33º Domingo do Tempo Comum

“O céu e a terra passarão, mas minhas palavras não passarão”
Marcos 13,24-32

O texto deste domingo nos apresenta diversas dificuldades de interpretação, pois está saturado com conceitos apocalípticos, referências veladas a possíveis eventos históricos e outras tiradas de escritos do tempo do Antigo Testamento, muitas das quais desconhecidas para nós. Porém sua mensagem central fica clara: o triunfo final do Filho do Homem, mandado por Deus para estabelecer seu Reino. A linguagem veterotestamentária de sinais cósmicos, a figura do Filho do Homem e a reunião dos eleitos de Deus são unidas em um contexto novo, em que a vinda escatológica de Jesus como Filho do Homem se torna o evento central. Sua vinda gloriosa, no fim dos tempos, servirá como prova da vitória de Deus, e a expectativa dessa chegada serve como base da vigilância paciente recomendada aos discípulos ao longo de todo o Discurso Escatológico de Marcos.

Os sinais cósmicos que antecederão o fim fazem referência a textos do Antigo Testamento: Isaías 13,10, Ezequiel 32,7; Amós 8,9; Joel 2,10.31; 3,1-5; Isaías 34,4; Ageu 2,6.21. Mas em nenhum lugar no Antigo Testamento se refere à vinda do Filho do Homem, é uma novidade do Evangelho. A lista desses sinais é uma maneira de dizer que toda a criação assinalará sua vinda final. A descrição da chegada do Filho do Homem, rodeado das nuvens, é tirada do livro de Daniel 7,13, mas aqui se refere claramente a Jesus e não à figura angélica “em forma humana” do livro apocalíptico de Daniel. A ação de Jesus em reunir os eleitos é o oposto de Zacarias 2,10. Esse reunir-se dos eleitos de seu povo por parte de Deus se encontra em Deuteronômio 30,4; Isaías 11,11.16; 27,12, Ezequiel 39,7, etc., mas nunca, no Antigo Testamento, é o Filho do Homem que faz esse trabalho.

A segunda parte do texto consiste em uma parábola (versículos 28 e 29), um ditado sobre a hora do fim (vers. 30), sobre a autoridade de Jesus (vers. 31) e, de novo, sobre a hora (vers. 32). Nem sempre fica claro a que se refere. O que se fala sobre essas coisas acontecerem “nessa geração” tem como contrabalanço o vers. 32, que diz que somente Deus sabe a hora exata. A parábola sobre os sinais claros da chegada do fim (vers. 28 e 29) tem em contraposição a parábola da vigilância constante (vers. 33 a 37). Mas continua clara a mensagem básica: a vitória final do projeto de Deus, concretizada através de Jesus, o Filho do Homem. Mas a certeza dessa vitória não dispensa a atitude de vigilância constante por parte dos discípulos, para que não se desviem do caminho.

Pode parecer confuso nosso texto (e para nós, hoje, de uma certa forma, o é), mas, inserido no contexto do Discurso Escatológico (referente aos tempos finais) do Evangelho, traz a nós uma mensagem de esperança e uma advertência. A esperança nasce do fato de que a vitória de Deus é garantida, um elemento fundamental em todo apocaliptismo. A advertência está na necessidade de vigilância constante, para que não percamos a hora do Filho. Em um mundo de desesperança e falta de ânimo por parte de muitos, o texto convida nós, os discípulos, a uma atitude positiva que nos leva a um engajamento maior em prol da construção do Reino entre nós. Mas também nos desafia a estarmos sempre vigilantes para não sermos cooptados pela sociedade vigente, opressora e consumista, que, muitas vezes, baseia-se em princípios contrários aos do Reino de Deus. As palavras de Jesus têm um valor permanente, para que possamos julgar as diversas propostas de vida que o mundo nos apresenta. “O céu a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão.”

Padre Tomaz Hughes, SVD, biblista e assessor da CRB e do Cebi. Dedicou-se a cursos e retiros bíblicos em todo o Brasil. Publicou diversos artigos e o livro “Paulo de Tarso: discípulo-missionário de Jesus”. Faleceu em 15 de maio de 2017. Suas reflexões bíblicas são muito atuais.

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