O Centro de Integração do Migrante (CIM) festejou três anos de serviços. Houve uma grande festa e a entrega de diplomas aos 78 alunos que concluíram os cursos de Informática, Língua Portuguesa, Língua Inglesa e Culinária. A confraternização, realizada no dia 16, reuniu alunos, professores, voluntários e amigos, além das missionárias servas do Espírito Santo que levam adiante o trabalho do CIM, no bairro do Brás, em São Paulo.
Neste artigo, Thales Speroni nos ajuda a refletir o que é ser migrante e o que temos em comum com todos os que estão longe de casa e do país. Vale a pena ler!
Somos todos migrantes
Para comemorar estes três anos do CIM, lugar de refúgio e amor, eu queria lembrar uma frase que se escuta frequentemente: “Todos somos migrantes”. Cabe perguntar: o que isso significa? Não seria eu, nascido neste país, no território deste Estado, um nacional, um local? Alguém poderia dizer: você é migrante porque algum parente seu veio de outro país. Mas isso basta?
Pois bem, eu queria dizer que todos somos migrantes, e isso inclui todos mesmo, porque o mundo é um lugar estranho, um lugar de risco, de perigos, de maldade. Todos somos estrangeiros, porque o que temos dentro (a possibilidade de cuidar, de proteger e de fazer o bem) não é deste mundo: é de fora e de dentro, do que foi e do que pode ser.
O que temos dentro nos faz migrantes, pois nos faz iguais ao sermos estranhos a um mundo em que a vitória da justiça não é garantida. O que temos dentro é estranho, não porque é raro, mas porque não é algo que existe de forma automática. O mundo não é um lugar que incentiva o cuidado do próximo, pelo contrário. O trabalho (ou a falta dele), as fronteiras, os preconceitos nos dividem e nos fazem sentir excluídos. Nós nos esquecemos de que, ao fim e ao cabo, somos todos estrangeiros, pois carregamos com a gente um mundo que ainda não existe, mas que pode existir. Basta acreditar e lutar para isso.
Admitir que somos migrantes significa negar as falsas divisões entre as pessoas e assumir o compromisso, rotineiro, diário e permanente, de ajudar, apoiar e cuidar do outro, seja quem ele for, venha de onde ele vier. Ser migrante não se trata de uma bandeira, de um país, de um passaporte. Trata-se de fazer desse lugar, que pode ser qualquer lugar, o nosso. As fronteiras entre os países, mas também entre os credos, as cores de pele, os gêneros, que não foram colocadas por nós, dificultam essa tarefa. Faz a gente facilmente esquecer que, ao sermos todos migrantes, não existe “eles” e “nós”.
O Centro de Integração do Migrante é um lugar de acolhida e hospitalidade, de segurança e de troca, um lugar também de aprendizado e amor. Um convite permanente para que entrem todos os migrantes (ou seja, todos nós). O centro leva a sério a mensagem de que somos todos migrantes, porque ele é um lugar em que o “nós” está acima do “eu”, um lugar em que a ajuda ao outro é sempre uma ajuda a si mesmo, porque como migrantes que somos, “o outro sou eu e eu sou o outro”.
O centro representa um compromisso de vida, das irmãs, dos voluntários e dos colaboradores, mas também daqueles que passaram por aqui. Representa um compromisso que fica marcado na pele, de multiplicar, de fazer o cuidado recebido chegar àqueles que ainda não o recebem. No ano em que eu estive perto do Centro, eu me senti marcado por esse significado e, mesmo não estando mais por perto, eu sempre vou levar comigo esse compromisso e essa mensagem.
Thales Speroni, doutorando em Sociologia, é do Rio Grande do Sul e trabalhou durante três meses como voluntário no Centro de Integração dos Migrantes.
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Principais momentos da confraternização do CIM