Há seis meses, a população brasileira está vivendo um tempo diferente, sofrido. Muitos perderam seus entes queridos… O período da pandemia do covid-19, para alguns, tem sido difícil, todavia, para outros, tem sido de oportunidades. Como pátria, somos solidários com todos os familiares que passam por momentos de dor. Mas, o que é “pátria”?
Conforme estudos, pátria é um lugar onde o ser humano nasce ou vive por muitos anos e ao qual se sente afetivamente ligado por valores históricos e culturais. Como cidadãos, defendemos o mesmo território, criamos leis para cumprirmos os deveres e termos garantidos os mesmos direitos. Mas, de que adianta nos reunirmos, votar em representantes se não levarmos em conta as necessidades essenciais dos outros?
Embora ainda a maioria dos cidadãos brasileiros esteja confinada em casa, como idosos, crianças, jovens estudantes e funcionários em trabalho remoto, é muita a empatia com aqueles que são vulneráveis, em situação de rua e desempregados. Mas o que move indivíduos e grupos a se (re)unirem em favor dos mais necessitados? A Palavra.
Não é qualquer palavra, mas a Palavra de Deus, o Verbo; a Palavra que se faz ação. Do mesmo modo que o Verbo (Palavra) se fez carne, também agimos no bem quando nos colocamos no lugar do outro ou procuramos estar a serviço dos mais necessitados.
Costurar máscaras, criar cozinhas comunitárias, buscar e, ou, entregar remédio ou marmita, ir à padaria para a vizinha, ligar para uma pessoa idosa ou que mora sozinha, enfim, transmitir a Palavra. E assim, entrar em comunhão com outros e, consequentemente, consigo mesmo. O alimento que sacia a matéria corporal transcende as paredes ou bancas solidárias, criando laços de reconhecimento da prática cidadã e, também, cristã.
O exemplo das comunidades cristãs, onde “todos tinham tudo em comum” permite que os “invisíveis” tornem-se “visíveis”, isto é, todo cidadão ou grupo de indivíduos passa a ter seus direitos respeitados, embora ainda não seja plenamente o ideal.
O Brasil é a nossa pátria, nossa nação. Todos nós, brasileiros e estrangeiros que aqui habitam, somos responsáveis pela manutenção de nossa flora e fauna, de nossas fronteiras, de zelar pelo meio ambiente, de cuidar uns dos outros, colocando-se no lugar do outro, ter empatia. Para isso, exercitar as virtudes da justiça, da honestidade, da lisura, da prudência, buscar a sabedoria para agirmos com ética é fundamental para eliminarmos os desvios de conduta prejudicial à coletividade.
Nossa Pátria, sendo um Estado laico, acolhe todas as crenças religiosas e respeita os que se dizem agnósticos quanto ao sobrenatural. Há espaço para a diversidade nas dimensões social e política no Brasil, mesmo porque somos uma nação culturalmente plural. As diferenças nos enriquecem. Como um jardim de várias flores, sejamos botões de esperança, sementes da Palavra que gera vida.
Aproveitemos, portanto, este tempo de pandemia para sermos éticos, solidários e também bíblicos, no sentido de buscarmos praticar uma cidadania justa.
Maria Terezinha Corrêa
Mestra em Antropologia, especialista em Ensino de Filosofia, graduada em Filosofia, Pedagogia e Teologia pelo Mater Ecclesiae, professora de Filosofia, filiada à ABA, APEOESP e SBPC; membro da Comissão de Prevenção e Combate à Tortura pela ALESC; voluntária na Pastoral da Pessoa Idosa, ligada à Arquidiocese de Florianópolis.