Possibilidade de mudar de rumo

“Vigiai, portanto, porque não sabeis quando o senhor da casa voltará: à tarde, à meia-noite, ao cantar do galo, ou de manhã, para que, vindo de improviso, não vos encontre dormindo” (Mc 13,35-36).

As primeiras comunidades cristãs enfrentaram a crise pelo retardamento da Parusia. Nesse cenário, a parábola do porteiro nos narra que o dono da casa partiu para uma longa viagem, mas, antes, dividiu entre os servos a responsabilidade de cuidar de sua casa e ao porteiro deu a ordem de permanecer vigiando.

Porém, na parábola, a quem endereçou Jesus o apelo à vigilância? No Horto das Oliveiras, antes de ser feito prisioneiro, Jesus pediu aos apóstolos: “Permanecei aqui e vigiai”, “Vigiai e orai para não entrar em tentação” (cf. Mc 14,34.37). Nesse marco, compreende-se que Ele se dirigiu aos discípulos. Porém poderia estar dirigindo-se também aos que se consideravam os donos da salvação (cf. Mt 23,13; Lc 11,52). Entretanto, quem quer que tenham sido os destinatários, o fato é que a mensagem se insere num contexto de crise e, por isso, de possibilidade de mudar de rumo.

Nós, os cristãos de hoje, também somos esses servos da parábola, chamados a cuidar de nossa Casa Comum. As responsabilidades variam, mas é de todos a missão de fomentar a cultura do encontro e do serviço à humanidade, especialmente à humanidade pobre e fragilizada.

A ordem de manter-se despertos e vigilantes até a Parusia do Senhor Jesus é também para nós. Pois facilmente caímos no perigo de habituar-nos à nossa própria comodidade, e a rotina acaba por nos adormecer. Quando isso sucede, traçamos agendas e compromissos, ativando o piloto automático. Dessa forma, o mecânico toma conta de nosso cotidiano e nos esvazia da autenticidade fundamental.

O olhar crítico da parábola, “Vigiai, portanto…”, convida-nos a romper com o conformismo e abrir-nos à liberdade e à criatividade de quem vive na espera ativa da volta do seu Senhor (a Parusia).

“Vigiai!” para que o dono da casa, “vindo de surpresa, não vos encontre dormindo”. Na vinda do Senhor, ficará evidente se fostes dignos de confiança vivendo da misericórdia, da compaixão do perdão e da justiça, ou se fostes indignos por terdes vivido do poder, da indiferença e conformismo. Não é que Deus seja severo, a questão está em nós que, ao nos adequar aos sistemas desumanos, estamos sendo contrários à vida plena que Deus quer para todos. Por isso Jesus nos oferece, pelo alerta da parábola, a possibilidade de mudar de rumo.

Irmã Juana Ortega, SSpS, é teóloga especializada em Bíblia. Nasceu no México, trabalhou em Moçambique e, atualmente, além de animadora vocacional, acompanha as jovens aspirantes na Comunidade Madre Josefa, em Belo Horizonte-MG.

Referência bibliográfica

JEREMIAS, Joachim. As parábolas de Jesus. Tradução de João Rezende Costa. 11. reimp. São Paulo: Paulus, 2017.