A diversidade nos enriquece, e o respeito nos une
Durante o ano de 2021, todas as escolas de nossa Rede de Educação Missionárias Servas do Espírito Santo terão como tema transversal “A diversidade nos enriquece, e o respeito nos une”. Esse será o pano de fundo de todas as nossas ações pedagógicas e marca também como reflexão para que toda a nossa comunidade educativa, alunos, educadores e familiares, possa repensar nossas atitudes diante desse mundo tão plural que vivemos e, assim, trabalhemos na construção de uma sociedade mais justa e fraterna. Além disso, aproveitamos também o mês de maio para conversarmos sobre esse tema. No dia 21, celebramos mundialmente o Dia da Diversidade Cultural para o Diálogo e Desenvolvimento.
Falar sobre a diversidade é uma tarefa complexa, já que, aos olhos da Antropologia Teológica, todo ser humano é único e irrepetível diante Deus. Cada um, cada uma é parte de um todo que foi pensado e amado por Deus. Fomos criados à sua imagem e semelhança, e, por isso, chamados a viver no e por amor.
Nessa lógica, podemos intuir que a diversidade existe desde que a primeira espécie humana (Homo erectus) surgiu neste planeta, há 2 milhões de anos. De acordo com as mais recentes descobertas, o Homo sapiens conviveu com alguns dos seus antepassados, dando mais ênfase a esse convívio diverso.
A diversidade está presente em nosso cotidiano, 24 horas por dia. Está em nossas casas, em nossas escolas, em nossos trabalhos e em nossas igrejas. É de suma importância compreender que nossas diferenças nos ajudam a sermos melhores, nos enriquecem e nos tornam mais capazes de construir um mundo mais solidário. Devemos olhar nossas crianças, e digo as menores mesmo, pois, para elas, não existe preconceito, diferenças… Elas convivem de maneira harmônica em nossas salas de aula. Quem trabalha com a educação infantil pode nos ajudar nessa reflexão, mas, conforme o crescimento e as informações que vão recebendo, ou não, essas diferenças vão se tornando obstáculos quando não são bem elaboradas internamente.
Jesus, em sua missão, encontrou diversas pessoas, de variadas etnias, opiniões, jeitos de ser, e sua postura foi única: O AMOR, trazendo com ele a misericórdia e a compaixão que derrubam barreiras e preconceitos. Basta olhar o grupo dos doze apóstolos, composto por uma diversidade de pessoas. Em nenhum momento, incitou a violência, de espécie nenhuma, mas acolheu todos aqueles que dele se aproximavam.
Isso posto, vamos pontuar alguns aspectos mais específicos da diversidade que desejamos ressaltar. Ao olharmos nosso entorno ou até mesmo quando vemos dados de pesquisas oficiais, fica claro que nossa sociedade é diversa. Geralmente, tende-se a pensar que o modo como lidamos com a diversidade é um assunto já superado e compreendido pela maior parte da sociedade. Mas, ao nos depararmos com as questões que envolvem a diversidade sexual e as dimensões da sexualidade, ainda há caminhos que geram dúvidas e preconceitos.
De início, é preciso entender que a sexualidade vai além do conceito biológico do sexo e atrelado ao processo reprodutivo. Ela é algo particular, estando relacionada ao gênero, à identificação das pessoas dentro das possíveis identidades de gênero, ao envolvimento emocional com outras pessoas e consigo próprias. É também uma questão cultural, já que, por ela, são estabelecidos vínculos afetivos e é pautada em padrões criados por grupos de pessoas e valores construídos em cada sociedade. Por conta de toda essa rede de relações (biológica, sociocultural, afetiva e ética), ela deve ser vista e estudada segundo suas várias dimensões e deve ser respeitada e levada a sério.
Para que essa compreensão e respeito sejam colocados em prática, é preciso que alguns termos vinculados a essa temática sejam entendidos. Sempre que nos referimos ao sexo biológico, estamos falando da distinção entre macho e fêmea. Porém não devemos confundir o sexo biológico com a identidade de gênero, que se refere ao gênero com o qual o indivíduo se identifica. Desse modo, ser do sexo masculino é ter cromossomos XY; por outro lado, ser do gênero masculino é identificar-se com esse gênero. Embora sexo e gênero tenham uma forte correlação, nem sempre eles são coincidentes. Dentro desse contexto, uma pessoa cisgênero é aquela cuja identidade de gênero coincide com seu sexo biológico, enquanto uma pessoa transgênero é aquela que sua identidade de gênero não coincide com o sexo biológico. Há ainda as pessoas que não se identificam com nenhum dos dois gêneros ou com os dois.
Existe ainda o que chamamos de orientação sexual, que é como se caracteriza o desejo sexual predominante de uma pessoa: se é por pessoa de gênero diferente (heterossexual), igual (homossexual) ou de mais de um gênero (bissexuais ou pansexuais). Muitos outros termos existem dentro desse guarda-chuva, mas esses são os mais populares.
A discussão sobre sexualidade se torna cada vez mais importante, uma vez que jovens passam por situações de transtorno psicológico por não se entenderem/aceitarem ou não serem aceitos por outros, além de várias situações de preconceito que ainda são vistas e vividas em um país como o nosso, onde, teoricamente, temos a liberdade para viver a sexualidade do modo que nos convier. Compreender as dimensões da sexualidade é fazer com que ela não faça qualquer pessoa perder seus valores, sua atividade e sua vida.
Em janeiro de 2015, o Papa Francisco recebeu Diego Neria Lejárraga, espanhol de 48 anos. Diego, que nasceu mulher, mas sempre se sentiu homem, tinha escrito ao Papa para pedir-lhe apoio diante da rejeição e da incompreensão que sofre por parte de seus conhecidos e até mesmo de religiosos quando vai à igreja, por conta de sua mudança de sexo. Durante seu encontro, perguntou ao Santo Padre se havia lugar para ele na casa de Deus. Como resposta, recebeu um abraço. Ao sair do encontro, Diego disse sentir uma imensa paz.
É, portanto, imprescindível que seja parte de nossas atitudes diárias promover o acolhimento a todos a nosso redor, independentemente de suas características físicas, étnicas, culturais, religiosas ou sexuais, e que tenhamos em mente que, dentro da sociedade inclusiva que queremos construir, devemos reforçar e praticar a adoção do respeito e tolerância.
Fabiana Rua Cunha Bernardo e Alexandre Britto
Colégio Imaculado Coração de Maria, Rio de Janeiro-RJ