Viver é uma equação permanente.
A cada tempo, demandas e prioridades diferentes.
Para todo tipo de gente, particularidades e variantes mil.
Em tempos atuais, a equação do bem viver segue complexa.
Lembro-me de um pote mágico, um remédio desenvolvido e engarrafado num vidro por minha filha, lá pelos 5 anos de vida. Estava escrito assim na embalagem: “Sara tudo”!
Uma equação perfeita para qualquer situação real e imaginária.
Gotinhas encantadas que tudo resolvia, como se uma equação se revelasse diante de um sorriso infantil.
Hoje, 25 anos depois, revisitando memórias, o que cada um de nós colocaria na própria poção “Sara tudo”?
Mesmo considerando a complexidade da atualidade e suas variantes que circulam entre nós, sem fio condutor visível, num formato “wireless”, eu arriscaria um palpite para essa equação: pegaria frações de “Tempo de qualidade” e colocaria num frasco conta-gotas.
Nosso corpo agradece, e a mente se tranquiliza só de saber que, tempo de qualidade, essa fração de segundos, existe, e sempre existirá.
A experiência do tempo livre e disponível é o caminho para resolver a equação do bem viver nas relações de afeto e no amor, na educação, na vida cotidiana, na parceria, na família, no trabalho, com amigos.
Feito na matemática, essa equação se desdobra em operações até o infinito resultado final.
Para alguns, a equação envolve dormir mais cedo e acordar mais cedo.
Noutras situações, será necessário tirar os sapatos, pôr os pés no chão.
Uma oportunidade de deitar-se na grama, à sombra de um ipê-amarelo florido, e saborear suas flores comestíveis pode ser um atalho.
Plantar, ver crescer e colher morangos e tomatinhos pode ser nosso elemento oculto.
Também é imprescindível equacionar como acompanhar o rápido crescimento das crianças e a sábia lentidão dos que já viveram muito.
Experimentar fazer um passeio a pé, sem colocar a mão em dinheiro ou qualquer cartão e aplicativo pode ser revelador.
Dá pra ser um piquenique, também…
Chegar em casa e guardar o celular por um tempo e se incorporar à rotina pode promover encontros e quebrar o silêncio
Escutar uma música nova com adolescentes que estão conectados todo o tempo constrói pontes.
Sair do quarto ou do escritório e ajudar no preparo de uma receita de família traz consigo memórias e redescobertas.
Um jogo de cartas, de tabuleiro ou o que quer que seja aproxima e interage.
Elogiar pequenas coisas, perceber detalhes e surpreender é uma operação essencial nessa equação.
Na escola, não há nada melhor do que não deixar acumular, colaborar criticamente e favorecer o ambiente coletivo de aprendizagem.
Olhar com generosidade para o outro, em todas as circunstâncias, encurta discórdias.
Relembrar afetos por meio de fotos, relatos e visitinhas a parentes que andam sumidos é um baita “sara tudo”.
Nunca se canse de ler, cantar, contar, dançar e brincar.
Contar sua vida para seus filhos, amigos, mães, pais e avós traz pertença, e pertencer ajuda a resolver equações.
Fazer parte da rotina, colaborar, participar do que é feito para que as coisas aconteçam, para que a roupa chegue limpa, o banheiro esteja cheiroso, a comida esteja saborosa, em muitos casos, pode ser necessário e essencial.
Dialogar a distância consigo mesmo, acionar sua intuição antes de fazer escolhas pode eliminar parênteses.
Folheie livros e cadernos de seus filhos para se aproximar da sabedoria que estão acumulando os mais jovens.
Há saídas para a equação da correria, da superficialidade e para o imediatismo…
Na vida real, em que o tempo de qualidade é o caminho que se escolhe para andar, a equação é cercada de sutilezas, fé e mistérios.
Cada equação tem chaves, parênteses e soluções.
Toda situação requer tempo livre e capacidade de surpreender, e fazer coisas diferentes.
Vá, levante-se e vá fazer o que você ficou com vontade de experimentar depois dessas despretensiosas incógnitas aqui declaradas, e “desmatematique” o cronômetro de sua vida.
Quanto mais simplificarmos, mais próximo estaremos de decifrar a equação e descobrir que tempo de qualidade abre as portas do infinito…
Em tempo: sem querer nos iludir nem romantizar, é desafio capital conquistar e experimentar o tempo livre.
Maria José Brant (Deka), assistente social, analista de políticas públicas na Prefeitura de Belo Horizonte-MG, mestra em Gestão Social, mosaicista nas horas vagas.