A arte como resistência: o centenário da Semana de Arte Moderna

Quem não gosta de ouvir música? Assistir a um filme? Ler um livro? Quando foi a última vez que você visitou um ateliê de pintura ou um museu de belas-artes e contemplou obras-primas?

A arte faz parte da existência humana. O filósofo alemão Nietzsche (1844-1900) afirmou que “a arte é o grito de liberdade do ser humano”. Ela é a forma de expressarmos, de várias formas, nossas angústias e sentimentos, seja pela poesia ou pela pintura, pela escultura ou pela fotografia, ou pela escultura, por um filme ou coreografia.

Toda cultura sempre tem presente a arte, tanto no domínio religioso quanto no profano. Recorre a técnicas com o fim de elaborar a visão do mundo em que vivemos, criando o belo. Nesse sentido, a estética passou a analisar o sentido, a sensibilidade, o espírito presente nas obras-primas.

Enquanto, no Período Moderno, o espírito encarnava-se na arte romântica, no século XIX, de acordo com o filósofo Hegel (1770-1831), o conceito de beleza dependeria de mudanças culturais. O desafio, então, era apresentar a realidade brasileira para o mundo. Neste ano em que comemoramos o centenário da Semana de Arte Moderna, podemos refletir um pouco sobre a importância desse movimento em nosso país, apreciando algumas obras.

A identidade e a nacionalidade brasileira foram muito bem retratadas por vários artistas, como o quadro de Tarsila do Amaral acima, além das obras de Anita Malfatti, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Victor Brecheret, Graça Aranha, Menotti Del Picchia, Guilherme de Almeida, Heitor Villa-Lobos, Di Cavalcanti e outros. Destacaram a passagem da economia rural do café para a indústria, a realidade do êxodo, da seca, do morro, do samba, da miscigenação, enfim, de vários cenários sociais, culturais, religiosos e também questões políticas.

A arte tem a preocupação de retratar, por meio de traços criativos, situações-problemas e demonstrar a resistência de um povo que trabalha. Segundo Cassiano Cordi, “A missão do artista é criar (o belo, o feio, o trágico…)”.

Para alguns estudiosos da arte, há três problemas que fazem parte no campo de investigação da estética: a relação entre arte e a natureza, da arte com o homem e a função da arte. Para que serve a arte?

Na relação entre arte e natureza, há três concepções: 1) da reprodução, da imitação que o ser humano vê a partir do objeto observado; 2) com o Romantismo, a arte parte da criatividade, originalidade do artista, a obra independe da natureza e passa a exprimir sentimentos do artista; 3) por último, a arte resulta das relações do artista com a natureza e de sua experiência com o estar no mundo, desvela a realidade e constrói um sentido novo para sua obra contemporânea (como exemplo, a obra que está acima). Novas formas artísticas surgiram, como o grafite, que também tem demonstrado a diversidade.

Com a pandemia, a arte, mais do que nunca, passou a ser necessária para as famílias, as pessoas, mesmo sendo por meio da internet. Mas, infelizmente, nem todos os brasileiros têm acesso à arte por não terem acesso às mídias, geralmente restringem-se a programas de tevê. Essa situação contraria o artigo XXVII da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que estabelece o direito de todos terem acesso à cultura. É dever do Estado proporcionar à população eventos culturais e promover momentos de entretenimento. Embora muitas verbas foram cortadas pelo governo, os artistas sobrevivem recriando a realidade, denunciando, pela arte, o mundo em que vivemos.

Marilena Chauí diz sobre a arte: “A arte é revelação e manifestação da essência da realidade, amortecida e esquecida em nossa existência cotidiana, reduzida a conceitos nas ciências e na filosofia, transformada em instrumento na técnica e na economia”.

Pesquise, aprecie, relembre a Semana da Arte Moderna que ocorreu em 1922. Conheça os artistas da época e descubra o quanto combatiam o preconceito, o racismo, a desigualdade. Valorize os artistas de rua, na internet, de circo, enfim, arte é resistência.

Maria Terezinha Corrêa
Mestra em Antropologia, especialista em Ensino de Filosofia, graduada em Filosofia e Pedagogia, cursou Teologia pelo Mater Ecclesiae, filiada à ABA, APEOESP e SBPC, atualmente, professora de Filosofia na Prefeitura de São José-SC, membro da Comissão da ALESC de Prevenção e combate à tortura, voluntária na Pastoral da Pessoa Idosa, ligada à Arquidiocese de Florianópolis, membro da diretoria da Aproffib (Associação de Professores de Filosofia e de Filósofos do Brasil).

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