de toneladas de minério de cobre; 
  • 678 milhões de toneladas de bauxita; 
  • 67 milhões de toneladas de caulim; 
  • 72 milhões de toneladas de manganês; 
  • 70 milhões de toneladas de níquel; 
  • 122 milhões de toneladas de potássio; 
  • 9 milhões de toneladas de zinco; 
  • 1,8 milhão de toneladas de urânio; 
  • 1 milhão de toneladas de titânio; 
  • 510 mil toneladas de tungstênio; 
  • 60 mil toneladas de nióbio; 
  • 563 toneladas de ouro;
  • 580 mil hectares de florestas replantadas, com matéria-prima para a produção de 400 mil toneladas/ano de celulose. 

Um dia antes do leilão, Fernando Henrique Cardoso afirmou que existia um sentimento “tosco” (rude, grosseiro) aos que se opunham à venda da Vale do Rio Doce e disse que a batalha jurídica em torno da privatização não adiaria o leilão. “Essas pessoas têm um sentimento um pouco tosco e não entendem o significado do que está sendo feito, que foi um ato democrático”, afirmou o então presidente, em 28 de abril de 1997.

Para o sociólogo neoliberal, estava ocorrendo era uma “batalha política” na Justiça para impedir o leilão. “Sempre foi assim. Foi assim com a CSN, até mais agressivo. Mas não se vai mudar a data do leilão.” Segundo Fernando Henrique, o fato de o país ter origem ibérica facilitava a disseminação da ideia de que o “mundo parece vir abaixo”: “Não vem abaixo”. 

Mas já veio abaixo, várias vezes, para centenas de brasileiros! 

Irmã Luciana Rzepka, SSpS – Professora universitária, educadora, teóloga, bióloga, palestrante, pós-graduada em Ciências da Religião, mestranda em Teologia Bíblica.

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Maria Inês C. Preza Freitas – Professora universitária, educadora, escritora, jornalista, filósofa, palestrante, pós-graduada em Ciências da Religião, Filosofia do Ensino Religioso e Filosofia Clínica; mestra e doutoranda em Filosofia Política e pesquisadora em Filosofia da Psicanálise. 

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