Sempre que pensamos na formação básica de nossos jovens e crianças, automaticamente projetamos em nossa imaginação esse momento dentro de uma sala de aula. O fato é que, atualmente, com as necessidades cada vez mais emergentes em nossa sociedade tão fragilizada, a educação precisa sair, e sobretudo agir, para além dos muros da escola. Essa ação, muitas vezes, deve acontecer em ambientes bem diferentes daqueles cenários clássicos com carteira, giz e apagador.
Proporcionar ao estudante a sensação de ser um verdadeiro agente de transformação no mundo é também uma responsabilidade dos educadores e da escola do futuro. O problema é que esse futuro já bate à porta, com cenas bem reais e atuais, nos cobrando ações rápidas e eficazes.
Como então levar a escola a enxergar os problemas que nos cercam fora dela? Mesmo que esse educador de um futuro tão presente ensine matemática, é possível trazer para perto realidades que aos estudantes sejam distantes, por exemplo, a má distribuição de alimentos ou até mesmo o desperdício desordenado desses alimentos. E por que não visitar uma feira livre com a intenção de conscientizar as pessoas de uma economia doméstica que não abra espaço ao desperdício e possa, de várias maneiras, colaborar com a alimentação de centenas de pessoas que vivem, à própria sorte, nas ruas dos grandes centros urbanos?
A educação tem a grandeza de transformar vidas pelo conhecimento ou pelo simples fato de nos mostrar que, sozinhos, não há a possibilidade de aprender e de ensinar nada; esse movimento precisa ser coletivo. Particularmente, tenho tido a experiência de acompanhar os alunos do nono ano do Colégio Espírito Santo, em São Paulo-SP, a visitas semanais ao Centro de Integração do Migrante (CIM), também na capital paulista. Essa experiência tem sido enriquecedora aos estudantes, sobretudo por terem a oportunidade de vivenciar realidades tão distintas daquelas que estão acostumados em seu dia a dia.
No contato com as crianças atendidas diariamente no CIM, os estudantes estão desenvolvendo, junto da equipe pedagógica, atividades lúdicas e reflexivas com essas crianças. Dessa maneira, modificam não apenas a vida dos pequenos, mas também suas próprias realidades. Quando o estudante retorna de uma visita e, em casa, junto da família, partilha sua experiência, suas visões e sua reflexão pessoal, ele multiplica, dentro do próprio lar, essa ação missionária. Muitas vezes, isso faz com que ela se amplie ainda mais e de diversas outras maneiras. Assim também ocorre nos corredores da escola, onde os estudantes comentam entre si as experiências vividas e planejam, em conjunto, outras ações transformadoras.
A semente da solidariedade pela educação, dentro e fora do ambiente escolar, precisa ser plantada e cultivada, para que possa florescer, daqui a um tempo, uma realidade tão clássica na sala de aula como o giz e o apagador. Oxalá podermos contemplar a transformação do mundo a partir do coração puro e generoso das crianças e jovens que vivenciam sua formação humana e acadêmica.
Thiago Wolf Raimundo
Professor de Ensino Religioso no Colégio Espírito Santo, em São Paulo-SP.