Muitas são as vozes que ecoam em nosso mundo de hoje; muitas são as cores e os sabores que distraem nosso olhar, levando-nos para fora, para longe da fonte simples e transparente que nos mantém íntegros e em comunhão com Deus e sua missão. Entre tantas vozes está aquela que nos convida a ir ao encontro, a sermos discípulos, seguidores do Mestre. Mas, em meio a tanto barulho, onde e como podemos escutar a voz inaudível de Deus que grita nosso nome e deseja despertar nossa coragem para servi-lo?
Como cristãos batizados, todos somos essencialmente designados a sermos discípulos de Cristo e, no batismo, é plantada em nós a força do amor e a coragem necessária para vivermos profundamente em comunhão com o Espírito Santo, abertos à missão de Deus. Segundo Thomas Merton, “Vivemos em um mundo transparente, e Deus brilha através dele o tempo todo”. Essas palavras nos surpreendem quando olhamos a nosso redor e enxergamos um mundo ferido, chagado pela ambição humana e obscurecido pelas crescentes catástrofes que presenciamos e pelo ódio difundido como base para construção de nossa sociedade.
Voltamos então à nossa primeira pregunta: como ouvir essa voz inaudível de Deus que me chama? Como olhar ao redor e enxergar o mundo transparente sobre o qual nos fala Thomas Merton? Como sermos cristãos movidos pela graça, capazes de escutar e enxergar o caminho do Reino, em um momento histórico em que a poluição visual e auditiva impera em nosso dia a dia? Ainda Thomas Merton, em sua sabedoria, nos diz que “Temos, na verdade, de jejuar, orar, negar a nós mesmos e nos tornar homens interiores caso queiramos ouvir a voz de Deus”, para reconhecermos primeiramente em nós mesmos a voz de Deus e assim poder enxergar um mundo transparente e revelador de sua vontade.
A descoberta e o cultivo de uma interioridade que nasce do silêncio e do encontro consigo mesmo é base para uma relação próxima com Deus. Essa relação nos dá acesso à consciência da presença de nosso Criador e nos possibilita estar em comunhão com Ele, abrindo espaço para que a graça divina se manifeste, pois “Não está em nós despertarmo-nos, mas é Deus que nos escolhe e nos desperta. Que nos convoca a sermos seres de transformação em tempos conturbados” (Merton, 1948).
Seres de transformação que caminham pelo mundo, conhecem e vivem sua vocação de forma profunda e simples, que são capazes não apenas de enxergar um mundo transparente, mas de fazer real a presença amorosa de Deus, não porque são melhores ou mais bonitos, ou saudáveis, como nos exige a sociedade de hoje, mas porque estão conectados interiormente ao Deus da vida, ao Espírito Santo, que nos ajuda a concretizar nosso seguimento a Cristo, pela vivência do amor e da compaixão para com o próximo, pois, sem amor e compaixão, o nosso próprio amor a Cristo é uma ficção.
Ir. Juliana de Andrade:
Formada em Ciência das Religiões, estuda Psicologia e é Coordenadora da Animação Vocacional da Província SSpS Brasil Norte