O fenômeno da migração cresceu tanto no Brasil como no mundo que se tornou um forte apelo missionário para a Congregação, especialmente diante dos inúmeros sofrimentos e dificuldades que os migrantes enfrentam até se integrarem em sua nova terra.
Em São Paulo-SP, as missionárias servas do Espírito Santo, ao escutarem as necessidades dos migrantes da região do Brás, deram início ao Centro de Integração do Migrante (CIM). Atualmente, o espaço oferece atividades educativas e culturais para crianças, adolescentes, jovens e adultos. A seguir, publicamos o depoimento de Lucélia Arrioja, imigrante venezuelana que trabalha no CIM como coordenadora de projetos sociais.
O CIM ajuda a acalmar as angústias e a diminuir as dores
O Centro de Integração do Migrante (CIM), localizado no bairro do Brás, na cidade de São Paulo-SP, funciona desde 12 de dezembro de 2015. Apareceu como uma luz no caminho dos migrantes que chegamos ao país, procurando uma mão amiga, entre tanto cansaço, angústia e momentos difíceis que passamos desde que decidimos começar a viagem até aqui.
Nesse sentido, as pessoas que pensaram, criaram e materializaram o projeto trabalharam, dia após dia, com persistência, dedicação, humildade e, sobretudo, uma grande sensibilidade pelo próximo que não necessitava de palavras, porque, pelo olhar, o ouvir e o manter os braços abertos diante de qualquer circunstância, conseguiram ajudar a acalmar as angústias e diminuir as dores. E esse jeito de tratar as pessoas como seres humanos que são fez uma grande diferença que tocou no coração de muitas outras que eram cegas e surdas diante dessa realidade. No percorrer dos anos, multiplicou-se com o envolvimento e apoio de voluntários e pessoas da comunidade, convertendo-se em um espaço alternativo onde todas as pessoas são bem recebidas sem importar raça, cor, religião ou cultura.
No entanto, não foi uma tarefa fácil, porque, como migrantes, sejamos de outros países ou dentro do Brasil mesmo, sofremos preconceitos. Muitas pessoas nos olham como ameaças e outras tantas se aproveitam de nossas necessidades e nos exploram com trabalhos forçados ou de muitas horas de duração. Porém o CIM tenta quebrar esses flagelos que nos afetam, usando a educação combinada com diferentes atividades que envolvem crianças, adultos e idosos.
Nosso CIM, como muitas pessoas gostam de chamá-lo, veio para transformar a vida de todo aquele que passa ou faz parte dele, porque, em sua essência, tem como premissa proteger, integrar, promover e, sobretudo, acolher a todos e todas. Mas se esforçam para nos empoderar, por meio de cursos livres de capacitação, que nos ajudam a ter outras ferramentas tanto acadêmicas quanto espirituais para nos manter fortalecidos e sentindo que não estamos sozinhos em nossa caminhada nesta metrópole.
No meu caso particular, eu considero o Centro como minha segunda casa e as irmãs e companheiros como parte dessa família que formamos baseada num vínculo que nos une, traduzido pelo amor que temos uns aos outros e que nos permitiu avançar nesta caminhada que empreendemos há pouco mais de dois anos, desde que saímos da Venezuela. E aconteceu porque, quando chegamos aqui, neste espaço, fomos acolhidos com tanto carinho e com uma “sorofraternidade” que jamais esqueceremos e que, para sempre, agradeceremos. Cada uma das irmãs e professoras(es) que já passaram ou que ainda se encontram trabalhando no CIM terão um lugar muito especial em nossos corações, como tenho a certeza de que estarão nos corações de outros tantos migrantes que estão no Brasil ou que já continuaram sua viagem.
A mística de trabalho que aqui se tem faz com que cada vez somemos mais pessoas a participarem ativamente na criação de novos projetos ou na permanência e melhoria dos que já estão sendo executados. Para nós, isso é motivo de alegria e satisfação, porque é um resultado positivo que nos indica que estamos no caminho certo e que, para além dos tropeços, temos a convicção de estar colaborando, a partir de nosso CIM, para a construção de um Brasil melhor para todos os que aqui já vivemos e também para os que vêm chegando.
Para finalizar, é importante mencionar que, nos últimos dois anos em que trabalhei nesta instituição, sinto muito orgulho, junto com os meus colegas, pelo fato de ter atendido muitas pessoas que enriqueceram o espaço com sua sabedoria e diversidade cultural.
Lucelia del Valle Briceño Arrioja
Coordenadora de projetos sociais do CIM