Diversidade cultural versus etnocentrismo

Você respondeu, no censo do IBGE 2022, sobre a sua identidade? Sua origem étnica é amarela (ou asiática), branca, indígena, negra, parda? Qual é sua etnia? Você conhece suas origens?

No Brasil, há uma diversidade social e cultural muito grande devido à miscigenação de etnias, ou seja, o cruzamento de várias etnias. Assim, o conceito de diversidade cultural perpassa pelo respeito às diferenças.

O que é diversidade cultural? A diversidade cultural são diferenças culturais que existem entre o ser humano. Há vários tipos, tais como linguagem, danças, vestuário, religião e outras tradições; é algo associado à dinâmica do processo da organização da sociedade. Nesse sentido, a cultura insere o indivíduo no meio social. Pessoas que, por algumas razões, decidem pautar suas vidas por normas pré estabelecidas tendem a esquecer suas próprias culturas.

Ao longo dos séculos, o ser humano tem sido objeto de estudo, principalmente no que diz respeito às suas diferenças em relação aos outros seres. Geneticamente, somos todos da mesma espécie, embora, aparentemente, pareçam diferentes. A diversidade de culturas nos enriquece. Infelizmente, contudo, ao longo da história, confundiu-se “etnia” com “raça”, que, biologicamente, são conceitos diversos. “Etnia”, em Antropologia, significa “coletividade de indivíduos que se diferencia por sua especificidade sociocultural, refletida principalmente na língua, religião e maneira de agir; grupo étnico”. Palavra que vem do grego ethnos, que quer dizer povo que tem o mesmo costume. “Raça” é uma categoria das espécies de seres vivos, utilizada pela Biologia como forma de classificação. Em termos sociais, é usado pelo senso comum para determinados grupos étnicos com base em suas características genéticas.

Infelizmente, a falta de conhecimento do modo de vida dos vários grupos sociais gerou o racismo e o etnocentrismo que, até hoje, causa violência física e psicológica nas sociedades. Segundo o dicionário, o “etnocentrismo” significa “visão de mundo própria da pessoa que considera a sua sociedade, sua nação ou grupo étnico superiores aos demais”. Até hoje, vemos isso ocorrer em várias partes do mundo e do Brasil.

Para combater o preconceito racial e o etnocentrismo, no Brasil, criaram-se algumas leis para garantir a dignidade do cidadão brasileiro. Desde a Constituição Federal de 1988, o racismo passou a ser crime inafiançável em nosso País, conforme estabelecido o artigo 5º, incisos XLII e XLIII. A busca pelo reconhecimento da luta e da resistência da negritude também promoveu o 20 de novembro como o Dia Nacional da Consciência Negra, por ter sido nessa data que Zumbi dos Palmares foi assassinado em um dos quilombos, além de Dandara e muitos outros negros que lutaram pela liberdade. 

Para reparar o erro histórico em nossa sociedade, as Leis nos 10.639/2003 e 11.645/2008 estabeleceram a obrigatoriedade, nas diretrizes e bases da educação nacional, de incluir, no currículo escolar, o conteúdo História e Cultura Afro-brasileira e Indígena, resgatando a contribuição e a luta do povo negro e dos povos indígenas nas áreas social, econômica, cultural e política de nosso País.

A Filosofia africana também tem refletido a importância da valorização da ancestralidade como conceito fundamental para a identidade afrodescendente no Brasil e a compreensão de nossa diversidade cultural brasileira, de acordo com o filósofo Eduardo Oliveira (1926-2012), Renato Nogueira (1972, UFRRJ), Djamila Ribeiro (1980, PUC-SP), Wanderson F. Nascimento (1977, UnB) e tantos outros que têm pesquisado sobre a questão da negritude na cultura brasileira.

Um tema específico da Filosofia africana é o ubuntu, que significa “eu sou porque tu és”. Relaciona-se à força vital que permeia toda a cultura africana, em sua concepção sobre a humanidade. É um elemento fundamental para a identidade afrodescendente no Brasil e para o ensino. Portanto, quando estamos em público ou sozinhos, devemos respeitar as pessoas, independentemente de suas origens, credo, sexo, além do que diz. Para isso, devemos desenvolver a empatia para auxiliar a conduta do outro.

Empatia é “ação de se colocar no lugar de outra pessoa, buscando agir ou pensar da forma como ela pensaria ou agiria nas mesmas circunstâncias. Aptidão para se identificar com o outro, sentindo o que ele sente”. Então, vamos viver nossa humanidade? Respeitemos a todos, valorizemos e reconheçamos as lutas afrodescendentes e ameríndios. A diferença nos enriquece. Axé para todos!

Maria Terezinha Corrêa

Mestranda em Filosofia, antropóloga, especialista em Ensino de Filosofia, graduada em Filosofia e Pedagogia, filiada à ABA, APEOESP, SBPC, Sintram, Aproffib, agente da Pastoral da Pessoa Idosa e professora de Filosofia na rede pública da Prefeitura de São José-SC.

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