Quantas vezes você viu pessoas pedindo ajuda para comprar uma passagem ou um remédio? Ou viu seres humanos debaixo de viadutos, pessoas que se tornaram moradores de rua? A demanda de migrantes, de pessoas desempregadas em nosso País é grande. O que fazer?
Neste ano de 2020, a Igreja Católica no Brasil propõe, a partir do período da Quaresma, a refletir sobre o nosso compromisso com a vida, com o outro, com aquele que deveríamos considerar como “irmão”, pois é nosso semelhante, já que chamamos Deus de Pai. Como ser solidário, solidária com o próximo? Jesus, no Evangelho segundo Lucas (10,25-37), dá-nos a resposta ao contar a Parábola do Bom Samaritano. Um estrangeiro que, no caminho, percebeu o outro caído, machucado, necessitado: “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10,33-34). O samaritano não se omitiu ao ver o problema do outro. A importância do olhar foi fundamental para que ele sentisse compaixão, tivesse empatia. Não ficou criticando os que atacaram o transeunte nem teve preconceito com o caído, porque não era da mesma crença ou porque não era seu conhecido ou conterrâneo; preocupou-se em devolver-lhe a vida, levando-o para uma hospedaria para ser cuidado. Por isso o Mestre perguntou quem, dos três personagens da parábola, foi o mais próximo daquele homem necessitado.
Em nossa sociedade brasileira, há diversas situações de dificuldades que precisam ser percebidas, vistas com os “olhos do coração”, ou seja, além das aparências, para que, por meio de atitudes solidárias e cristãs, possam ser geradas soluções, situações de paz. Pequenos gestos são muito importantes para devolver o dom da vida aos semelhantes: olhar para ver a situação do outro, do “próximo”, comover-se com a situação de outrem, não se omitir diante de injustiças, de problemas. Cuidar do outro, auxiliando no que for preciso, encaminhar se necessário; isso também é caridade. A Igreja tem vários exemplos de “samaritanos e samaritanas” comprometidos com o dom da vida, como São Francisco de Assis, São Francisco Xavier, São Vicente de Paula, Dom Hélder, Santa Paulina, Santa Teresa de Calcutá e, mais recentemente, Santa Dulce dos Pobres, que afirmou: “O importante é fazer a caridade, não falar de caridade. Compreender o trabalho em favor dos necessitados como missão escolhida por Deus”. E tantos outros anônimos que oferecem um espaço em sua casa ou num terreno e trabalham no e para o bem dos mais necessitados.
Não seja indiferente, preconceituoso. Faça a diferença, outros que dedicam suas vidas aos menos favorecidos. Não adianta somente olhar o vídeo postado nas redes sociais e compartilhar as situações de misérias ou de violências. Isso é continuar na mesmice. Seja presente e comprometido com a vida, que é dom. Denuncie, caso seja necessário. Faça valer o direito à vida, à liberdade, à dignidade. Que tenhamos mais geladeiras solidárias, serviços de ouvir os que estão acamados, os deprimidos, visitas aos idosos e aos doentes, de levar conhecimento àqueles que estão em busca de apoio para aprender um ofício, dar atenção às crianças e aos jovens caídos pelas sarjetas da vida porque perderam seus pais para os desafetos da sociedade desigual.
Veja, sinta, cuide de tudo que acontece a seu redor para, assim, compartilharmos e criarmos uma sociedade de justiça, de fraternidade e de paz, a partir de projetos éticos, para o bem de todos.
Maria Terezinha Corrêa
Mestra em Antropologia pela USP, especialista em Ensino de Filosofia pela UFSCar, graduada em Filosofia pela UFJF e em Pedagogia pela Unitins, sócia da APEOESP, ABA e SBPC. Carioca, trabalhou por 27 anos na Rede Estadual de Ensino Oficial de São Paulo, lecionando Filosofia e Sociologia, atuou entre os ribeirinhos de Humaitá-AM e em serviços voluntários e pastorais em várias comunidades.