Amor ciumento

Quando o amor fica ciumento, a vida amorosa se complica. Mas o que é o amor ciumento? O amor ciumento é ainda infantil. Não amadureceu, tem medo de perder seu referencial. Ele é manifestação de insegurança emocional. Torna-se dependente do afeto do outro como condição para sobreviver. Até certo grau, pode-se dizer que é “normal”, porque é difícil ser plenamente maduro afetivamente. Contudo há limites. 

O amor ciumento meche com as emoções do sujeito. Fica instável nas relações afetivas de quem depende. Quer controlar os passos da pessoa amada e espera dela “provas” de que a ama. Amor ciumento faz dramas, apequena-se, faz cenas, emburra-se, não fala, comporta-se como criança manhosa. O amor ciumento quer se apossar do outro e mantê-lo preso a si. Até certo ponto, é tolerável, e o outro suporta. Quando sai das medidas, torna-se problemático e compromete as relações de afeto. 

O amor ciumento, quando é possessivo, não deixa o outro livre, controla a vida de quem diz amar, não permite que o outro tenha amizades e as cultive. Tudo é suspeitoso, não acredita no que o outro diz. Faz-se de vítima. Sua insegurança causa-lhe ansiedade e, com facilidade, descontrola-se emocionalmente. Rompe as barreiras da normalidade, e, em casos doentios, é capaz de cometer crime.

O amor ciumento tem constante medo de perder o outro e quer agarrá-lo e prendê-lo a si como posse. Não tem confiança em si nem nas pessoas a seu redor. Precisa de constantes reafirmações da pessoa que diz amar e, mesmo com todas elas, ainda sobra motivo para desconfiar. Vira um círculo vicioso. Não acredita no que o outro lhe diz, põe em dúvida sua fidelidade.

O amor ciumento causa muita dificuldade na convivência. Apega-se a suas ideias mirabolantes e obriga o outro aceitá-las como justas e verdadeiras. Sem se dar conta, anula o outro em sua maneira de ser, devendo este pensar como ele pensa, sentir o que sente; não pode discordar, porque isso vira ameaça. Quando o amor ciumento possessivo perdura, isso leva à exaustão do outro, e o desgaste na relação se torna insuportável, causando o rompimento da convivência, a separação. 

Quando o amor ciumento está no homem, ele se esconde em suas artimanhas racionalistas e ameaça dominar o outro pela força, impondo medo. Manipula os desejos do outro e os distorce para garantir que é “dono da situação”. Quando isso se dá na relação com a esposa ou a namorada, torna-se dominador e impositivo. Chantageia com os bens que tem, dos quais o outro depende. Controla, por exemplo, o dinheiro, ameaça com abandono. Quando o amor ciumento está com a mulher, uma tática empregada com frequência é a chantagem emocional. Dramatiza as situações, procurando fazer o parceiro sentir-se culpado por seus sofrimentos. Em ambas as situações (marido ou esposa), o vínculo amoroso é imaturo, inseguro e melindroso. Há uma perda mútua de confiança; um vigia o outro, fiscalizando os contatos telefônicos, invadindo a privacidade, desrespeitando o direito que o outro tem.

Numa relação ciumenta, o mínimo sinal é suficiente para despertar o gatilho. Bastam um olhar, um tom de voz diferente, uma fala mal interpretada, e se instala a onda da ciumeira, e a confusão acontece. Difícil de apaziguar-se. Os nervos ficam à flor da pele, e as ofensas mútuas machucam a autoestima. As reações podem ultrapassar as medidas do razoável. O clima fica tenso e quase sempre rancoroso. Todos perdem, porque ninguém fica contente com a situação. Rompe-se a paz e, às vezes, isso perdura por dias. Fica um clima de mutismo e ar pesado no ambiente.

Quem sofre de ciúme possessivo, é bem provável que isso tenha suas raízes em seu passado de abandono, de rejeição, de exposição à insegurança prolongada, de educação muito rígida, entre outras causas.

Haveria cura para amor possessivo? Há, desde que a pessoa busque ajuda (de preferência, qualificada) e esteja disposta a encontrar as causas da perturbação. Dificilmente, cura-se sozinho. É preciso reconhecer a própria insegurança e o amor imaturo, e abrir-se para dialogar com as pessoas envolvidas. Admitir seus exageros com sinceridade e fazer um caminho de autoaceitação e de autocontrole sobre as próprias emoções. Aprender a comunicar os próprios sentimentos de forma controlada, sem culpar os outros por eles. Dar-se um tempo para meditar sobre seus próprios comportamentos e como eles repercutem sobre os que estão à sua volta. Admitir, quando for o caso, seus exageros e distorções da verdade. Sentir ciúmes pode ser visto como um sinal de que algo não está bem, há necessidade de rever-se para crescer e tornar-se melhor, uma pessoa mais equilibrada. 

Não deixe que seu ciúme comprometa seu relacionamento com a pessoa que você ama. Afinal o amor é oblativo, e quem ama de verdade tem reservas para amar todas as pessoas. Quanto mais se ama com amor amadurecido, mais e mais pessoas cabem em seu amor. Não precisa temer ficar de fora. Ame de verdade, e o ciúme não terá vez para perturbar suas relações. 

Padre Deolino Pedro Baldissera, SDS