Celebramos, mais uma vez, a Páscoa, a principal festa cristã. A ressurreição de Cristo, celebrada, a cada ano, no primeiro domingo depois da primeira lua cheia, depois do dia 21 de março, que corresponde ao mês de nissan do calendário lunar, é a festa das festas. Grande mistério da fé que dá esperança de futuro para a vida depois da morte.
A ressurreição de Cristo é o fato mais inédito da história humana. Só Deus podia realizá-lo e o fez garantindo a vida que venceu a morte. Não foi por mérito humano, mas por pura bondade, misericórdia e amor divino. Que surpresa maravilhosa viveram os discípulos ao se encontrarem com o Ressuscitado! Alguém que haviam conhecido nas terras palestinenses, com quem conviveram, cearam e o viram morrer crucificado. Embora tivessem ouvido dele a promessa da ressurreição, não haviam entendido ainda, antes de Ele se mostrar vivo no primeiro dia da semana daquela Páscoa judaica.
A partir de então, para os cristãos, a Páscoa ganhou sentido novo, não mais como celebração de uma saída da escravidão do Egito, mas sim como a libertação definitiva do poder do pecado que impedia a comunhão com Deus. A ressurreição não só revogou essa maldição, como abriu as portas da eternidade para todos. Ressuscitar com Cristo é o maior presente oferecido por Deus aos seres humanos.
A esperança de viver eternamente é o bem mais desejado pelo coração humano. Ao morrermos, já teremos um encontro com Deus, em que teremos nosso juízo particular. Depois disso, aguardaremos o definitivo, para ressuscitar com Cristo em nosso corpo glorificado. Não importa o quanto tempo tenhamos de esperar pela Parusia, importa que ela será realidade definitiva que ocorrerá quando Cristo vier de novo. É palavra dele vinculada à sua ressurreição.
Celebramos, em cada Páscoa, esse memorial que não só recorda a ressurreição, mas que a Igreja vive como realidade presente e atual em sua liturgia, cada vez que celebra a Eucaristia.
Antes da vinda de Cristo, esperava-se por um messias. Ninguém imaginara que a salvação trazida por ele fosse do jeito que foi. Pensava-se em um rei poderoso, com grande força, que dominaria tudo e todos. Essa expectativa foi substituída por uma singular manifestação de Deus que se encarnou em Jesus, tomando forma humana, vivendo as vicissitudes humanas, exceto no pecado.
Jesus viveu 33 anos, destes apenas três de forma pública, pregando um reino diferente, em que todos eram convidados a segui-lo, experimentando seu amor e compaixão. Sua misericórdia se esparramou cada dia em que esteve aqui, entre nós, nas diferentes situações vividas pelas pessoas da época, nos doentes, cegos, aleijados, excluídos. A todos acolhia e ensinava o caminho do bem, mostrando-se solidário, sobretudo com os mais fracos. A ninguém negava seu amor e sua bondade. Em todos deixava sua marca; após se encontrar com ele, ninguém voltava do mesmo jeito para casa.
Quantos “Zaqueus” tiveram a felicidade de tê-lo em sua casa! Quantas “Marias Madalenas” foram curadas por ele; quantos cegos passaram a ver de novo; quanta fome saciada pelas multiplicações de pães e peixes; quantos leprosos sarados; quantos ensinamentos dados com autoridade; quanta alegria em Marta e Maria por verem seu irmão ressuscitado por ele! Quanta gratidão na vida da viúva de Naim por ver seu filho reviver! Que mudança na vida do centurião romano vendo se servo novamente com saúde; quanta esperança voltou ao coração daqueles que o procuravam por toda parte para ouvi-lo! Que experiência extraordinária dos apóstolos que comeram a última ceia com ele e o viram instituir a nova e eterna Aliança no pão e no vinho transformado em seu corpo e sangue!
Contudo, quanta dor também no coração de Maria, sua mãe, contemplando-o ferido na cruz. Quanto medo nos discípulos vendo seu mestre sendo preso e torturado. Quanta sofrimento no corpo dele morrendo na Cruz. Quanta contradição humana que, num momento antes, estendia ramos para que passasse, aclamando-o “Bendito aquele que vem em nome do Senhor”, para, logo depois, gritar “Crucifica-o!”. Quanta hipocrisia no julgamento do Sinédrio e nas palavras de Pilatos. Que surpresa comovente na profissão de fé do oficial romano pagão, que o vendo morrer na Cruz exclamou: “Verdadeiramente este homem era Filho de Deus”. Quantos eventos fora das agendas cotidianas ocorreram em tão pouco tempo, mas que mudaram a história da humanidade!
Celebrar a Páscoa é ter tudo isso presente num mundo em que muitos ainda vacilam em aderir à verdade, à vida, ao caminho que é Jesus Ressuscitado. Celebre a Páscoa em sua comunidade, e que seja um momento de fé, de alegria, de esperança e de certeza da presença do Ressuscitado no meio de nós. FELIZ PÁSCOA!
Padre Deolino Pedro Baldissera, SDS