Celebramos, no domingo logo após a Solenidade de Pentecostes, a Solenidade da Santíssima Trindade. Por ordem do Senhor Jesus, em Mateus (28,19), cada um de nós foi batizado e consagrado a Deus “em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”. Fazemos nossa oração diária em sintonia com a Santíssima Trindade. Traçando sobre nosso corpo o sinal da cruz, sinal do amor de Deus por nós, abrimos nosso ser para a Trindade: “Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém!”.
Ainda nos braços da mãe, talvez sem entendermos o sentido do gesto ou o alcance das palavras, aprendemos a fazer o sinal da cruz e nossa primeira oração: “Em nome do pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém”. Esse “amém” no fim da oração é um vocábulo hebraico e, explica Catecismo da Igreja Católica (n.º 1026), está ligado à mesma raiz da palavra “crer”, e exprime a solidez, a confiabilidade e a fidelidade de nossa fé. Pode proclamar tanto a lealdade de Deus para conosco como nossa confiança nele. Com o “amém” que pronunciamos, anunciamos ter encontrado Deus e depositamos nele nossa inteira e total confiança. Esse piedoso sinal da cruz, pelo qual se benze o cristão, invocando as Três Pessoas Divinas, prática já comprovada no segundo século, é um costume de sentido profundo e completo: significa consagração, profissão de fé e oração.
Em cada oração que fazemos todos os dias, sempre começamos e terminamos com o sinal da cruz. Com esse sinal, entramos na presença da Santíssima Trindade. É uma louvação às Três Divinas Pessoas, porque elas se revelaram na história e nos convidam a participar de sua comunhão divina. A resposta humana à revelação da Santíssima Trindade é o agradecimento e a glorificação. Depois, decoramos a doxologia (a louvação): “Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo”.
E não demorou para aprendermos, desde crianças, muitas vezes antes da primeira comunhão, a professar com piedade e precisão, mesmo sem entender o que haveríamos de compreender, pouco a pouco, mais e melhor, ensinados por nossa mãe, avó, catequista, com solenes palavras: “Creio em um só Deus, Pai todo-poderoso, criador do céu e da terra […] Creio em um só Senhor, Jesus Cristo […] Deus verdadeiro de Deus verdadeiro […] Creio no Espírito Santo, Senhor que dá a vida e procede do Pai e do Filho; e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado”. Esse nosso Credo é, em sua estrutura íntima, uma confissão da Trindade.
Na verdade, a atenção e a devoção às Três Divinas Pessoas continuam centrais em nossa vida, e tirá-las de nossa fé causaria não só um irreparável dano, mas acabaria com o próprio fundamento de nossa existência cristã. Por isso, crer na Santíssima Trindade e amá-la com todo o nosso ser tem consequências imensas para toda a vida (cf. o Novo Catecismo nos n.os 223-227): significa reconhecer a grandeza e a majestade de Deus. “Deus é tão grande que supera nossa ciência” (Jó 36,26). Significa viver em ação de graças: se Deus é o Único, tudo que somos e tudo o que possuímos vem dele: “Que é que possuis que não tenhas recebido?” (1Cor 4,7). Significa reconhecer a unidade e a verdadeira dignidade de todos os homens: todos foram feitos “à imagem e à semelhança de Deus” (Gn 1,27). Significa usar corretamente das coisas criadas por Deus, como rezava São Nicolau de Flüe: “Meu Senhor e meu Deus, tirai-me tudo o que me afasta de vós. Meu Senhor e meu Deus, dai-me tudo o que me aproxima de vós. Meu Senhor e meu Deus, desprendei-me de mim mesmo para doar-me por inteiro a vós”. Crer na Santíssima Trindade também significa confiar em Deus em qualquer circunstância, mesmo na adversidade. Uma oração de Santa Teresa de Jesus exprime-o de maneira admirável: “Nada te perturbe, nada te espante. Tudo passa, Deus não muda. A paciência tudo alcança. Quem a Deus tem nada lhe falta. Só Deus basta”.
Uma fé completa
Crer no Deus bíblico, a partir de Jesus, é necessariamente crer na Santíssima Trindade. O Deus de Jesus, o Deus cristão, é o Pai e o Filho e o Espírito Santo, a Santíssima Trindade. Pai, Filho e Espírito Santo sempre estão juntos: criam juntos, salvam juntos e juntos nos introduzem em sua comunhão de vida e de amor. Na piedade de muitos fiéis, há uma desintegração da vivência do Deus trino. Alguns só ficam com o Pai, outros só com o Filho e outros só com o Espírito Santo.
A religião só do Pai é o patriarcalismo. Todos dependem dele, sem qualquer criatividade. A religião só do Filho é o vanguardismo. Jesus é considerado o “companheiro”, “o mestre” e “nosso chefe”, irmão de todos. É um Jesus com apenas relações para os lados, sem uma dimensão vertical, em direção ao Pai. Essa religião cria cristãos vanguardistas. A religião que só se concentra na figura do Espírito Santo é espiritualismo. Eles só cultivam suas emoções interiores e pessoais. Eles esquecem que o Espírito Santo é sempre o Espírito do Filho, enviado pelo Pai para continuar a obra libertadora de Jesus.
Não basta a relação interior (o Espírito Santo) nem a somente para os lados (Filho), nem só a vertical (Pai). Importa integrar as três. Que seria de nós se não tivéssemos um Pai que nos aconchegasse? Que seria de nós se esse Pai não nos desse seu Filho para fazer-nos também filhos de Deus? Que seria de nós, se não tivéssemos recebido o Espírito Santo, enviado pelo Pai, a pedido do Filho, para morar em nossa interioridade e completar a nossa salvação? Vivamos a fé completa, numa experiência completa da imagem completa de Deus como Trindade de Pessoas.
Entrar no mistério amoroso de Deus
Fomos batizados em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Batizar em nome de alguém significa estabelecer com ele uma relação pessoal. Pelo batismo, entramos numa relação pessoal com Deus uno e trino. Batizar em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo significa que ser cristão é uma chamada para entrar no mistério amoroso de Deus. Batizar em nome da Santíssima Trindade é introduzir-se na totalidade desse mistério de amor de Deus. Fazer discípulo não é simplesmente ensinar uma doutrina, e sim fazer com que os homens encontrem a razão de sua existência no Deus uno e trino, o Deus cuja riqueza se expressa no amor.
Quando o cristão é batizado no nome da Santíssima Trindade, o modo de ser de Deus lhe é apresentado como modelo de vida. A perfeita comunhão entre as Pessoas da Trindade deve tornar-se o ideal de comunhão dos cristãos e das famílias cristãs. Igualmente, a capacidade de agir de forma integrada, sem concorrências nem sobreposição de um sobre o outro. A comunhão se faz a partir do diferente, na acolhida e no respeito pelo outro. Esse é o caminho que a comunidade cristã ou família cristã terá de tomar se quiser deixar-se modelar pela Santíssima Trindade.
Toda vez que você ora ou reza, sempre começa e termina com o sinal da cruz, em nome da Santíssima Trindade. Ao fazer o sinal da cruz, que é uma oração trinitária, você tem certeza de que sua vida é vivida no espírito da Santíssima Trindade? O que significa para você fazer sua oração em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo? Quais são consequências dessa oração trinitária em sua vida?
Padre Francisco Chagas Teixeira é pároco da Paróquia São José Operário, na Diocese de Santo Amaro, é especialista em Liturgia e Espaço Litúrgico, Arquitetura e Arte Sacra.