Como construir uma República virtuosa

“Liberdade! Liberdade! Abre as asas sobre nós. / Das lutas na tempestade, / dá que ouçamos tua voz.” Quem hoje canta ou se lembra do refrão do Hino da Proclamação da República do Brasil, composto por Leopoldo Miquez (1850-1902) e Medeiros e Albuquerque (1867-1934) um ano depois da queda da Monarquia de Dom Pedro II? Como o Brasil se tornou República depois de 389 anos de regime imperial, em que houve lutas pela liberdade?

Depois de quase quatro séculos de exploração e escravidão indígena e negra, em 15 de novembro de 1889, ocorreu a Proclamação da República. O evento foi retratado na segunda estrofe do mesmo Hino, que diz: “Nós nem cremos que escravos outrora / tenha havido em tão nobre país. / Hoje o rubro lampejo da aurora / acha irmãos, não tiranos hostis”. Infelizmente, essa realidade ainda não vivenciamos desde a Abolição da Escravatura (1888), pois encontramos vários fatos de preconceito étnico até hoje. Há muitos séculos, o Brasil tenta passar uma imagem de uma democracia racial, sendo que a maioria da população brasileira é negra/parda, mas é o segundo país em negritude que mais mata ou comete injustiças contra os afrodescendentes. No entanto, “o rubro lampejo da aurora” traz a esperança da fraternidade em uma democracia a engatinhar.

“Somos todos iguais! / Ao futuro saberemos, unidos, levar / nosso augusto estandarte que, puro, / brilha, ovante, da Pátria no altar.” Esse verso do Hino da Proclamação da República, publicado em 21 de janeiro de 1890, não condiz, ainda, com a realidade. Mais uma vez, podemos constatar que a igualdade na sociedade brasileira é um objetivo a ser atingido. A quem cabe promover uma Pátria igualitária? Como construir uma República justa e solidária?

Quando se pensou a primeira vez em uma república, na Grécia antiga, a educação passou a ser a base para construí-la. Os cidadãos deveriam e devem ser educados para a virtude, pois esta é o fundamento para combater a corrupção do Estado. A virtude da coragem, da sabedoria, da justiça. Para isso, é necessário desenvolver o pensar desde a infância. Com a educação cidadã, o indivíduo aprende a respeitar o outro, a exercer sua liberdade civil sem prejudicar a de outrem.

Ao longo dos séculos, no Estado republicano, desde Platão até Rousseau, a figura do cidadão é vista como virtuosa. Mesmo o Estado de teorias socialistas tem como fundamento o indivíduo prudente capaz de usar a razão sempre para o bem comum. Assim, a importância do ensino da Filosofia nas escolas, que deveria ser desde o início do ensino fundamental, pois é urgente, em nosso País, como República Federativa do Brasil, conhecer seus deveres e direitos, crescer com uma consciência política como exigência da democracia.

Nesse sentido, a primeira estrofe do Hino da Proclamação da República anima todos os brasileiros: “Seja um pálio de luz desdobrado / sob a larga amplidão destes céus. / Este canto rebel, que o passado / vem remir dos mais torpes labéus!”. É nosso desafio ser luz numa nação que ainda tem muitos analfabetos, milhões de famílias abaixo da linha da pobreza, crianças desnutridas, desemprego, dependentes químicos. Liberdade, abaixo a má distribuição de renda, causadora de desigualdade social. Abramos nossas mentes para construirmos uma sociedade emancipadora, ouçamos os apelos de justiça para alcançarmos a paz.

Que as crianças, os jovens, as mulheres, os homens, inatos e estrangeiros de qualquer etnia ou religião, vivam a República do Brasil.

Maria Terezinha Corrêa
Mestra em Antropologia, especialista em Ensino de Filosofia, graduada em Filosofia e Pedagogia, cursou Teologia pelo Mater Ecclesiae. Filiada à ABA, APEOESP, SBPC, SINTRAN e membro da APROFFIB. Atualmente, professora de Filosofia na Prefeitura de São José-SC, voluntária na Comissão de Prevenção e Combate à Tortura (ALESC), na Pastoral da Pessoa Idosa (Arquidiocese de Florianópolis) e, recentemente, da AVCC de Jales-SP.

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