O provérbio africano que diz que “é preciso uma aldeia inteira para educar uma criança” é bem conhecido. O que realmente, no entanto, pode se aplicar dessa afirmação em nosso contexto educacional?
Faz parte do senso comum a afirmação de que a formação das crianças e jovens é extremamente importante para a sociedade e que, por isso, a educação deve ser valorizada. Porém as práticas escolares pedagógicas dentro dos “muros” da escola e a educação que “vem de casa”, ou seja, o que é compartilhado no ambiente familiar, bastam para o processo de formação integral de nossas crianças?
Para responder a essas questões, precisamos entender as transformações pelas quais a sociedade passou e como ela se encontra, hoje, no século XXI. As exigências econômicas e de trabalho carecem, cada vez mais, da força de trabalho dos adultos das famílias, e, com isso, o envolvimento entre família, escola e comunidade se torna cada vez mais urgente.
O ambiente da sala de aula já é, hoje, insuficiente para dar conta das demandas das crianças e adolescentes que já têm acesso ao mundo a partir de um clique. Educar no mundo contemporâneo é uma tarefa que deve ser abordada de modo amplo e irrestrito. O entendimento de maneira fragmentada do ser humano é ultrapassado, e a escola não pode ser apenas o espaço para ensinar os conteúdos pedagógicos.
Dessa forma, entendemos e nos posicionamos, como escola viva, como espaço que, em parceria com a família e com a comunidade, favoreça experiências que contribuam com a forma como nossos alunos vão se posicionar no mundo. Assumir a responsabilidade de garantir às nossas crianças ambientes acolhedores, que permitam, ao mesmo tempo, o desenvolvimento da autonomia e facilitem vínculos afetivos é imprescindível para formar indivíduos que sabem se colocar no mundo, conscientes de suas responsabilidades sociais.
Para as crianças e adolescentes, é fundamental a convivência com seus pares e também com adultos, e a escola favorece esses relacionamentos. Além disso, é importante que a escola favoreça e estimule o contato e envolvimento social para além de seu espaço físico.
Em nossas escolas, incentivamos momentos que possibilitam o contato de nossos alunos com pessoas diferentes de seu convívio familiar e escolar, tais como estudos do meio, palestras com profissionais de diferentes áreas para conversar sobre as relações de trabalho e diferentes carreiras a serem seguidas para os alunos do terceiro ano do ensino médio; trabalho da pastoral com a participação dos alunos em serviço às pessoas em situação de vulnerabilidade; entre tantas outras ações.
Entendemos que expandir as trocas sociais e fornecer experiências como as citadas acima traz sentido para o provérbio que mencionamos no início deste texto e permite um olhar sensível para a educação e, principalmente, para os educandos. Sim, somos seres relacionais, e a alteridade nos é intrínseca. Portanto, hoje, mais do que nunca, é preciso de uma aldeia inteira para educarmos nossas crianças e fazemos isso em parceria: escola, família e comunidade.
Beatriz Von Lasperg Careli é professora do Colégio Espírito Santo, em São Paulo-SP.