Ecumenismo: um novo caminho de fé

“Eles se mostravam assíduos ao ensinamento dos apóstolos, à comunhão fraterna, à fração do pão e às orações” (At 2,42). E logo mais adiante: “A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma. Ninguém considerava seu o que possuía, mas tudo era comum entre eles” (At 4,32). Esse sumário de vida das primeiras comunidades cristãs traduz o sentimento dos apóstolos, dos seguidores de Jesus e constitui-se em elementos fundantes de uma teologia do caminho.

Etimologicamente, ecumenismo quer dizer o “mundo habitado”. Esse conceito amplia-se conforme as sociedades evoluem. De mundo habitado para “mundo civilizado”, com uma cultura mais aberta, com os avanços sociais, políticos, econômicos e religiosos que possibilitaram compreender sua amplitude.

Em relação ao cristianismo nascente, podemos entender esse “mundo habitado” dentro de uma perspectiva espiritual, pois desta “terra habitada” Deus faz parte, por meio de seu filho Jesus, com a colaboração humana.

As expressões máximas desse cuidado eclesial são os concílios ecumênicos, que cuidam das influências do “mundo em geral” nas questões doutrinais e disciplinares da Igreja. Contudo é no Concílio Vaticano II que a questão do ecumenismo tem o avanço e a profundidade em sua abordagem e prática, que, na voz do Papa João XXIII, anunciava-se o “abrir as janelas” da Igreja para o mundo. E o Papa Francisco pede uma Igreja de “portas abertas”, uma Igreja em saída.

Igreja de janelas e portas abertas, em saída e a caminho, sob o sopro do Espírito, com novos ventos, em direção aos limites das fronteiras humanas.

O movimento ecumênico busca construir a unidade dos cristãos, por meio de maior proximidade e estreitamento de laços entre as Igrejas cristãs, em suas diversas denominações (católica, ortodoxa, luterana, anglicana, entre outras), pela superação de divergências teológicas e culturais, fortalecendo o diálogo e a cooperação para a paz mundial.

Mas como compreender essa construção da unidade, se nós, cristãos, que bebemos da mesma fonte, parecemos historicamente divididos em grupos religiosos e que, por vezes, entram em conflitos?

A teologia paulina nos imerge na imagem do Corpo de Cristo, que implica um forte compromisso ético de cuidado e solidariedade dos membros uns para com os outros, especialmente para com os mais fracos (1Cor 12,12-27). Essa imagem evoca a unidade da Trindade e nos convoca a “vivermos com um só coração e uma só alma, orientados para Deus”, como diz Santo Agostinho.

Apesar do crescimento da consciência da identidade e missão dos cristãos na Igreja e no mundo, ainda há longo caminho a percorrer. Essa responsabilidade que nasce do batismo e da confirmação se manifesta de formas diferentes em cada cultura.

Alguns pilares, entre outros, que sustentam a caminhada em busca da fraternidade universal e que podem ser compreensíveis em todas as línguas destacam-se por sua essência e obrigam-nos a pensar em como cuidar bem da “casa comum”, tendo em vista o bem comum de todos: encontro-acolhimento, respeito, justiça e ética.

Encontro-acolhimento: ir ao encontro do Outro, com a atitude do Bom Pastor, com a prática do Bom Samaritano, sentar-se junto ao poço de Jacó, sob a ótica da Nova Aliança, “ouvir” o que não está sendo dito e “guardar essas coisas no coração” (Lc 2,51).

Respeito: é o primeiro princípio/ da ética; reconhecer o Outro em sua identidade cultural e social, em sua dignidade humana. A gente não vê algumas pessoas que estão à nossa volta. Que saber da experiência nasce da relação entre o conhecimento do outro e a vida humana em sua integridade?

Justiça: o termo justiça sempre indica uma relação com o outro. Em Jesus, há uma síntese entre o projeto do Reino de Deus e sua pessoa: a justiça e o justo. Mais do que ser “do bem”, é necessário ser bom. Há uma convocação para uma nova ordem: aquele que adora a Deus é profundamente influenciado a viver esta nova era (o amor, o direito, a justiça, a liberdade, a felicidade), constituindo um novo ethos social e religioso. A lei só é válida quando nela está contida a justiça do Reino. Jesus opera visivelmente ações de justiça do Reino (Lc 7,22-23).

Ética: vem de ethos: “morada e proteção do ser humano”. Diferente de cosmético, que apenas enfeita. Falamos de vida boa, digna, justa. O ser humano é o fundamento ético para princípios e valores de vida e a mais vida. Implica sua essência: o ser. Ter a coragem de ser, de ser em relação ao outro e ao mundo. De ser inconformado e indignado com a injustiça e desigualdade, ser determinado, ser engajado, ser comprometido e leal, ser profissional, ser transparente, ser apaixonado pelo que faz, enfim: ser ético; “fé ética é o amor”, como diz Edgar Morin.

Há uma referência primeira: Jesus vivia com as pessoas. Esse é o caminho que os apóstolos aprenderam.

Mariano Gaioski é formado em Filosofia, Teologia e especialista em História e Educação. Trabalhou em diversas ações pastorais nas dioceses de Registro, Santo Amaro e Campo Limpo, também com adultos em situação de rua e com crianças e adolescentes em situação de acolhimento institucional (abrigos) na cidade de São Paulo. Foi professor e coordenador pedagógico em escolas estaduais de São Paulo, na região de Campo Limpo. E-mail: marianogaioski56@gmail.com.