Num desses dias, fui caminhando, como de costume, de nossa pequena comunidade no bairro da Cohab Adventista até o metrô Capão Redondo, na Zona Sul da cidade de São Paulo. O dia estava muito escuro e com nuvens pesadas de uma tempestade pronta para desabar a qualquer momento.
Andava rapidamente, com receio de que a chuva caísse antes de eu chegar à estação, quando um jovem que vinha em minha direção, sem mais nem menos, parou sorrindo bem na minha frente. Surpresa, fiquei esperando pelo que ele diria, mas o rapaz não disse nada. Apenas me olhou e apontou para o céu atrás de mim.
Sem entender, olhei para trás, e lá estava ele, em todo o seu esplendor: um arco-íris desdobrando-se de um lado ao outro do céu, com um colorido intenso e profundo, contrastando com o céu cor de chumbo. Um dos mais belos arco-íris que já vi em toda a minha vida. Por alguns segundos, maravilhada, fiquei contemplando o espetáculo.
Então me lembrei do jovem que estava diante de mim e o agradeci por ter me mostrado o arco-íris. Sem dizer uma palavra, sorriu e continuou o seu caminho. Também continuei o meu, na direção oposta ao fenômeno. Ficara tão tocada com aquela visão que, por várias vezes, parei e olhei para trás. Precisava caminhar, mas não queria perder aquele belo espetáculo da natureza.
Nas outras vezes que olhei, o arco-íris continuava lá, mas com menos intensidade e, aos poucos, foi esmaecendo. Percebi que havia recebido uma dádiva do jovem desconhecido e fui refletindo sobre o significado daquele momento. Na verdade, pensei, recebi um presente de Deus. O jovem foi apenas o mensageiro, o anjo que me fez parar e olhar na direção oposta. Sem ele, jamais saberia que havia um arco-íris atrás de mim.
Pensei na aliança de Deus com a humanidade, após o dilúvio, e agradeci por Ele continuar presente em nossa vida, em nossa história. Por continuar sua obra criadora, cada dia, de novo. Por me revelar seu amor e seu sorriso naquele dia triste e escuro… Olhei a meu redor, e todos caminhavam apressados e indiferentes. Senti-me privilegiada por ter visto aquele arco-íris e, de alguma maneira, seu colorido se impregnara dentro de mim e mudou meus sentimentos.
Pensei na realidade do Brasil… Vivemos tempos escuros, às vésperas de um temporal… A sensação de insegurança, a situação cada dia mais difícil, as pessoas lutando para sobreviver. Enquanto isso, fui me aproximando da entrada do metrô, e lá estavam os camelôs, tentando contornar, na economia informal, a falta de emprego. Precisavam ser muito criativos para conseguir o sustento de cada dia.
Quantos teriam visto o arco-íris? Como ninguém olhasse para o céu, conclui que não tinham visto. Continuei caminhando e agradecendo a Deus, mesmo quando me misturei à multidão que se apertava nas catracas da estação. Não sei se entendi o que Deus estava me mostrando, mas sabia que Ele havia me tocado no mais profundo e queria me abrir para sua mensagem.
Durante vários dias, continuei a pensar naquele pequeno episódio que, de alguma forma, conectou-me com o Deus que está por trás de todas as coisas. O Deus Pai e Mãe, fonte de amor e de vida, capaz de transformar todas as situações e acontecimentos, por mais desafiadores que sejam, em oportunidades para uma vida melhor e mais feliz. Um Deus que se manifesta dando colorido ao céu tempestuoso e dando sentido ao emaranhado de nossas vidas.
Isso trouxe uma confiança profunda em meu coração. Mesmo quando as coisas não vão bem, quando o sol se esconde, o céu fica escuro e parece que tudo vai desabar sobre nossas cabeças… Deus está lá. Mesmo quando a política é um suceder de escândalos e de desmandos, a economia vai mal e parece que o País não tem mais jeito, nada disso é a última palavra. É como se Deus olhasse para nós e desse uma piscadinha de olhos dizendo: “Acordem! Tudo isso passa! Minha aliança continua! Vão em frente. Levantem a cabeça e olhem para o céu. Vocês podem contar sempre comigo! Olhem também ao redor de vocês. Arregacem as mangas e façam as mudanças que precisam ser feitas! Vocês são parte de minha criação e têm o poder para melhorar a realidade em que vivem! Portanto, não desanimem!”.
Olhando para o céu, devolveria a piscadinha e diria: “Obrigada por ter me mostrado o arco-íris!”.
Irmã Ana Elídia Caffer Neves, SSpS
Jornalista, membro da Equipe de Comunicação Congregacional e coordenadora de Comunicação da Província Stella Matutina (BRN)