15º Domingo Comum

“Quem tem ouvidos para ouvir ouça”
Mt 13,1-23

Com o texto de hoje, entramos no capítulo 13 de Mateus, que, estruturalmente, é o centro do Evangelho. Tudo se concentra no ponto central da mensagem de Jesus: o Reino de Deus, que continua algo misterioso (v. 11). O capítulo consiste de sete parábolas (as parábolas do Reino) e alguma explicação delas. O trecho de hoje nos relata a parábola que é conhecida como a do semeador (embora o texto enfatize mais a semente), junto com uma explicação de seu sentido.

O que é uma parábola? Um exegeta, C. H. Dodd, deu a seguinte definição: “Parábola: uma metáfora tirada da vida diária ou da natureza, que chama a atenção do ouvinte pelas imagens vivas ou estranhas, e que o deixa com dúvida suficiente sobre o seu sentido exato, para que seja estimulado a refletir por si mesmo”. A parábola de hoje usa imagens conhecidas na Palestina rural de então (a semeadura) e, em sua forma original, não trazia explicação. Terminava com o desafio de Jesus para que os ouvintes aprofundassem por si mesmos o seu sentido: “Quem tem ouvidos para ouvir ouça”.

Para entender as imagens, é bom lembrar que, na Palestina antiga, jogava-se a semente antes de arar a terra. Por isso alguma semente caía nas picadas que atravessavam os campos “à beira do caminho”; outra parte seria logo queimada pelo sol terrível do país; outra parte, comida pelas aves; outra parte perdida, porque a terra era rala e cheia de ervas daninhas. Mas uma parte cairia em terra fértil, que dava frutos, conforme a sua possibilidade.

Provavelmente a explicação dada nos versículos 18 a 23 nasceu mais tarde, durante a catequese da Igreja primitiva. Assim, no início, podemos supor que o semeador era Deus, Jesus, ou um emissário deles; a semente seria a Palavra de Deus; e os tipos diferentes de solo, as respostas diferentes dos ouvintes. Alguns deixam o fascínio do mal, em suas diversas formas, roubar a semente; outros acolhem a Palavra, mas de uma maneira superficial, e não demora muito para que ela se torne infrutífera em suas vidas. Outros aceitam a revelação divina, mas a colocam em segundo plano, enquanto correm atrás das riquezas de um mundo consumista. Relegando assim Deus e seu projeto, fazem com que a religião se torne algo de fachada, que em nada ajuda o Reino a crescer. Mas a finalidade da história é de dar esperança. Embora haja muitos fracassos, em última instância, o trabalho do semeador dá certo: sempre há pessoas que recebem com entusiasmo a Palavra, e suas vidas, baseadas na fé viva, dão muitos frutos. Não é necessário que todos deem frutos iguais, mas que todos deem conforme suas possibilidades, cem, sessenta e trinta por um.

Depois de 2 mil anos de semeadura, cabe perguntar sobre os frutos da semeadura em nossa sociedade, dita cristã. Depois de 500 anos das Igrejas no Brasil, será que o solo (nós, cristãos) tem dado os frutos de uma sociedade justa e fraterna, conforme o desejo de Deus? Estamos sendo, individualmente e comunitariamente, que tipo de solo? Deixamos a semente penetrar no solo de nossos corações, ou deixamos a semente na superfície, como a que caiu à beira do caminho? Ou a aceitamos pela catequese sacramental e a tradição familiar, sem aprofundá-la, ficando numa prática estéril para manter aparências e tradição, mas que não afeta em nada a sociedade? Ou deixamos os espinhos modernos (as tentações de uma sociedade materialista, consumista, de competitividade) sufocar as reações de fraternidade e solidariedade que devem marcar os que acolhem a Palavra? Ou, com a graça de Deus, procuramos ser solo fértil, onde a fertilidade inerente na semente possa brotar em frutos de bondade e justiça, conforme as nossas possibilidades, deixando acontecer o que profetizou Segundo Isaías: “Assim acontece com a minha Palavra que sai de minha boca: ela não volta para mim sem efeito, sem ter realizado o que eu quero e sem ter cumprido com sucesso a missão para a qual eu a mandei” (Is 55,11). O semeador é Deus, a semente é boa, mas que tipo de solo sou eu, somos nós? “Quem tem ouvidos para ouvir ouça!”

Padre Tomaz Hughes, SVD, biblista e assessor da CRB e do Cebi. Dedicou-se a cursos e retiros bíblicos em todo o Brasil. Publicou diversos artigos e o livro “Paulo de Tarso: discípulo-missionário de Jesus”. Faleceu em 15 de maio de 2017. Suas reflexões bíblicas são muito atuais.

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