O Dia Internacional Contra a Discriminação Racial, representa alguma coisa para você? Talvez não, talvez seja apenas mais uma data no calendário… mas se você for negra (0), aposto que significa muito mais do que isso. É uma conquista para o reconhecimento do valor da população negra no mundo e para a superação do preconceito.
Quem vai falar um pouquinho sobre este assunto é a Nilda de Assis Candido, que trabalha no CESEEP (Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular) como coordenadora de cursos e responsável pela formação de militantes cristãos e, há 4 anos, em contato direto com as questões que atingem as minorias.
Numa entrevista exclusiva para o blog, ela conta que no CESEEP, os cursos “de pastoral e relações de gênero, buscam fomentar o estudo e a reflexão em torno das temáticas urgentes na sociedade. Os temas permeiam a vida das agentes comunitárias e de organizações não governamental e política sobre a questão de como entendemos as relações humanas dentro dos espaços comunitários e de poder dentro da sociedade” – Explica Nilda.
1 – Qual é a sua experiência com mulheres no CESEEP?
“Neste ano de 2018 trabalhamos sobre o Feminismo em Sociedades Racial e Socialmente Desiguais, um trabalho em parceria com o Geledés – Instituto da mulher Negra. Tivemos a presença de representantes da Argentina, Chile, Bolívia, Cuba e do Brasil. A proposta de estudo foi assertiva, por discutir sobre as desigualdades sociais. Ao abordar as desigualdades levanta-se diversos conflitos; de classes, sexo e raça. E, em se tratando de feminismo em sociedade, olha-se para o lugar em que estão inseridas e sempre predomina um lugar de disparidade pelo fato de serem mulheres. E, sofrem, ainda mais pela discriminação e o racismo”.
2 – Você considera que no Brasil ainda exista muito preconceito racial?
“Sim, está inserido na história brasileira. Referindo-se ao tratamento dado as pessoas negras, aí sim, temos um preconceito, porque temos um recorte racial que envolve a cor da pele. Socialmente, traz uma concepção de que negro ou negra carrega na sua existência estigmas depreciativos pelo simples fato de ser negro ou negra. Nas ruas vemos isso. Quem são os primeiros a serem abordados em uma diligência policial? O jovem negro. O Atlas da Violência 2017, lançado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública nos mostram que homens, jovens, negros e de baixa escolaridade são as principais vítimas de mortes violentas no País. A população negra corresponde a maioria (78,9%) dos 10% dos indivíduos com mais chances de serem vítimas de homicídios. Os dados foram publicados no dia 5 de junho de 2017 pela Carta Capital e nos confirmam a existência do preconceito e a discriminação em nossa sociedade”.
3 – Você acredita que uma grande porcentagem da discriminação seja destinada às mulheres negras?
“Sim, temos de entender que a mulher negra, dentro de escala social, é quem mais sente as consequências. Quem entra no mercado de trabalho é o homem não negro, logo em seguida, com salários menores, as mulheres não negras. É depois que vem o homem negro. Neste caso em que situação fica a mulher negra? Em último lugar, e é ela que irá sentir o peso de tamanha desigualdade. Ficará em uma posição de total desvantagem na escala social por ser negra.
Exemplo: anúncios de empregos para pessoas de boa aparência. Qual tipo físico está se buscando, qual perfil? Nem sempre é o perfil da pessoa negra. A questão se coloca porque não paramos para pensar sobre isso. Só pensa nestas situações quem as vivencia no seu cotidiano. E quem vivencia estas situações estão sempre nas periferias das cidades.
Há avanços sobre o entendimento do problema e formas legais para apoiar as vítimas de racismo ou qualquer tipo de discriminação. Nos últimos anos, com a organização de grupos sociais, há um amplo material literário que vem surgindo e ressurgindo no cenário social que ajuda a entender e a enfrentar a questão. Um caso é a redescoberta de Carolina de Jesus em seu belo livro “Quarto de despejo”. E outras figuras públicas escrevem e militam há muito tempo nos movimentos de mulheres negras como: Sueli Carneiro e Djamila Ribeiro. São uns dos exemplos que ajudam a entender a questão”.
4 – O que uma mulher negra deve fazer quando é discriminada?
“Procurar ajuda e denunciar. Não há outro caminho. Não se sentir sozinha”.
5 – O que podemos fazer para que este quadro mude?
“O caminho é a educação. De modo particular, a educação popular tem muito a contribuir no processo de discussão e multiplicação da informação nos diversos coletivos que existem espalhados pela cidade, como rodas de conversas, saraus, carreatas poéticas na periferia do Grajaú e nas redes sociais. Uma educação popular como Paulo Freire enfatizava, a partir da realidade das pessoas. Ressalto à importância da escola, ela tem um papel fundamental neste processo de retratar sobre o assunto entre os alunos e alunas e seu corpo docente dentro das atividades curriculares. E, também as comunidades religiosas”.
O que acharam desta entrevista? O tema é bem pertinente aos dias de hoje? Comente o que você achou.