Querido leitor, veja o quanto você se identifica com as seguintes afirmações: “os deputados e senadores não me representam”, “os políticos são todos ladrões”, “a democracia é o melhor regime político, mas os partidos são desnecessários”.
Uma pesquisa realizada, em 2014, pelo cientista político José Álvaro Moisés, professor na Universidade de São Paulo, revela que 95% dos entrevistados não se sentem representados pelos partidos políticos, 92% afirmam que os políticos são todos ladrões e 45% falam que a democracia pode funcionar sem partidos políticos. Estaria sua opinião em consonância com a maioria dos entrevistados?
O que diagnosticamos aqui é uma forte crise de representação, e um de seus sintomas principais é a falta de confiança nos líderes políticos. A desconfiança nos representantes tem um efeito muito prático tanto na ação de candidatos quanto de eleitores. Em relação aos candidatos, surgem aqueles que buscam se desvencilhar da figura do político, preferindo, por exemplo, apresentarem-se com a imagem de um gestor ou um outsider. Quanto aos eleitores, nota-se um crescente número de votos brancos, nulos e abstenções. Um exemplo disso, foi a eleição realizada para governador, no último dia 24 de junho, no estado do Tocantins, após Marcelo Miranda ter sido afastado do cargo. Houve pelo menos 51,83% de votos brancos, nulos e abstenções.
Com esses poucos dados, temos um sinal de alerta de que nossa jovem democracia percorre um trajeto perigoso. Autores clássicos dizem que o problema é uma questão cultural, uns chegam a atribuir nossas mazelas à colonização portuguesa. Outros dizem que nossos problemas estão no funcionamento das instituições democráticas. Certamente há verdades nessas teorias.
Identificar as causas dos percalços que passamos não é suficiente. Tampouco podemos abandonar esse barco chamado democracia. Converter o seu leme para um novo rumo creio ser a decisão mais acertada. Devemos tomar consciência de que não existe um regime político democrático que não tenha partidos políticos, instituições de representação como o Congresso e o Senado ou sem a participação popular. A democracia, apesar de suas presentes limitações, foi uma conquista que custou o sangue de muitos inocentes, e cabe a nós aperfeiçoar esse regime e não empobrecê-lo. O voto branco ou nulo é uma opção que a própria democracia nos oferece, mas está longe de ser uma alternativa que ajude a resolver a crise de representação em que vivemos. Ao contrário, essa prática pode favorecer a chegada de figuras autoritárias ou indesejáveis ao poder.
Dia 15 de agosto, às 19h, termina o prazo para os partidos políticos e as coligações formadas registrarem seus candidatos que disputarão as eleições de outubro. Saberemos quem concorrerá aos cargos de presidente, senadores, deputados e governadores. Buscar informações sobre essas pessoas, o que elas já têm feito concretamente para o bem comum e o projeto que elas têm para a sociedade é fundamental para um voto consciente. Democracia é o governo do povo, e isso quer dizer que somos todos responsáveis pela construção da sociedade que almejamos.
Irmã Stela Martins, SSpS – Graduanda em Ciências Sociais (PUC Rio) e membro da Diretoria da Redes – Rede de Solidariedade