“Creio na ressurreição da comunidade”
Nas suas aparições, o Cristo Ressuscitado reconstrói relacionamentos rompidos, recria sua comunidade de amigos e amigas com um estilo de vida diferente e os envia em missão. Ele é o gerador e centro da nova comunidade de irmãos e irmãs. As aparições vão do individual ao comunitário, e do comunitário à missão.
O(a) seguidor(a) de Jesus, durante o percurso pascal, vai se revestindo de uma atitude profundamente eclesial, de maneira que o seu sentir, pensar, falar e agir reflitam o sentir, pensar, falar e agir da grande comunidade cristã. Por isso, os encontros com o Ressuscitado desembocam na comunidade.
Nesse sentido, os evangelhos dão especial destaque à presença e ação do Ressuscitado na reconstrução e formação de sua comunidade. De fato, as aparições públicas têm como pano de fundo um sentido eclesial. Remetem à comunidade como lugar de encontro com o Senhor Ressuscitado que manifesta o “ofício de consolar” (S. Inácio – EE 224).
Consolar é o que define a ação do Ressuscitado, transformando a situação dos seus discípulos e discípulas: a tristeza se converte numa alegria contagiosa; o medo, em valentia e audácia; a negação de Jesus, em profissão de fé e martírio… Não se trata de um ato pontual, senão de um “ofício”, que definirá para sempre a atividade de seu Espírito no mundo.
Nas cenas evangélicas das aparições, o efeito da presença do Ressuscitado sobre os discípulos e discípulas termina sempre em reconhecimento, em chamado e envio, em restauração de uma vocação e missão.
Jesus ressuscitado exerce sobre eles(elas) um original “ofício de consolar”, cujo efeito é iluminar o caminho pelo qual, em seu nome e com Ele, eles e elas hão de percorrer. O “ofício de consolar” é a marca do Ressuscitado, é força recriadora e reconstrutora de vidas despedaçadas; Ele vai reconstruindo as pessoas quebrados(as) pelo fracasso, pela tristeza, pela decepção… Jesus “ressuscita” por dentro cada um dos seus amigos e amigas, ativando neles(as) o sentido da vida, refazendo os laços comunitários rompidos, e sobretudo, oferecendo solo firme a quem estava sem chão, sem direção…
+ Na alegria da ressurreição, prepare a oração, criando um clima de profunda intimidade com o Ressuscitado.
+ Suplique a Deus o dom da alegria com Cristo Ressuscitado; que a experiência da Ressurreição o(a) impulsione a viver com mais intensidade em comunhão com toda a humanidade e toda a Criação.
+ Antes de “entrar em contemplação”, repasse os “pontos” seguintes:
– A comunidade cristã é uma comunidade de amigos(as) que se deixa conduzir pelo mesmo Espírito do Ressuscitado, soprado sobre cada um deles(elas). O Espírito continuará atuando no(a) seguidor(a) através da comunidade cristã. Escutar o Espírito no interior de si próprio e no exterior visível da comunidade significa estar convencido de que é o mesmo Espírito que atua na própria interioridade e na comunidade dos seguidores de Jesus.
Sentir-se comunidade exige um contínuo discernimento para perceber o modo como Cristo age na sua comunidade através do seu Espírito, que suscita diferentes carismas para o serviço.
– O caráter apostólico, o senso de universalidade e o enfoque fraterno, tão característicos do Tempo Pascal, pedem uma expressão comunitária que, mesmo respeitando o princípio da encarnação em realidades concretas e diversas, abre a pessoa para a complexidade dos problemas do mundo e da Igreja, impulsionando-a a ultrapassar os limites geográficos, afetivos, sociais, religiosos…
Os laços fraternos vividos no interior da comunidade se visibilizam na amizade com todos; podemos dizer que a comunidade cristã é “comunidade de amigos no Senhor”: amizade que vai se expandindo e se revelando como atitude aberta e acolhedora de todos; amizade que se manifesta como prolongamento do “ofício do consolar”, exercido pelo Ressuscitado.
– Todos somos chamados a ser presença consoladora; a experiência da Ressurreição nos move a “descer” junto à realidade do outro (seus dramas, fracassos, perda de sentido da vida…) e exercer este ministério humanizador, ou seja, “vida que desperta outras vidas”.
É vida plenificada, iluminada, integrada… pela experiência de encontro com o Ressuscitado e que flui em direção à vida bloqueada, necrosada… ativando-a, despertando-a…
É movimento expansivo da vida.
Como homem e como mulher, trazemos esta força interior que nos faz “sair de nós mesmos” e criar laços, fortalecer a comunhão… Esse movimento é fortalecido pela experiência da Ressurreição.
O ser humano não é feito para viver só; ele necessita “con-viver”, viver-com-os-outros.
A fraternidade, a vida em comum, se mede pelo amor, por atos e gestos de doação, por vivências de comunhão, por experiências reais de partilha…
O ser humano é um ser constitutivamente aberto, essencialmente em referência a outras pessoas: estabelece com os outros uma interação, entrelaça-se com eles, e forma um nós: a comunidade.
As duas realidades – pessoa e comunidade – não se opõem, mas se condicionam e se complementam.
“A pessoa faz a comunidade e a comunidade faz a pessoa.”
O sentido da vida em comum é um dom de Deus, que nos foi dado a todos.
Uma comunidade de ressuscitados não é um fim em si mesma. Ela deve ser comunidade aberta à comunhão e partilha, apostólica, reunir para o serviço todos os que, nas pegadas do Mestre, querem se unir para trabalhar com Ele, seguindo-o de perto, na vocação específica de cada um.
Uma comunidade cristã é uma comunidade “conspiratória”.
Conspiração, palavra bonita de origens esquecidas.
Conspirar, “com-inspirar”, respirar com alguém, juntos.
Conspiradores: respiram o mesmo ar, o mesmo sonho, a mesma utopia do Reino.
+ Leia o evangelho de Mt 28,1-10; com a imaginação, acompanhe as mulheres até o sepulcro de Jesus; com elas, reviva a experiência de encontro com o Ressuscitado.
+ Faça “memória” das experiências de consolação, suscitadas pela Graça de Deus ao longo desta Quaresma.
+ Recorde pessoas que foram “presenças consoladoras” em sua vida.
+ Traga à memória situações em que você foi o(a) mediador(a) da consolação de Deus.
+ Rezar sua comunidade eclesial, sua pertença e compromisso.
Iluminar a madrugada e tecer liberdade, nutrir a vida de compaixão e amizade, celebrá-la e oferecê-la de verdade, orar… Esse é o movimento de Ressurreição. É isto que o evangelista João quer destacar quando escreve que Madalena “saiu correndo”, que Pedro e João “corriam juntos”.
Que a Páscoa seja um tempo de movimento e cada um(a) descubra o horizonte de vida para onde correr!
Um Santo Tempo Pascal a todos e todas!
Padre Adroaldo Palaoro, SJ
Diretor do Centro de Espiritualidade Inaciana (CEI).