A herança espiritual de Santo Arnaldo Janssen

Do coração de Santo Arnaldo Janssen e com o apoio de seus filhos e filhas espirituais, nasceram congregações de religiosos e religiosas consagradas e grupos que congregam leigos e leigas. Hoje sua obra missionária está presente nos cinco continentes, em dezenas de países. A memória de Santo Arnaldo, Pai, Guia e Fundador da Família Arnaldina, é celebrada em 15 de janeiro.

Santo Arnaldo nasceu em 5 de novembro de 1837, em Goch, Alemanha, e faleceu em 15 de janeiro de 1909, em Steyl, Holanda. Arnaldo era o segundo de dez filhos de Geraldo e Ana Catarina Janssen. Sua espiritualidade (muito avançada, diga-se) é bem o fruto do contexto familiar, social, histórico e religioso em que ele viveu. 

Em 2022, os membros da Equipe de Espiritualidade da Província Brasil Norte, em seus momentos de estudo, retomaram, aprofundaram e partilharam sobre os fundamentos da espiritualidade arnaldina. As reflexões foram baseadas no livro “Fascinado pelo Mistério: Arnaldo Janssen, homem de oração”, da irmã Franziska C. Rehbein, SSpS.

Depois de terem acesso a tanta riqueza, membros do grupo decidiram partilhar algumas das descobertas. É uma forma de celebrar a memória de um grande missionário, cuja visão ia muito além de seu tempo e de seu espaço. 

“Para cada um, cada uma de nós, irmãs e leigos, foi uma caminhada de muita luz e confirmação, convidando-nos sempre mais a redescobrir, valorizar e vivenciar, no dia a dia, nossa herança espiritual, como família Arnaldina”, diz a irmã Maria Inês Aragão, coordenadora da equipe. Veja a seguir.

Devoção ao Sagrado Coração

O que me tocou profundamente foi redescobrir o quanto Arnaldo Janssen foi fascinado pelo mistério da presença de Deus na vida de cada ser humano. Não podia guardar isso para si. Queria partilhar com os outros o que ia experimentando desde a casa paterna: Deus caminha conosco, entrou na história humana e partilha nossa vida como ser humano. Foi essa experiência que foi tornando-o missionário do projeto salvífico da Trindade. 

Dentro do espírito de sua época, assumiu inicialmente a espiritualidade e a devoção ao Sagrado Coração, procurando acolher as intenções desse Coração, ao mesmo tempo, tão humano e tão divino, cheio de misericórdia. Enxergava nele a Trindade toda a serviço da humanidade.

Quando, num passo de maior maturidade espiritual, consagrou-se totalmente ao Espírito Santo, o “Coração da Trindade”, tornando-se mais dócil e transparente aos impulsos do Santo Espírito, sua vida foi especialmente marcada por uma grande fecundidade missionária.

Hoje, seu Lema, “Viva Deus Uno e Trino em nossos corações e nos corações de todas as pessoas”, continua inspirando nossa missionariedade e enxergando-a também como um convite para “entrar na Dança da Trindade”, a partir de uma percepção mais dinâmica, comunitária, solidária e em rede da missão:

“Imersas na dança da Trindade, somos impelidas a fazer uma caminhada profética de transformação para nos tornarmos uma melodia de compaixão neste mundo.” Podemos imaginar o quanto nosso Santo Fundador não se identificou com essa nova fórmula para nos animar na vida e na missão, mais de cem anos distante de sua experiência pessoal!

Ir. Maria Inês Aragão, SSpS

Inspiração na Santíssima Trindade

Após a leitura, contextualização e interiorização dos fundamentos da espiritualidade de Santo Arnaldo Janssen, fica difícil destacar algum aspecto específico. Todas as manifestações de sua espiritualidade convergem para a Trindade, que é amor, diálogo e comunhão. 

Arnaldo queria partilhar o que experimentava em sua relação com o mistério trinitário, aprendido e vivido em sua família e assumido por ele em sua própria vida. Sempre viveu sob a inspiração da Santíssima Trindade. Fundou as três congregações segundo os moldes da Trindade e deixou como herança o lema “Viva Deus Uno e Trino em nossos corações e nos corações de todas as pessoas”. 

Descobriu a paternidade desse Deus que o amava profundamente: “Como um filho deixa-se levar pela mão de Deus, a santidade consiste numa absoluta entrega a ele. É impossível que Deus traia nossa confiança”. 

Como missionária serva do Espírito Santo, diante da riqueza de nossa espiritualidade, sou eternamente agradecida e me sinto comprometida com a missão que nos foi confiada: somos convidadas a viver em comunidade, segundo o modelo de Deus Trindade. Santo Arnaldo me inspira a aprofundar a vida de oração, a crescer na comunhão com a Santíssima Trindade e no relacionamento com as pessoas, a proclamar a Boa-Nova da vida e do amor divino pelo testemunho de vida e pelo compromisso missionário. 

Ir. Heloise Matos, SSpS

Vontade de Deus

O Apostolado da Oração, fundado em 1844 pelo jesuíta Francis Xavier Gautrelet, é uma associação santa de corações cristãos em união com o Sagrado Coração de Jesus para o bem da Igreja e a salvação de todos. 

Em 1866, Arnaldo Janssen se tornou grande animador missionário do Sagrado Coração de Jesus na escola do Apostolado de Oração, além de diretor em sua Diocese de Münster. Essa atividade contou com a incansável dedicação de Santo Arnaldo e teve grande influência sobre ele. 

Em um texto escrito por Santo Arnaldo, para expor sobre os objetivos do Apostolado da Oração no Congresso Católico em Düsseldorf, ele falou de suas convicções sobre a oração durante toda a sua vida. Afirmou que a promoção do bem não dependia tanto de nossa pressa e atropelos, nem de nossa vontade, mas da vontade de Deus. 

As virtudes de Santo Arnaldo nos inspiram a ter coragem e confiança total em Deus Uno e Trino habitando em cada coração. Ele nos ensina que, pela oração, o sacrifício, a fé e o amor apaixonado por Deus, é possível crescer para além das barreiras da nossa própria natureza. “Viva o Coração de Jesus no coração de todas as pessoas.”

Maria Cristina Maia, leiga

Valor da oração

“Viva o Coração de Jesus no Coração de todas as pessoas.” O lema de Santo Arnaldo deu lugar a uma luta de aparente fracasso, na tentativa de fundar uma casa em Steyl. Sua determinação e fé no Coração de Jesus desenhou sua vida missionária e toda sua vida devocional.

Arnaldo nunca abandonou seus princípios e assim também seu objetivo. Com muita determinação, respondeu a todos os desafios surgidos ao longo de sua caminhada, convicto de que, somente por meio da oração, alcançava-se a graça, e assim se podia fazer a vontade de Deus.

Vemos em Arnaldo uma característica marcante da vida missionária: a oração. Um radiante e incomparável amor pela oração, Arnaldo deixou sua contribuição legítima, não somente para seus seguidores, mas para todos nós.

Gilmara Solidade, leiga

Equilíbrio entre ação e contemplação

Um dos aspectos que mais me chamaram a atenção na vida de Santo Arnaldo Janssen é a busca do equilíbrio entre a ação e a contemplação. Ao mesmo tempo em que isso é uma riqueza para sua família espiritual, também é um constante alerta a ela. Mesmo com um intenso apostolado, com variadas atribuições como professor, como padre e, mais tarde, como responsável por suas congregações, impressionou-me o ritmo de suas orações desde quando ele era criança. Eram preces mais longas, num ritmo de um mundo bem diferente do nosso. 

Santo Arnaldo gostava do silêncio, mesmo em meio a tantas responsabilidades. Impunha a si uma firme disciplina na oração, quase sempre ungida pela herança espiritual deixada pela família de origem. Suas devoções podem ser vistas até hoje, preservadas pelos missionários e missionárias, inclusive nos próprios nomes das congregações que ele fundou. 

A busca desse equilíbrio entre oração e atividades é um testemunho precioso de Santo Arnaldo. Também é um alerta para nossos tempos, bem mais ansiosos e barulhentos que os do século XIX e inícios do século XX. Fazer muito pela Igreja sem se colocar aos pés do Mestre, para ouvi-lo atentamente, pela Palavra, pela liturgia e pela meditação, pode levar à doença do ativismo, derrubando o mais aguerrido missionário, a mais criativa evangelizadora, que podem se cansar e cair pelo caminho. Santo Arnaldo Janssen, rogai por todos os evangelizadores e evangelizadoras da Igreja!

Alessandro Faleiro Marques,

Diácono na Arquidiocese de Belo Horizonte