Ecologia Integral e uma visita às entranhas da terra

Tive oportunidade de participar de uma missão da Comissão de Ecologia Integral da Conferência dos Bispos do Brasil com membros de Vivat International Brasil.

O objetivo era levar a proximidade da Igreja às comunidades que lutam contra a mineração e as barragens em territórios comunitários. O desejo era conhecer os gritos das pessoas, escutá-las para, juntas, fazermos sínteses e avaliarmos como a Igreja pode colaborar na busca de alternativas ou na resistência.

Foram dias intensos, sentindo-me confrontada com um animal feroz que devora a terra, come montanhas, intoxica rios, contamina o ar, emite barulho permanente e espalha uma poeira finíssima e maligna por toda parte.

No final do segundo dia, eu não conseguia dormir. Virava para lá e para cá, sentindo um peso nas minhas entranhas. Era por demais dolorosa a consciência do que estamos fazendo com a terra.

Tive a sensação e a percepção de ser terra; senti, nas minhas vísceras, a violação da Mãe que nos pariu a todos. Ressenti a dor de sermos filhas mal-agradecidas, que estupram a própria mãe, arrancam-lhe a vida e a deixam moribunda, jogada à beira do caminho e, apressadas, assaltam a próxima vítima – montanha, caverna, rio ou campo -, em nome do crescimento econômico e do aumento do Produto Interno Bruto.

Quanto será o suficiente? Quando cairemos em nós? Quando seremos maduras e inteligentes o suficiente, para assumir responsabilidade pelos nossos atos e pela possibilidade de vida para as gerações futuras?

Chegando em casa, depois de 3 dias de missão, experimentei um apagão. Bati a cabeça com tal força que tive uma hemorragia no cérebro e alguns ossos da face quebrados. Fiquei uma semana no hospital, sem ver a luz do dia, internada nos labirintos da medicina moderna.

O que aprendi com isso? Continuo depurando os sentidos do que vivenciei. Mas uma pergunta não me sai da mente: quando aprenderemos que tudo é dom, frágil e interdependente?  Será que precisa chegar o tempo, “quando o último peixe estiver nas águas e a última árvore for removida da Terra, só então os humanos perceberão que não são capazes de comer seu dinheiro”?

Nesses dias, minha súplica é que possamos refinar nossa escuta, para captar os sinais das entranhas da terra e das próprias vísceras, para reorientarmos nosso estilo de vida.

 

 

 

Ir. Petronella Maria Boonen (Nelly)

Co-fundadora da linha de Perdão e Justiça Restaurativa do CDHEP e doutora e mestra em Sociologia da Educação pela USP.)

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