Em 26 de julho, é comemorado o Dia Nacional dos Avôs e Avós. A Igreja Católica celebra nessa data também o dia dos avós de Jesus: Joaquim e Ana. Falar sobre o papel dos avós geralmente envolve diferenciar como cada cultura trata o idoso. De maneira comum, os avós têm de lidar com situações adversas devido à fase do desenvolvimento em que eles se encontram: a velhice.
Apesar do destaque que o tema tem ultimamente, no dia a dia, a velhice não é um dos temas preferidos para discussão em alguns ambientes: lar, bar, trabalho, escola, mídia, redes sociais. Nem tampouco interessa ao mercado consumista. É como se fosse uma viagem que todos sabem que farão um dia, mas pensam que há muito tempo para se preparar. No entanto, o tempo passa rápido, e a maioria não se prepara para a viagem, e então tudo se improvisa.
O fato é que a viagem poderia ser agradável. A velhice é uma fase de colheita de frutos do que se plantou na juventude e na adolescência. Para a psicanálise, é um tempo de acertar as contas com o passado, especialmente com a infância. É um tempo de superação, de elaborações de adaptações.
Muitos aspectos influenciam uma velhice saudável ou não. A forma como se viveu o mundo do trabalho é uma delas. A aposentadoria ganha a dimensão de recompensa, de fruto do suor do trabalho, de promessa de descanso e de oportunidade para realizar sonhos que foram preteridos. Muitos avós, porém, continuam a trabalhar depois de aposentados, para ajudar a custear os estudos dos netos, inclusive até o ensino superior.
Se o aposentado puder contar com o apoio da família e dos amigos, esse tempo poderá se aproximar do sentimento de realização. Se esse apoio lhe for negado, haverá tempos de ansiedade, de depressão, de solidão, de luto e, quem sabe, até de melancolia. Enfim, caso a viagem seja frustrante na chegada, o idoso aposentado poderá contar com o suporte dos “agentes de viagem” multidisciplinares: psicólogos, gerontólogos, sociólogos, assistentes sociais, instituições filantrópicas, ONGs, clubes, associações, que tentarão proporcionar-lhe uma estada agradável nesta que será a última viagem de sua vida.
Apesar dos descasos, abusos, exploração, abandono e desvalorização de nossos avós, encontramos alentos no pensamento oriental que mais se aproxima das recomendações bíblicas, especialmente encontradas no Livro do Eclesiástico. O confucionismo, por exemplo, tem como base a família e a obediência ao ser humano idoso. A autoridade do patriarca mantém-se elevada com a idade, e até mesmo a mulher, tão subordinada, na velhice, tem poderes mais altos do que os jovens masculinos, tendo influência preponderante na educação dos netos.
Para Confúcio, a autoridade da velhice é justificada pela posse da sabedoria. Em relação a ele próprio, completava que, aos 60 anos, o ser humano compreende, sem necessidade de refletir, tudo o que ouve; ao completar 70 anos, pode seguir os desejos de seu coração sem transgredir regra nenhuma. Dizia ainda que sua maior ambição era que os idosos pudessem viver em paz e, principalmente, que os mais jovens amassem esses seres (SANTOS et al., 2001, p. 3).
Apesar da realidade contraditória do Ocidente em relação aos avós, em nossa cultura brasileira, as palavras “avô” ou “avó” evocam sentimentos variados: saudade, carinho, gratidão, ternura, sabedoria, aconchego, segurança, respeito, entre outros. Ainda assim, nossos avós precisam ser mais bem tratados e reconhecidos com gratidão. Ter avô e avó é tão bom que até Deus quis que Jesus os tivesse.
Vivam nossos avós!
Para saber mais
SANTOS, Giorvan Anderson Alves dos; LUCENA, Brunna Thais Luckwu de; VASCONCELOS, Manuela Leitão de; DELGADO, Isabelle Cahino. Aspectos sociais, linguísticos e cognitivos na terceira idade. Revista Prolíngua, v. 8, n. 2, jul./dez. 2013. Disponível em: https://periodicos.ufpb.br/index.php/prolingua/article/view/19343
Padre Aparecido Luiz de Souza, SVD