Crescimento sustentável pede também justiça social

Nos últimos anos, muito se tem falado sobre a necessidade de um crescimento sustentável para a manutenção da biodiversidade de nosso planeta. Todavia, para que isso aconteça, é necessário que uma série de fatores se desenvolva de forma equilibrada e equidistante. Explico. Não há crescimento sustentável se as populações mais vulneráveis não têm acesso à educação e saúde de qualidade; se diariamente aumenta o número de pessoas em situação de rua, e a miséria, fome e a pobreza atingem níveis volumosos; se os povos originários e as comunidades quilombolas têm suas terras invadidas e devastadas a fim de atender aos interesses de madeireiros e garimpeiros ilegais, movidos pela ganância desmedida; se permanecem as desigualdades de gênero.

De que adianta a economia de um país apresentar dados de crescimento vultosos se, por trás desse crescimento, está o aumento da concentração de riqueza nas mãos dos mais ricos? Se a miséria e a desigualdade social se avolumam? Se a biodiversidade do planeta está sob risco de extinção?

As pessoas precisam compreender que crescimento sustentável envolve ações que vão muito além de medidas que visam a proteger o meio ambiente; elas precisam promover o bem-estar social de todos. Assim, os povos do mundo têm compromisso muito importante. Devem eleger governantes preocupados em fomentar políticas públicas que visem a proteger o meio ambiente, os mais vulneráveis e a combater qualquer tipo de discriminação e desigualdade. Não há futuro para o planeta Terra se o progresso econômico e material estiver associado a ações que continuem a contribuir para a devastação climática e ambiental, bem como não há sociedade civil justa e pacífica se a riqueza produzida no planeta continua concentrada na mão de tão poucos.

Como pode os 10% mais ricos do planeta controlarem 76% da riqueza global? E que 50% dos mais pobres fiquem com apenas 2%? Esses dados que apresento são de 2021 e produzidos pelo Relatório de Desigualdade Mundial, que reúne mais de cem pesquisadores em todo o mundo, fruto de mais de quatro anos de pesquisas. Os especialistas destacaram ainda que a fortuna dos mais ricos cresceu na pandemia, enquanto milhões de pessoas entraram na pobreza.

Consequentemente, se continuarmos a mover nossas ações apenas baseados em interesses financeiros, infelizmente, estaremos comprometendo a existência das futuras gerações no planeta. Em 2022, em recepção a 1500 peregrinos das dioceses italianas de Alessandria e Spoleto-Núrcia, o Papa Francisco destacou que o amor se expressa por meio de ações de partilha:

“Esta busca, através do discernimento, leva a comunidade a crescer com um conhecimento cada vez mais íntimo de Jesus Cristo. Dessa forma, o Senhor da Verdade torna-se fundamento da vida comunitária, entrelaçado por laços de amor. O amor expressa-se por meio de ações de partilha, da dimensão física à espiritual, que dão visibilidade ao segredo que carregamos em nossos ‘vasos de argila’.”

O Papa nos recorda que a construção de uma comunidade cristã passa por uma ação pastoral que procure promover sempre a justiça social. Portanto, a economia, a política, o crescimento e o progresso devem estar a serviço do ser humano e do planeta Terra.

Rafael Cupello Peixoto
Graduado em História pela Universidade Federal Fluminense (2009), mestre em História Social pela Universidade Federal Fluminense (2013), doutor em História Política (2018) pela UERJ, Prêmio Arquivo Nacional de Pesquisa 2019 pela pesquisa de tese de doutoramento intitulada “O marquês de Barbacena: política e sociedade no Brasil Imperial (1796-1841)”. Professor Substituto na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), auxiliar no curso de História da Escola de Formação de Professores no Centro Universitário Celso Lisboa e professor de História para os ensinos médio e fundamental II no Colégio Imaculado Coração de Maria, no Rio de Janeiro-RJ.

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