Eis um pouco da missão das missionárias servas do Espírito Santo na Comunidade Cohab Adventista, na região do Capão Redondo, Zona Sul de São Paulo-SP.
Quando escutamos a palavra “amor”, nosso pensamento se dirige a Deus, que é amor. Em Jesus, esse amor se revela como uma plenitude do que somos chamadas a ser, filhas de Deus. Do nascimento até a morte e ressurreição, em Jesus, divindade encarnada, o humano transborda amor.
Um amor que rasgou a escuridão de nossas trevas, de toda violência, indiferença, exclusão, discriminação, ambição e, com sua vida, anunciou a paz, a alegria, o perdão, a justiça, a inclusão a partir dos mais vulneráveis. Em Jesus, fundem-se terra e céu, o amor é manifestado assim na terra como no céu.
Nós, irmãs servas do Espírito Santo, dizemo-nos discípulas, anunciadoras, testemunhas desse amor. E ao nos reconhecer como discípulas, também nos reconhecemos nesse caminho de aprendizado como as mulheres que seguiram Jesus durante sua vida pública.
Mais do que nunca, estamos entendendo que anunciamos o que somos com nossa vida e testemunho. Reconhecemo-nos atravessadas por contradições, limitações e pecados em nossa missão. Como discípulas, a cada dia, aprendemos tantas lições, sempre em busca dessa luz que vamos descobrindo em nós, enquanto desvendamos nossas trevas, nossa ignorância, nossas cegueiras e caminhamos em busca da luz que nos conduz ao amor.
Partilhamos nossa vida em missão com comunidades, grupos de reflexão, religiosas, movimentos sociais, vizinhos, doentes, pessoas, grupos e instituições. Em meio ao povo das comunidades, onde partilhamos a Palavra, celebramos um de nossos encontros com o amor. É um chamado que desperta “meu ouvido como discípula” para descobrir e saborear a Palavra revelada em Jesus. A comunidade se torna para nós dom e sacramento, onde essa Palavra anunciada ressoa e é celebrada, tornando-se luz e alimento no caminho.
No projeto “Saúde ao Alcance da Mão”, que vem sendo desenvolvido no movimento de moradia “Povo em Ação”, marcamos presença na esperança de servir ao povo com aprendizados de saúde integrativa. Para isso, procuramos melhorar as condições para um atendimento com mais qualidade e dignidade.
Nestes dias, mergulhar na Palavra, levou-nos a mergulhar numa situação de acúmulo de entulho num espaço verde da Prefeitura. Fomos confrontadas por situações de vulnerabilidade que pediam profundo silêncio, acreditar nas pessoas e na possibilidade de melhorar esse espaço físico relacionado com o espaço onde se desenvolve o projeto. Nesse processo, pudemos viver a tensão de esperançar, fazendo o caminho na certeza de que o amor está presente para além das dificuldades. Que, além do entulho sufocante, encontraríamos um espaço vital para cuidar da saúde de quem ali se achegar. Ainda em processo, cultivando o amor–paciência, já podemos começar a vislumbrar a bênção desse processo e preparar-nos para celebrar a presença do amor que cura e fortalece.
A cada manhã, cada momento, encontramos sombras que escondem o segredo da luz. É essa luz que nos seduz e anima na busca e caminhada com a “Rede Nacional Espere Brasil” e com o “Centro de Direitos Humanos e Educação Popular”, com os quais partilhamos processos em busca de uma cultura de paz. Um novo ano, novas oficinas sobre esses temas são uma maneira de cultivar o dom do perdão, servir a esse dom que liberta e abre para que a vida encontre espaço nos corações, nas relações, nas comunidades e instituições. Pede de nós esperançar e confessar cada dia a fé no amor que só espera que a escuridão seja reconhecida para dar espaço à luz do perdão, da gratuidade do dom, perdão. E sentindo-nos perdoadas, acolhidas, abraçadas, de roupa nova, vestes de festa, podemos celebrar os encontros em meio aos conflitos que podem se transformar em energia criativa e transformadora. E, como diz nosso querido e saudoso poeta Thiago de Mello,
“Faz escuro, mas eu canto,
porque a manhã vai chegar.
Vem ver comigo, companheiro,
a cor do mundo mudar.
Vale a pena não dormir para esperar
a cor do mundo mudar.
Já é madrugada,
vem o sol, quero alegria,
que é para esquecer o que eu sofria.
Quem sofre fica acordado
defendendo o coração.
Vamos juntos, multidão,
trabalhar pela alegria,
amanhã é um novo dia.”
Irmã Martina Maria González Garcia, SSpS