Na liturgia dominical de 1º de dezembro, entramos no ciclo natalino, o memorial de uma das bases de nossa fé: o encontro, ou melhor, os encontros com o Senhor que vem até nós. Este período é aberto com o Tempo do Advento, indicando a alegre e amorosa expectativa pela vinda de Cristo.
Em muitas comunidades, dá-se um grande destaque à Solenidade do Natal que se aproxima. Este tempo, contudo, é bem mais do que arrumar a casa para “recordar” o nascimento de Jesus. É uma oportunidade forte de repensar a vida, de preparar-nos com vigilância também para o encontro definitivo com o Senhor, que virá gloriosamente. É um chamado a refletir se estamos atentos às diversas vezes em que Jesus vem a nós nos eventos do cotidiano.
A Palavra de Deus nos convida a pensar como será a chegada do “noivo” que surge na alta noite, do “patrão” que cobra resultados, do “rei” que prepara um lugar em sua casa, do “pastor” que separa as ovelhas dos cabritos, daquele que chega sem avisar, como um “ladrão”. Alegorias usadas pelo Evangelho para nos dizer que devemos sempre estar prevenidos para um compromisso que não tem hora marcada.
Este é um momento precioso para avaliar como vivemos o lava-pés da Eucaristia. Demos de comer e de beber, acolhemos os “peregrinos”, vestimos os nus, visitamos os enfermos e os encarcerados? Ou apenas paramos para ouvi-lo piedosamente nas praças, sem transformar em prática essa escuta? Se nossa vida for pedida de volta pelo Senhor, como a devolveremos a ele? Esses são alguns dos questionamentos que nos interpelam sobre o encontro com o Cristo que veio, vem e virá.
O roxo dos paramentos, a delicadeza dos adornos e a doce discrição dos instrumentos musicais são um convite à conversão, à volta ao caminho pavimentado e seguro que é o próprio Cristo. Os alertas de Isaías e de João precisam ecoar em nosso coração para fazê-lo reluzir mais que os ansiosos adornos ostentados na faminta e descartável “liturgia” do comércio. A luz do Senhor que vem sobre a terra deve resplandecer como em Maria, a Mãe sempre à disposição a servir o Reino e a louvar o Deus que eleva os humildes.
A expectativa desta época não pode ser experimentada com o mesmo afobamento que a vida urbana nos impõe. Essa espera é alegre, corajosa e não nos permite cochilar. Que nós, a Igreja, possamos testemunhar, em palavras e ações, que estamos “doentes de amor” à espera do Amado, cuja boca é cheia de doçura e de quem tudo é encanto (cf. Ct 5,8.16).
Sinal admirável
No primeiro domingo do Advento, o Papa Francisco visitou Greccio, Itália, onde, em 1223, São Francisco de Assis apresentou o presépio pela primeira vez. Para demonstrar apoio à prática, seja na família, seja em locais públicos, o Pontífice publicou a Carta Apostólica Admirabile Signum (O Sinal Admirável). O desejo do Papa é que a mensagem ajude nas reflexões em preparação para o Natal.
Como não poderia ser diferente quando se refere ao nascimento de Jesus, o texto é marcado pela espiritualidade que convoca ao olhar para Deus e para o ser humano. Como o Pobrezinho de Assis, o Papa se detém diante da tocante pobreza daquele rei que vem se fazer um de nós, sofrer nossas dores e alegrar-se conosco. Um Deus no meio do povo e não “acima de tudo”, como ainda insistem alguns.
“Pensemos nas vezes sem conta que a noite envolve a nossa vida. Pois bem, mesmo em tais momentos, Deus não nos deixa sozinhos, mas se faz presente para dar resposta às questões decisivas sobre o sentido da nossa existência”, diz Francisco.
O Bispo de Roma também recorda que a vinda do Senhor é primeiro para os pobres, na figura dos pastores. “Os pobres são os privilegiados deste mistério e, muitas vezes, aqueles que melhor conseguem reconhecer a presença de Deus no meio de nós”, diz o texto. O Filho de Deus também se encarna para todos os povos, representados pelos Magos, que partem de longe para chegar a Cristo: “À vista do Menino Rei, invade-os uma grande alegria. Não se deixam escandalizar pela pobreza do ambiente; não hesitam em pôr-se de joelhos e adorá-lo”.
Veja, a seguir, o texto completo da Carta Apostólica Admirabile Signum.
Diácono Alessandro Faleiro Marques
Diácono permanente na Arquidiocese de Belo Horizonte, professor de Língua Portuguesa de aspirantes e verbitas estrangeiros na Província Brasil Norte, revisor de textos para as irmãs servas do Espírito Santo.