“Muitos são chamados, e poucos são escolhidos”
Mt 22,1-14
Hoje refletimos sobre a terceira parábola de uma trilogia sobre a rejeição ou a aceitação do convite ao Reino de Deus e às suas obras: a dos dois filhos (21,28-32), a da vinha (21,33-44) e a de hoje: as bodas (22,1-14). Mais uma vez, as palavras de Jesus se dirigem aos chefes dos sacerdotes e anciãos, ou seja, aos que dominavam o sistema religioso vigente e que oprimia o povo de Israel.
A imagem usada é de uma festa oriental de casamento: o do filho de um rei. Mas, no texto de hoje, a ênfase não cai no filho, mas na atitude dos convidados. Cumpre lembrar que, muitas vezes, na Bíblia, a festa de bodas é símbolo da união alegre e definitiva de Deus como seu povo. Os convidados que não dão valor ao chamado são aqueles que se apegam ao sistema opressor para defender os próprios privilégios e assim rejeitam a mensagem libertadora da “justiça do Reino” de Jesus, mesmo que isso implique o assassinato de profetas.
O versículo 7 é provavelmente um acréscimo feito depois da destruição de Jerusalém pelos romanos, no ano 70 d.C., quando a parábola teria recebido sua forma definitiva. O texto correspondente de Lucas não traz esse detalhe.
O novo povo de Deus será aberto a todos os que foram marginalizados pelo sistema antigo, dominado pelos sumos sacerdotes e anciãos. Esse é o significado de ir às encruzilhadas dos caminhos, onde se conglomeravam os marginalizados e rejeitados. Todos, bons e maus, são convidados para o banquete do Reino. Assim, o texto enfatiza a misericórdia de Deus, que congrega em sua comunidade não somente os “bons”, mas também os pecadores.
De novo, o texto nos traz uma advertência contra a complacência: quem não tem o traje adequado será expulso da festa messiânica. Esse traje é o da “justiça”, tema tão caro a Mateus. Não basta sermos convidados, temos de responder com as obras da justiça do Reino. O convite é universal, mas exigente, urge a conversão de todos. Como os antigos chefes perderam o lugar no banquete do Reino, nós também poderemos sofrer o mesmo destino se não procurarmos viver os valores do Reino, com as suas obras de justiça e solidariedade. O último versículo, “porque muitos são chamados, e poucos são escolhidos”, nos adverte que muitos são chamados, mas que nem todos perseveram, e assim perdem o lugar.
Padre Tomaz Hughes, SVD, biblista e assessor da CRB e do Cebi. Dedicou-se a cursos e retiros bíblicos em todo o Brasil. Publicou diversos artigos e o livro “Paulo de Tarso: discípulo-missionário de Jesus”. Faleceu em 15 de maio de 2017. Suas reflexões bíblicas são muito atuais.Pe. Tomaz Hughes, SVD