Vivendo nesta época da pandemia, cada pessoa tem uma história para contar às gerações futuras sobre a pandemia causada pelo novo coronavírus, que transformou a vida comum em um “novo normal”. Santana é uma comunidade de missionárias servas do Espírito Santo já idosas. São vinte irmãs, algumas acamadas, outras na cadeira de rodas, outras andando com a ajuda de bengala. Todas têm muito para contar.
O covid-19 está afetando drasticamente a população global. Em muitos países, os idosos, por serem mais vulneráveis, enfrentam riscos maiores. Em relação às irmãs da Comunidade de Santana, os cuidados estão sendo redobrados. “Nossa responsabilidade é apoiá-las e protegê-las para não contraírem essa doença”, explica a Ir. Maria Percila Vieira, coordenadora provincial.
Por orientação médica, as religiosas não recebem visitas, nem mesmo das outras irmãs de congregação. Irmã Maria Percila descreve os cuidados que elas recebem. Regularmente, as missionárias passam por consultas médicas e por acompanhamento de dentista, fisioterapia, nutricionista, enfermeiras e cuidadoras que estão sempre ao lado das missionárias. Ela também as acompanha nas reuniões e as ajuda a se organizarem melhor nas orações, missas e outras práticas espirituais. “Isso as ajuda a ter saúde física e mental. Estão todas felizes e com boa saúde, graças a Deus”, afirma a provincial.
“A população de rua e os pobres passam fome e não têm quem cuide deles neste tempo de pandemia”, lamenta Ir. Maria das Graças Mallmann, 80 anos, coordenadora da comunidade. Ela se sente muito agradecida pelos cuidados recebidos, quando tantas pessoas não têm o necessário. “As cuidadoras estão se arriscando para cuidar de nós e de nossas necessidades”, acrescenta. “Agora a nossa única missão é rezar, e repito sempre a oração ‘Vinde, Maria, chegou o momento, se humano socorro vier a faltar, com o vosso sempre podemos contar’”.
Irmã Mansuetis Santanna, 92, falou sobre calamidades naturais que vêm acontecendo nos últimos anos, e agora reflete sobre a pandemia que tira a vida de milhares de pessoas: “Somos vulneráveis. O futuro parece incerto”. Apesar disso, Ir. Mansuetis tem muita fé e esperança que Deus transformará toda essa situação e cita a frase do Apocalipse (21,5): “Eis que eu faço novas todas as coisas”.
A Ir. Maria Catarina Schneider, 79, explica que sua visão em relação à própria vida mudou. “O coronavírus levanta questões metafísicas”. E ela se pergunta: “Por que isso está acontecendo? O que isso significa?”. Para ela, questionamentos como esses podem levar à oração. “Em vez de caminhar lá fora, caminho por dentro de mim. Agora compreendo melhor o que é a transitoriedade da vida”, partilha.
Acompanhamento profissional
A fisioterapeuta Daniela Aparecida Mourão se sente feliz e grata por trabalhar em um ambiente seguro e protegido: “Quando entro no convento, meu medo desaparece. Cada dia é uma batalha diferente, e tenho que vencer”. Ela explica que a Fisioterapia desempenha um papel importante no aumento da imunidade e da saúde mental durante a pandemia; a respiração melhora quando se fazem exercícios, ajuda no tratamento e na recuperação de pacientes também com covid-19. “Quando cuido da saúde dos outros, Deus cuida de mim; é uma bênção para mim e para minha família”, declara a fisioterapeuta.
Maria das Graças Serrão da Silva, uma das enfermeiras que cuida das idosas, recorda o pronunciamento da Organização Mundial de Saúde, que declarou 2020 o “Ano da Enfermeira e da Parteira”, em comemoração ao 200º aniversário de Florence Nightingale (1820–1910). “Foi completamente inesperada esta crise internacional de saúde”, afirma. “Como cuidadoras de saúde, temos de buscar formas de proteger aqueles que estão em maior risco, como as irmãs idosas aqui”, explica Marisa Ferreira Gomes, outra enfermeira da comunidade. Apesar de seus medos e ansiedades, “temos de ser esperança e otimismo para as situações de desesperança”, acrescenta Maria das Graças.
“A pandemia me faz pensar que a vida é curta, e desejo ser feliz, e as pessoas ao meu redor também. O que está acontecendo no mundo, com certeza, nos deixa tristes e deprimidos”, confessa Marcela Soares da Silva, uma das funcionárias da casa. Ela encontra sua própria maneira de tornar sua vida feliz e satisfatória. Ela costuma ouvir música no celular enquanto trabalha e aproveita breves momentos para conversar com as irmãs idosas e rir com elas. “Estou feliz e grata por ser capaz de trabalhar em um ambiente de silêncio e paz”, acrescentou.
Com muita sabedoria, Norma Suely Barbosa dos Santos, uma das cuidadoras, acredita que “Deus está cuidando de nossas vidas, e nós na terra temos que cuidar de nosso próximo”. Ela recorda a parábola do “Bom Samaritano”. “Hoje essas irmãs precisam de nossa ajuda e cuidado, e amanhã podemos estar na mesma situação. Por isso precisamos ser mais humanas e bondosas com todos”, conclui.