As missionárias são como as buganvílias do mundo

As buganvílias são flores lindas, delicadas e, apesar de estarem no mundo todo, identificaram-se com a luz latina, o sol e o calor de nossa região. Fazem presença em muitos lares brasileiros, em nosso jardim. E por mais discretas que sejam, não passam despercebidas: são fortes, destemidas e trazem uma potência em cor. A metáfora é perfeita: uma flor missionária, irmãs missionárias.

Em 2002, o Santo Padre João Paulo II escreveu às missionárias servas do Espírito Santo por ocasião de seu Capítulo-Geral: “O mundo tem necessidade de testemunhas”. Essa frase sintetiza a necessidade e a importância de que essa obra ganhasse o mundo, tomasse o globo, levando a Palavra de Deus em forma de missão: fortes, destemidas e com uma grande presença. Como as buganvílias, metaforizando a experiência da missão, a experiência marcante entre a discrição e a presença.

Presença essa em todo o País, cujo tempo, ao longo dos anos, marcou datas emblemáticas que precisam ser comemoradas como uma graça ao duplo encontro: encontro das missionárias com a própria missão. Esse é o caso de uma das mais importantes obras no Brasil: o Colégio Sagrado Coração de Jesus de Belo Horizonte, Minas Gerais. Um augusto baluarte das terras mineiras, testemunha, como disse o Santo Padre, da história de uma cidade que nasceu planejada, elegeu presidentes e transborda buganvílias durante todo o ano.

Dia 8 de dezembro de 2021. Nós, mineiros, belo-horizontinos e missionários, comemoramos juntos os 110 anos deste importante Colégio. Com preparativos que se estenderam durante todo um ano, os festejos desse marco histórico, dessa importante data, mais uma vez, lumiaram, em boas lembranças e afeto, uma manhã de quarta-feira.

Banda da Polícia Militar, missa na capela, bênçãos e pedidos fervorosos para mais que o dobro de anos. Ex-alunos, ex-professores, ex-funcionários em congraçamento com o tempo de quem foi e o tempo de quem está. Irmãs de mãos dadas com crianças, cantando a música de Milton Nascimento: “E me fala de coisas bonitas que eu acredito que não deixarão de existir: amizade, palavra, respeito, caráter, bondade, alegria e amor”. Uma manhã especial, uma data especial!

Havia, porém, uma sala dentro do colégio. Um lugar chamado, como escrito na plaquinha da porta, “túnel do tempo”. E como um filme, foi possível revisitar as fichas de alunos, as fotos, as agendas, as imagens, as turmas, os professores, as irmãs, os lugares, as salas de aula das décadas de 1950, 1960, 1970, 1980… Um compêndio de histórias de vida que se regulavam em um único local: as escadarias e sala do centenário colégio.

Esses registros nos permitiram considerar que a História não tem seu efeito de sentido acerca da memória, ela bate suas estacas na precisão de documentos. O documento inspira, apesar dos seus limites, o fazer historiográfico, contudo, carrega uma pretensão em si, pois a História vai muito além dele. Por perseguir uma universalidade, o documento subjuga a memória. Isso quer dizer que o estatuto próprio da historiografia passa por procedimentos e análises próprias.

Posso compreender que, em cada rosto de cada um dos alunos que encerrou este ano letivo de 2021, aqui, conosco, há um reconhecimento de cada um daqueles que por aqui passaram, em um legado subjetivo e grandioso, cujo tempo, documento e história se fizeram presentes e se (re)encontram em sorrisos muito parecidos no túnel do tempo dos 110 anos.

Entre esses documentos, há alguns que me chamaram a atenção… Um deles foi um certificado de conclusão ginasial de 1965. Um certificado em que a alegria estampada na foto registra um elemento incomum para retratos 3×4 da época: fotos com sorriso. Isso pode nos dizer muito mais da passagem de Elizabeth pela história do Colégio Sagrado do que o conhecimento que temos hoje da história dessa personagem que aqui representa toda uma geração.

Um lugar, um colégio, um tempo em que o sorriso foi capaz de atravessar 56 anos de história e nos atopetar com o êxtase de que a missão, desde então, vem sendo cumprida: significar na vida das pessoas!

Cinquenta e seis anos depois, estamos aqui, juntos e comemorando uma passagem de tempo que nos atravessou em orgulho e satisfação por uma conquista verdadeira, um trabalho honesto e um furor pela continuidade.

São 110 anos de exemplo e transformação em uma comunidade que não se vê mais sem a presença das irmãs missionárias servas do Espírito Santo, como não se vê mais sem buganvílias no jardim.

Tony Charles Labanca
Professor no Colégio Sagrado Coração de Jesus desde 2014.








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