Comunicar como ato de liberdade

Em 3 de maio, lembramos o Dia Internacional da Liberdade de Imprensa. A data foi instituída em 1993 pela Assembleia-Geral das Nações Unidas, tendo como referência a Declaração de Windhoek. Esse documento foi redigido ao fim de um seminário da UNESCO, realizado na Namíbia, em 1991, sobre a promoção da independência e do pluralismo da imprensa africana.

O conteúdo dessa declaração ganhou importância para o mundo todo ao eleger a liberdade, a independência e o pluralismo da imprensa como princípios essenciais para a democracia e os direitos humanos. A data também serve como alerta contra a censura e a violência cometidas a jornalistas por sua atuação profissional.

Para refletir sobre a aspectos relacionados a essa comemoração, entrevistamos o jornalista Amilton Belmonte, 53 anos. Natural de São Borja-RS, ele começou sua trajetória aos 16 anos, como locutor e apresentador de rádio. Formado pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), passou por veículos como Correio do Povo, Rádio Guaíba e Jornal NH. Atuou ainda como coordenador de comunicação da Secretaria da Segurança Pública do Rio Grande do Sul (SSP-RS) e foi diretor do Gabinete de Gestão Integrada (GGI) da Prefeitura de Novo Hamburgo. Desde 2007, é correspondente para a Região Sul do Brasil da Agência de Notícias da Suíça (Swissinfo). Radicado em Santa Catarina, dirige a Belmonte Comunicação e colabora com sites e revistas do País, em temas como segurança, educação e política.

Na entrevista ao Blog das Missionárias Servas do Espírito Santo do Brasil (SSpS), ele fala um pouco do atual contexto quanto à liberdade de expressão e da importância de saber lidar com os novos desafios da comunicação.

Blog SSpS: Qual sua visão quanto ao momento atual da imprensa no Brasil e no mundo: há liberdade de comunicação?

Amilton Belmonte: Acredito que a imprensa brasileira e mundial vive um momento singular, um momento para afirmação. Após esses dois anos de pandemia, ficou claro que comunicar com responsabilidade, transparência e ética é obrigação para os jornalistas, ainda mais em tempo de fake news e ataques à liberdade de informação e aos jornalistas, até por parte de alguns governos, que buscam descredibilizar e desacreditar a profissão. A afirmação das mídias sociais trouxe um avanço espetacular na democratização de informação, mas, ao mesmo tempo, deixou claro que o universo digital das redes é também um território livre, de desinformação, o que pede cuidado e filtros permanentes. Dessa forma, informar com credibilidade, com checagem de fonte e na premissa básica do ponto e contraponto é mais do que obrigação de qualquer profissional sério e com um mínimo de entendimento de sua dimensão social como jornalista e cidadão. Comunicar com seriedade é agora, muito mais do que antes, um ato de afirmação da cidadania, de respeito ao coletivo.

Blog SSpS: Como avalia a transformação do processo de difusão da informação?

Amilton Belmonte: Vivemos um permanente processo de transformação, em muito impulsionado pelas novas tecnologias, cada vez mais inferindo no nosso cotidiano. E esse é um movimento sem volta, que pede adaptação e atenção constante. Mudou a forma como nos relacionamos no pessoal e no profissional, mudou a maneira como a sociedade busca o outro, seja esse outro um serviço de saúde ou uma tele-entrega de comida. Essas diferentes plataformas de comunicação trouxeram facilidades, mas também podem ser entendidas como um desafio não apenas aos profissionais de imprensa ou de outros setores, que precisam, a todo momento, “ler” o que deseja o leitor, ouvinte, telespectador, internauta. Curtir e compartilhar nunca foi tão impactante na nossa vida, para o bem e para o mal. Mas se trata de um desafio diário a todos nós: não há mais zonas de conforto para quase ninguém. Ou você se adapta ou pode ficar fora da onda. E o impacto dessa tecnologia na timeline da vida talvez não consiga nunca ser mensurado, ou melhor, é mensurado quando um WhatsApp, Facebook ou Instagram falha, “bugando” a vida. Na prática, estamos ansiosos, menos orgânicos. Estamos sendo obrigados a lidar com a pressa e a pressão.

Blog SSpS: Qual a posição que o jornalista deve ocupar frente à disseminação de fake news e as pressões por parte de forças políticas polarizadas e de interesses econômicos?

Amilton Belmonte: Essa é a hora da verdade para o bom jornalista, o profissional comprometido e sabedor do seu papel social. É o momento de a imprensa ter a dimensão clara desse papel e agir com ética, transparência e coragem, afirmando e reafirmando seu juramento. Nunca foi tão importante como neste momento a informação com credibilidade, fonte fidedigna, checagem dos fatos. A informação desplugada de ideologias, desconectada de qualquer canga econômica ou pública. Este é o momento da unidade de classe, algo historicamente complexo dentro da nossa profissão. E essa unidade que me refiro também é uma unidade com um foco específico, que é a defesa da democracia e das instituições. Não há outra via que não a democrática.

Blog SSpS: Você acredita que comunicar é um ato de liberdade?

Amilton Belmonte: Sim, a liberdade de informar, de trazer luz a fatos, acontecimentos, pessoas, lugares é essencial a toda e qualquer sociedade. Não vivemos isolados, apenas dialogando com nosso umbigo ou em uma selfie infinita com nosso ego. Somos seres sociais, somos seres que vivemos em coletividade e é na coletividade que acontecem as coisas, é na coletividade que a vida ganha razão. Que comunicar e se comunicar seja essência de diálogo, respeito ao outro, transparência social. Só há comunicação integrativa e afirmativa com liberdade de expressão e só há expressão com liberdade de pensamentos e opiniões.

Saiba mais sobre a Declaração de Windhoek:

https://www.unesco.org/en/articles/30th-anniversary-windhoek-declaration

https://www.europarl.europa.eu/document/activities/cont/201104/20110429ATT18422/20110429ATT18422EN.pdf

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