A Fazenda da Esperança é uma comunidade terapêutica presente na Ásia, África, América e Europa. Desde 1983, a entidade apoia a recuperação de pessoas que buscam a libertação de seus vícios, principalmente do álcool e da droga. Fundada pelo Frei Hans Stapel, OFM, seu método de acolhimento contempla três aspectos determinantes: o “trabalho” como processo pedagógico, a “convivência” em família e a “espiritualidade” para encontrar o sentido da vida.
Em diálogo com dois jovens que fizeram a experiência da Fazenda da Esperança, apresentamos seus depoimentos que deixam clara a importância da espiritualidade na transformação e no processo de reconstrução. Veja a seguir.
André Luiz: colocar em prática os propósitos
“Meu nome é André Luiz e tenho 36 anos. Sofri com problemas de álcool e drogas por dez anos da minha vida, quando cheguei ao fundo do poço. Foi minha família que me apresentou a Fazenda da Esperança. Confesso que fui para o tratamento sem acreditar em minha recuperação; mesmo assim, eu fui. Chegando lá, comecei a entender os propósitos e decidi colocar em prática. Logo vi, junto com meus familiares, a mudança acontecendo. Na Fazenda da Esperança, vivemos o tripé que consiste em trabalho, espiritualidade e convivência, os três em equilíbrio. Para viver nossa espiritualidade, temos missa diariamente, rezamos o terço logo pela manhã, adoração ao Santíssimo todos os sábados e somos convidados a viver uma frase tirada da Bíblia todos os dias, para colocá-la em prática, como este exemplo sobre a compaixão:
‘Jesus encheu-se de compaixão’ (Mc 1,40-45)
Ter compaixão é, de certo modo, participar do sofrimento de alguém. É difícil entender, mas, de algum modo, Deus participa dos nossos sofrimentos. E Ele pode, através dos nossos atos de amor, tocar cada pessoa que precisa da sua presença. Ter compaixão de quem sofre não é ‘ter pena’, mas ‘fazer-se um’ com o outro, sendo uma presença concreta, e fazendo o que estiver ao nosso alcance para aliviar o sofrimento de quem precisa. Muitas vezes, basta estar ao lado. Fazer-se um.
Uma vez por semana, realizamos o ‘FFF’ (Frase, Fato e Fruto), quando partilhamos com os demais o que vivemos da Palavra de Deus em nossa semana. Também semanalmente, realizamos uma terapia em grupo chamada ‘comunhão de almas’. Uma vela que representa o Espírito Santo é acesa em nosso meio, e então partilhamos, de forma livre, o que a gente quer falar, sem que ninguém interfira. Assim que a atividade acaba, a vela é apagada, e tudo o que foi dito não sai daquela sala. Por esse motivo, ficamos à vontade para falar o que a gente quiser. A catequese é oferecida para os que querem, desde o batismo, para os que desejam e ainda não receberam o sacramento. Em todas as fazendas, temos a presença de freiras que nos ajudam muito com um olhar de mãe. Na fazenda, tudo é proposto, nada obrigado. Mesmo para entrar, é necessário escrever uma carta de próprio punho, pedindo ajuda e deixando claro o desejo de estar lá. O carisma do espaço vem do movimento dos focolares e, quando a gente termina nosso ano de recuperação, a gente pode se tornar um voluntário em obras do Brasil e em outros países. Concluí minha recuperação há três anos e venho colocando em prática tudo o que aprendi, e me considero limpo.”
Márcio: transmitir alegria
“Meu nome é Márcio e tenho 48 anos. Meu problema com as drogas começou aos 13 anos, quando comecei a beber e fumar cigarro e maconha. Com o passar dos anos, fui me envolvendo mais e mais com os vícios, e experimentando outras drogas até chegar ao crack, do qual fiquei em uso contínuo por aproximadamente 20 anos. O ápice da drogadição se deu com a morte da minha mãe, e percebi que também eu estava morrendo, mas não tinha forças para mudar de vida sozinho. Minhas irmãs me apresentaram a Fazenda da Esperança, e senti que aquela era a luz no fim do túnel. De pronto, aceitei fazer o tratamento. Foi uma grande aventura esse ano de recuperação. Eu descobri que o problema não eram as drogas e sim o que me levava a ir buscar refúgio e fuga nelas. Aprendi a me conhecer, a não ser egoísta, achar que o mundo girava em torno de mim, aceitar os ‘nãos’ da vida e saber lidar com todas as dificuldades que o dia a dia nos coloca. Por muitas vezes, eu me refugiei nas drogas por não ter coragem para encará-los de frente. Hoje estou como padrinho na Fazenda Mãe Admirável, em Braga-RS, e me sinto muito feliz por estar bem e poder me doar para outros irmãos que, assim como eu, hoje precisam dessa direção. Hoje, com a vivência do Evangelho de forma concreta, consigo manter minha sobriedade. Todos os dias, tento transmitir essa alegria para os acolhidos, para que eles também possam viver essa alegria que só existe quando estamos no amor de Cristo.”
Para conhecer mais sobre a Fazenda da Esperança, acesse www.portalfazenda.org