“Ninguém tire a minha fé” foi a expressão que me impactou ao visitar seu Camilo. Encontrei-o à porta de sua casa, em seu andador (segundo ele, seu carro de quatro rodas!). Fui visitá-lo dentro do programa da Paróquia, de visitas aos doentes, em preparação para o Natal. Conversando com ele, contou-me sobre as origens de sua fé, que vêm de longe, das terras de Minas Gerais. Foi aprendida no seio familiar, com o testemunho do pai fiel e religioso. Desde quando seu Camilo era criança, o pai o levava à igreja todos os domingos e o ensinava, e praticava a fé.
Hoje, seu Camilo está com dificuldades para se locomover, por isso usa o andador, com o qual se arrisca a sair de casa autonomamente e cuidar de seus “negócios”, ir ao médico, ir à farmácia comprar seus remédios. Seu Camilo irradia alegria e otimismo. Num dado momento de nossa conversa, afirmou, com toda a convicção, “Posso perder tudo, mas não tirem minha fé” (sic), para significar que sua fé é sua maior riqueza e sua segurança. Fala dela com convicção e sem rodeios, pratica-a em suas orações, em sua casa, mas também na solidariedade com uma família carente próxima de sua casa, para quem faz campanha para compor cesta básica, com a qual também ele contribui.
A casa de seu Camilo é simples. Sua esposa controla os mais de vinte medicamentos que ele precisa tomar. Em sua casa, não há lugar para depressão e lamentos sobre a vida. Há, sim, um clima leve e alegre. Gosta de contar histórias, e seu referencial é sempre sua fé inabalável. Por isso ela é sua maior riqueza; que “Ninguém tire minha fé!”. No pouco tempo que fiquei em sua casa, saí edificado. Dei-lhe a unção dos enfermos e a comunhão, que recebeu com muita piedade.
A fé praticada por seu Camilo, encontrei-a também em dona Maria. Há 46 anos, cuida de sua filha, pessoa com deficiência, totalmente dependente. Com zelo de mãe, que não se cansa dos cuidados, ela também me disse: “Vivo de minha fé!”. Seu cuidado com a filha é sua oração diária, acompanhada pelas “Ave-Marias” que reza ali, junto à filha, porque não pode ir à igreja. Sua casa é sua igreja doméstica. Ali, no cuidado da filha, vive sua “religião” e pratica sua fé.
Ela tem autoridade em dizer que tem 86 anos, “vivo de minha fé”. Uma fé testada ao longo dos anos. É uma experiência consolidada, vivida na simplicidade, em sua casa simples. Não ouvi nenhuma queixa por ter uma filha com deficiência. Vi o exemplo de sua dedicação e seu carinho com que atende todas as necessidades da filha, quase imóvel.
Estamos próximos do Natal, a festa cristã que nos põe diante do mistério da encarnação do Filho de Deus. Entre os diversos dons trazidos pelo Salvador está o da fé. No Natal, se vive e renova a esperança da salvação, pois Deus se fez certeza no meio de nós, como diz o profeta Isaías (7,14), Ele é Emanuel (Deus conosco).
Em nosso tempo, em quase em todos os lugares do mundo, faz-se festa no Natal, embora, muitas vezes, desvirtuada, sendo apenas uma festa pagã, porque se ignora a presença do Emanuel e se reduz a comilanças e trocas de presentes, ignorando-se o significado da presença daquele que é a razão da festa.
Nosso mundo está carente de pessoas como seu Camilo e dona Maria. Muitos já perderam sua fé ou mesmo nem a receberam, porque não se aproximaram nem fizeram a experiência dela em sua vida. Muitos vivem uma fé natural, aquela necessária para levantar-se a cada dia, confiando apenas em seus recursos, iludidos de que basta, para seu caminho, acreditar apenas em si mesmo, de forma narcísica.
A fé é um dom que se recebe; para nós, cristãos, em nosso batismo. Ela é o baluarte para todos os momentos, de alegria, de doença, de sofrimentos…
O testemunho de seu Camilo e Dona Maria seja para nós estímulo para vivermos um Natal na fé no Emanuel. Que nenhuma ideologia contrária à verdadeira fé nos esvazie do significado do Natal e, com seu Camilo e dona Maria, possamos também nós reafirmarmos: “Ninguém tire minha fé”, pois “vivo de minha fé”.
FELIZ NATAL com a fé que nasce do Menino Jesus!