Na atualidade, vivemos uma dicotomia
Quanto mais ouvimos falar em igualdade de direitos entre homens e mulheres, em respeito aos direitos da mulher, mais aparece, e os números mostram, cada vez mais, tornando visível a triste realidade do aumento da violência física, moral e mental, sobretudo em relação à mulher.
Temos conhecimento de que a violência sempre existiu na história humana. Acontece que, hoje em dia, ela está mais visível.
Torna-se sempre mais visível a violência física, aquela que deixa o olho roxo, o braço quebrado, o corpo inerte e sem vida. Mas e a violência psicológica? A violência moral? Estas estão escondidas nos corações dilacerados de mulheres que, para manter uma aparência social, sustentar a família, ou simplesmente por amarem, abdicam (consciente ou inconscientemente) de sua individualidade e passam a viver uma falsa realidade.
Não é apenas o coração que sofre, a mente também
Quantos casos de mães amorosas que se veem em desequilíbrio emocional/mental após tomarem a decisão de colocar um ponto final na relação tóxica na qual viviam? E, destarte, culminam, não raras vezes, por perderem a guarda de seus filhos, chegando ao ponto de serem proibidas de com eles manter contato?
Quantos casamentos/relacionamentos, com mais de trinta, quarenta anos de união, muitas mulheres, na terceira idade, chegam ao fim de sua vida, cansadas das humilhações, privações variadas, menosprezo e desamor?
A violência psicológica e moral atua na surdina. Observamos que, nem a própria mulher, na maior parte das vezes, se dá conta do que está acontecendo e, quando o percebe, pode ser tarde, por inúmeros fatores, inclusive se sentindo impedida de reagir.
A dor, o constrangimento, a revolta são imensuráveis
Após mais de trinta anos acompanhando incontáveis casos, podemos usar uma expressão forte, que entendo ser capaz de chocar quem está lendo estas palavras, mas essa violência se compara a um estupro moral/psicológico. A mulher sente-se ultrajada em sua essência.
Com toda a evolução tecnológica e científica que vivemos nos últimos anos, estamos longe de observar uma evolução moral, em que a verdade seja a palavra de ordem.
Precisamos também de evolução espiritual, precisamos de respeito, quando, independentemente da fé, as pessoas estejam unidas “no fio comum de amor e estima mútua”. [1]
Não basta apenas “dizermos” não à violência contra a mulher. Precisamos agir. Dar um basta! Precisamos ser todos proativos para a mudança. Precisamos educar, moral e intelectualmente, nossos filhos para que se tornem homens e mulheres dignos de um convívio social harmônico a fim de que o princípio constitucional da isonomia [2] seja uma realidade em nosso país.
Notas
[1] Trecho da carta escrita por Mahatma Gandhi a Milton Newberry Frantz, em 6 de abril de 1926.
[2] Artigo 5º, I, da Constituição Federal de 1988: “homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações…”.
Beatriz Regina Lima de Mello
Promotora de Justiça.