A ecologia integral constitui importante legado do Papa Francisco, que a mencionou dez vezes na Encíclica Laudato si’. Uma de suas dimensões é política, exigindo disponibilidade para a escuta atenta, a mediação, a promoção da participação e a construção de consensos. O Papa Francisco ensinou tudo isso pelo exemplo e deixa saudades…
Seguimos com saudade e esperança!
Esperança no pontificado do Papa Leão XIV, ao oferecer a mediação do Vaticano para silenciar as armas no mundo. Que seja venturoso na articulação participativa em prol da vida, da dignidade e da paz.
A dimensão política da ecologia integral, porém, diz respeito também à nossa agência, corresponsável pela superação de comportamentos individuais e sobretudo coletivos que degradam o ambiente. A Plataforma de Ação Laudato si’ é um instrumento do Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral do Vaticano orientado para a sustentabilidade da vida. Com impacto global, alcança 153 países, 4 mil instituições e 20 milhões de pessoas.
Nas obras de Hannah Arendt e Hans Jonas, “ação”/“agir” estão associados ao mundo artificial imaterial criado pelos humanos, que ocorre entre pessoas em perspectiva coletiva e não individual. Tal perspectiva situa a Plataforma de Ação Laudato si’ não só como uma ferramenta educacional de conversão ecológica, mas como um instrumento de finalidade política. Ela está fundamentada na percepção de que tudo está interligado, a Terra é a casa comum, a crise ecológica está enraizada em nossos comportamentos e que a resposta ao clamor da Terra pressupõe ouvir também o clamor dos pobres.
Ao oferecer linhas de orientação e ação no capítulo cinco da Encíclica, o Papa Francisco enfatizou que a perspectiva política deve incentivar a criatividade para traçar novos caminhos e promover iniciativas pessoais e coletivas. Vivemos dias em que, muitas vezes, a política é demonizada e considerada a origem de todos os males que nos assombram. Precisamos assumir que ela está entrelaçada no cotidiano e dá sustentação à possibilidade de dialogar, “consensar” e prospectar futuros coletivos possíveis em meio à incerteza. Tal perspectiva situa a fé em uma ecologia integral no centro da odisseia de transição criativa.
Para saber mais
ARENDT, Hanna. A condição humana. 13. ed. São Paulo: Forense, 2020.
BOFF, Leonardo. Ecologia integral. A grande novidade da Laudato si’. “Nem a ONU produziu um texto desta natureza.” Entrevista com Leonardo Boff. IHU – Instituto Humanitas Unisinos, 18 jul. 2025. Disponível em: https://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/543662-ecologia-integral-a-grande-novidade-da-laudato-si-qnem-a-onu-produziu-um-texto-desta-natureza-entrevista-especial-com-leonardo-boff
JONAS, Hans. O princípio responsabilidade: ensaio de uma ética para a civilização tecnológica. Rio de Janeiro: PUC-RIO, 2006.
PAPA LEÃO XIV oferece mediação do Vaticano para “silenciar as armas” no mundo. Observador, 14 maio 2025. Disponível em: https://observador.pt/2025/05/14/papa-leao-xiv-oferece-mediacao-do-vaticano-para-silenciar-as-armas-no-mundo/
PLATAFORMA DE AÇÃO LAUDATO SI’. Roma: Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, 2024. Disponível em: https://plataformadeacaolaudatosi.org
Marli Teresinha Everling
Professora dos cursos de Graduação e Pós-graduação em Design da Universidade da Região de Joinville (Univille); coordenadora do Projeto Ethos – Design e relações de uso em contexto de crise ecológica; colaboradora do Instituto Caranguejo de Educação Ambiental (caranguejo.org.br); colaboradora do blog SSpS Brasil para temas ambientais (https://blog.ssps.org.br/posts); colaboradora das redes sociais do design para temas ambientais – Instagram @designuniville