Cada pessoa que “vem ao mundo” chega de mãos vazias. Cada passo do desenvolvimento humano saudável só é possível diante da mediação de um outro que cuida e orienta rumo à maturidade. Todavia, mesmo depois de crescidos, ainda se fazem necessários a presença, o olhar, o sorriso de alguém que se anima a compartilhar seus caminhos.
Hoje vivemos em uma sociedade hedonista e individualista, que leva as pessoas a crerem que podem viver sozinhas suas vidas, desprovidas de vínculos profundos, que são, muitas vezes, substituídos por coisas, carreiras, dinheiro, aparência e diversão. Existe uma lógica capitalista para a qual as relações se tornaram relativas, efêmeras, funcionais, descartáveis e, consequentemente, assustadoras.
Todavia, a construção de um ser humano autossuficiente, sem necessidades básicas, como aceitação, amor, reconhecimento… é ilusão. Tal ilusão tem contribuído com o fechamento e o isolamento de muitas pessoas, que, a longo prazo, veem-se sozinhas, desprovidas de vínculos, depressivas, lutando por encontrar um sentido para sua existência. Distantes da vida social, elas abandonam aspectos importantes para sua própria psique, como a interação, a conexão com o mundo exterior e sua alteridade, a necessidade de pertença, de dar e receber amor, de cuidar e ser cuidado, os vínculos de amizade.
Abrir mão de vincular-se com outras pessoas, de compartilhar emoções e experiências de vida rouba do indivíduo recursos que não podem ser comprados, como o entusiasmo, a alegria, a empolgação, a partilha, o propósito que vai para além de si mesmo e a possibilidade de sentir-se importante para alguém.
Como resgatar ou preservar nossa alegria e entusiasmo diante das demandas diárias, do isolamento e falta de sentido? Cultivando e construindo laços, vinculando-se, ou seja, buscando amigos que compartilhem com gratuidade sua vida, suas emoções e seus desafios, companheiros na busca de sentido e de respostas às grandes perguntas da vida, que se sintam felizes de ter você por perto.
A amizade verdadeira constrói redes de conexões espontâneas e gratuitas, capazes de oferecer afeto e trocas profundas de experiências e emoções. Amigos verdadeiros são como chuva para o campo em tempos de seca, ele acolhe sem julgamento, recebe com alegria e partilha com gratidão, estar em sua presença, muitas vezes, é suficiente para aplacar a angústia e eliminar sentimentos de desamparo.
Ao mesmo tempo, um bom amigo também desafia, convida a pessoa ao crescimento e oferece importantes feedbacks em tempos de dúvida ou diante de conflitos diários, podendo ser duro e obstinado em suas opiniões, mas uma amizade profunda tem a capacidade de despertar a consciência e ajudar a pessoa a repensar seus caminhos e aprofundar escolhas.
Empatia é uma das mais belas características da amizade. A capacidade de conectar-se com a dor e acolher a vulnerabilidade do outro, sem julgamento e com profunda aceitação, exige liberdade interior e amor, mas é, em si, a essência de uma amizade madura, de laços que promovem a vida.
Portanto, escolha bem seus amigos e cultive suas amizades. Mais que diversão e descanso, bons amigos contribuem com nossa saúde emocional. Tenha coragem de oferecer um pouco de seu tempo, de sua escuta a outras pessoas e construa laços cheios de significado. Cultive a gratidão e a empatia com aqueles que partilham de seu dia a dia.
Irmã Juliana de Andrade, SSpS