A palavra diálogo tem sua raiz no grego, cujo prefixo “diá” significa “através de” e “logos” que quer dizer “palavra”, “saber”. Resumindo: diálogo é o processo de conhecimento através da palavra. O diálogo, nesse sentido, envolve sempre duas ou mais pessoas que, pela conversa, buscam o conhecimento sobre um determinado assunto. É uma conversa interativa entre duas ou mais pessoas. Supõe, portanto, que um compreenda o outro em sua maneira de ver o mundo e interpretá-lo. Parte-se do princípio de que todos têm algo a contribuir na busca da verdade.
Para dialogar, é preciso uma atitude de abertura para acolher a opinião do outro, livre de preconceitos, procurando ouvir o sentido real da forma como o outro vê. Muitas vezes, ocorre que, quando alguém começa a emitir uma opinião, alguém já o corta e diz “Ah, já sei o que você quer dizer”, e conclui pela pessoa, sem dar ouvido às conclusões do outro, que podem ser bem diferentes do “ah, já sei”.
Num diálogo nem sempre se chega a uma conclusão consensual. Na verdade, não se é obrigado a concordar com alguém se a opinião dele diverge frontalmente com as próprias convicções. Contudo o bom dialogante respeita a opinião divergente sem se tornar inimigo ou beligerante. O diálogo supõe respeito pelo outro e pelo que pensa.
A Campanha da Fraternidade deste ano de 2021 propõe “Fraternidade e diálogo: compromisso de amor”. Ela é ecumênica, que significa que várias igrejas cristãs participam dela, sendo que cada uma tem a própria doutrina, com alguns aspectos divergentes umas das outras, contudo o diálogo é possível sobre os pontos em comum. O grande objetivo da campanha é a busca da “paz” oriunda de Cristo. Como a Campanha diz, Cristo é nossa paz. Quanto a isso todas as igrejas participantes concordam, e o diálogo é feito para realizar essa paz na sociedade dividida por discórdias, ódios, separações, preconceitos.
Num mundo tão plural em ideias e ideologias, mais do que nunca, é necessário o diálogo permanente na busca da verdade para uma convivência pacífica. O igualitarismo seria tedioso e negaria uma característica humana que é a da complementariedade em todos os níveis. Nenhum cientista é capaz de realizar todas as descobertas. Cada nova iniciativa de pesquisa sempre parte de algo já conhecido, portanto, de alguém que pesquisou antes e abriu janelas para novos conhecimentos. Nesse sentido, nenhuma ciência é completa em si mesma. A Física precisa da Química, que precisa da Matemática, que precisa da Sociologia, da Filosofia, da Teologia; assim cada uma contribui com o seu saber para complementar o conhecimento mais amplo do mundo e da complexidade que envolve o universo.
Pode-se falar em diálogo então em todos os níveis, desde a convivência familiar, diálogo entre seus membros; da convivência social com grupos heterogêneos; das relações entre povos e nações; das teorias econômicas, das relações de negócios; das crenças diferentes, das cosmologias discutidas nas diversas teorias.
Dialogar é preciso para manter viva uma característica básica do ser humano, que é a convivência com seus pares e com o mundo em que habita. Não estar aberto ao diálogo é caminhar na contramão da vida e fechá-la em horizontes muitos pequenos. Quem não dialoga se perde no próprio caminho e se distancia da convivência pacífica com os demais.
O diálogo envolve um aprendizado, que supõe respeito pelo outro e pelo que pensa, admitindo que a verdade total não está só de um lado e que há espaço para todos e liberdade de expressão das próprias ideias e sentimentos. O bom senso diz que ninguém pode ultrapassar os limites quando isso ofende, intimida ou menospreza o outro. A liberdade de cada um termina onde começa a do outro. Dialogar é também respeitar limites. Por isso é dialogando que se pode chegar ao mais próximo da verdade. Ninguém dialoga sozinho, isso seria manifestação de doença psíquica. Dialogar, portanto, implica relação com o outro. Dialogar é abrir a porta para a convivência sadia e humanizadora. Humanize-se dialogando!
Pe. Deolino Pedro Baldissera, SDS
Padre salvatoriano há 43 anos, professor e psicólogo pela Universidade Gregoriana de Roma, com mestrado em Psicologia e doutorado em Ciências da Religião. Atualmente é pároco em Videira-SC.