12º Domingo do Tempo Comum

“Quem é este homem?”
Marcos 4,35-41

Esse texto está situado na primeira parte do Evangelho, na qual Marcos procura demonstrar que as autoridades religiosas da época, os próprios parentes de Jesus e seus discípulos não o compreendiam, apesar de verem suas obras e milagres (Marcos 1,19-8,21). Toda essa primeira parte do Evangelho prepara o chão para a pergunta fundamental do Evangelho: “E vocês, quem dizem que eu sou?”. Por isso a história hoje relatada leva os discípulos a se perguntarem: “Quem é este homem?”.

A história do evento no mar de Galileia retrata simbolicamente a situação da comunidade marcana, pelo ano 70, quando o Evangelho foi escrito. A comunidade está vacilando na fé, assolada por dúvidas e até perseguições. Diante do cansaço da caminhada, muitos se refugiaram na busca de uma religião de milagres, sem o esforço de seguir Jesus até a Cruz. Por isso Marcos insiste que os milagres não são suficientes para conhecer Jesus, pois as autoridades, os familiares e os discípulos os presenciaram e, mesmo assim, não chegaram a entender nem a pessoa nem a proposta do Senhor.

O barco no lago, assolado pelos ventos e ondas, representa a comunidade dos discípulos, prestes a afundar-se por causa das dificuldades da caminhada. Jesus dorme no barco e parece não se preocupar com o perigo. Assim, para a comunidade marcana, parecia que Jesus não estava ligado aos seus sofrimentos e, como consequência, vacilavam na sua fé. Mas Jesus acalmou o mar e ainda questionou a pouca fé dos Doze: “Por que vocês são tão medrosos? Vocês ainda não têm fé?” (versículo 3). Assim Marcos quis mostrar aos leitores de seu tempo que Jesus estava com eles nas dificuldades e que sua falta de fé estava causando grande parte das dificuldades que estavam enfrentando.

Hoje, em muitos lugares, a Igreja parece como a igreja marcana ou ainda como o barco no mar. Diante das desistências, do secularismo, da diminuição de sua influência, para muitos, a Igreja está se afundando. Em lugar de assumir o doloroso seguimento de Cristo até a Cruz, muitos se refugiam em uma religiosidade de milagres, assim fugindo da penosa tarefa de construir o Reino de Deus entre nós. Até diante da pessoa e da mensagem do Papa Francisco, muitos simpatizam com ele como pessoa, mas permanecem surdos a seus apelos em favor de um seguimento autêntico do Salvador.

Marcos vem corrigir essa ideologia triunfalista de suas comunidades e nos convida a aprofundar a nossa fé, a clarear para nós mesmos e para o mundo “quem é este homem”, e a segui-lo no dia a dia. Pois Jesus não está alheio às nossas dificuldades. Pelo contrário, Ele está no meio de nós. Só que não nos livra da tarefa de nos engajarmos na luta pelo Reino, mesmo que as ondas e os ventos estejam contrários. Ter fé nele não é somente acreditar que Ele exista e seja Filho de Deus, mas tomar nossa cruz e segui-lo, na certeza de que Ele não nos abandonará. Ressoa para nós hoje a pergunta de dois mil anos atrás: “Por que são tão medrosos? Ainda não têm fé?”.

Padre Tomaz Hughes, SVD, biblista e assessor da CRB e do Cebi. Dedicou-se a cursos e retiros bíblicos em todo o Brasil. Publicou diversos artigos e o livro “Paulo de Tarso: discípulo-missionário de Jesus”. Faleceu em 15 de maio de 2017. Suas reflexões bíblicas são muito atuais.

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