Batismo: missão de “amar como Jesus amou”

Com a celebração da Festa do Batismo do Senhor (em 2022, no dia 9 de janeiro), a liturgia católica conclui o ciclo do Natal. Esta é uma oportunidade de aprendermos muito ou até recordar algumas das bases de nossa fé. É claro: não pretendo nem sei dizer sobre tudo o que essa data representa, mas eu gostaria de aproveitar para dar um enfoque em nosso próprio batismo.

Dias atrás, alguém me perguntou qual era meu santo de devoção. Confesso que tive dificuldades para responder, pois eu gosto e tento ser amigo de todos eles. Conto com o modelo e a intercessão de cada um, cada uma. O tema, contudo, inquietou-me por um bom tempo. Depois de pensar bem, eu descobri ser um devoto do batismo, por tudo o que ele implica em nosso elo com Jesus. Estranho? Por analogia, não! Conheço muitos devotos da Eucaristia, por exemplo.

A liturgia batismal, seja de adultos, seja de crianças, é impressionante pela riqueza dos ritos. Um tesouro! Lamento demais ao constatar que muitas comunidades, apesar da boa vontade, descuidam da catequese batismal (pobremente chamada “curso de batismo”) e da própria cerimônia. É comum ver improvisos, catequistas ríspidos com as famílias, ministros presidentes no “piloto automático”, pais e padrinhos alienados do que está ocorrendo naquele instante. Uma pena! Uma lástima! Uma tragédia!

A palavra “batismo” tem origem na língua grega e significa “mergulho”, “banho”. O dia em que recebemos esse sacramento é único em nossa vida. Pela concretude desses mistérios, diante de nossos olhos, os neófitos são mergulhados em Cristo, encharcados de Jesus. O útero da Mãe Igreja dá à luz, à Divina Luz, seus filhos e filhas. Um legítimo parto; às vezes, até com o choro do “recém-nascido”.

É a hora em que somos “tatuados”, sinalizados, sacramentados com a marca inapagável em nós, mesmo se nosso nome for riscado de um registro formal. É também quando nós, os ramos, somos “enxertados” em Cristo, a videira (João 15,1-11). Isso significa que a seiva de Jesus passa por nós, e a perfumada força do Senhor nos nutre. Passamos, portanto, a ser membros de um magnífico corpo, cuja cabeça é Cristo (1 Coríntios 12,12-13).

Tamanha delicadeza de Deus também nos faz assumir compromissos. Recordo aqui os versos da famosa canção de Padre Zezinho que resumem boa parte de nossa vocação batismal: “Amar como Jesus amou, sonhar como Jesus sonhou, pensar como Jesus pensou, viver como Jesus viveu, sentir o que Jesus sentia, sorrir como Jesus sorria”. Eis nosso chamado!

No início da Igreja, esse sacramento era denominado “iluminação”. Assim, o neófito recebia (recebe) a luz de Cristo para iluminar o mundo. Onde estiver, o batizado precisa ser sinal de Jesus, ser luz no trânsito, no trabalho, em casa, na escola, nos momentos de lazer, até na igreja… Em resumo, o iluminado, iluminada por Cristo tem sempre o dever de, ao sair de um contexto, deixar tudo melhor do que quando chegou. Batismo não é teoria ou formatura, é prática!

Para concluir esta breve exposição sobre alguns dos muitos sinais da liturgia batismal (reforço: a beleza dela é incrível!), eu gostaria de destacar a unção com o crisma. A palavra “cristo”, também de origem grega, significa “ungido”. Provém de “crisma” (“óleo”). Ao sermos ungidos, nós nos unimos a Cristo também por esse aspecto. É outro sinal visível de que somos colocados no mesmo “molde” (configurados) do Senhor (Romanos 8,28-32). Passamos a fazer parte do povo de Deus e podemos chamá-lo de “Papai”.

O batismo é a grande comunhão espiritual com Jesus. Bem diferente do que andam difundindo por aí por liturgias transmitidas. Uma pena existir um grande número de cristãos, das mais diferentes denominações, sem a mínima ideia da riqueza do batismo. Que nossas comunidades de fé e seus animadores avaliem para já a forma com a qual esse sacramento é celebrado.

Neste novo ano e por toda a nossa vida, possamos emanar, com nossos gestos e palavras, a luz que vem do Senhor!

Dedico este texto ao cônego João Parreiras Villaça que, num domingo de carnaval, mergulhou-me em Cristo, e às muitas e muitas crianças as quais tive o privilégio de também encharcá-las de Jesus.

Alessandro Faleiro Marques
Diácono permanente na Arquidiocese de Belo Horizonte, professor, editor de textos para as irmãs missionárias servas do Espírito Santo, membro da Equipe de Espiritualidade da Província Brasil Norte das SSpS.

Deixe um Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *