A Plataforma de Ação Laudato si’ é inspirada na encíclica de mesmo nome do Papa Francisco. A intenção é contribuir com atitudes e soluções concretas e duradouras para a crise ecológica; visa auxiliar os participantes a desenvolver planos de ação concretos para proteger a nossa casa comum. A plataforma conta com sete objetivos:
- resposta ao clamor da Terra;
- resposta ao clamor dos pobres;
- economia ecológica;
- adoção de estilos de vida sustentáveis;
- educação ecológica;
- espiritualidade ecológica;
- resiliência e empoderamento da comunidade.
Nosso foco hoje é o objetivo 5 (educação ecológica), porque, direta ou indiretamente, abarca os outros seis objetivos, e devido à sua relação com o objetivo 4: educação de qualidade da agenda de objetivos do desenvolvimento sustentável (ODS).
Somos mais de 8 bilhões de pessoas habitando o planeta, com a expectativa de que, a cada ano, esse número aumente em 8 milhões. Se eu olhar para meu comportamento individual ou para o impacto de meu empreendimento isoladamente, o impacto sobre as condições da vida na terra pode parecer insignificante. Mas, quando multiplicamos esse impacto, em termos nacionais ou globais, os resultados de nossas ações coletivas mudam radicalmente.
A cada dia, novos desafios são colocados sobre a mesa, em um ritmo difícil de analisar. São desafios relacionados com mudanças climáticas, seca e fogo, chuva e enchentes, desigualdade racial e de gênero, ameaças à paz, à justiça e a instituições fortes. Boa parte das questões são respostas da natureza ao modo como nos relacionamos com ela, outras requerem de nós um desvelamento do modo como vivemos. Todas requerem uma mudança cultural comprometida, concreta e continuada.
Convivemos hoje em uma sociedade cuja comunicação está fundamentada na ciência de dados, algoritmos e sistemas desenhados para manter nossa atenção, por meio de conteúdos intensos, agressivos e polarizantes, explorando a vulnerabilidade e a fragilidade de nossa espécie. A mentalidade corporativa que sustenta esses modelos, e está restrita a um pequeno número de grandes corporações, comunica, sutil e explicitamente, um dia sim e no outro também, que a educação só vale a pena se for técnica e instrumental. Disciplinas e profissões que dialogam com questões sociais, culturais e filosóficas são constantemente questionadas e desvalorizadas. Para onde vamos em um mundo no qual o espírito inquisidor, analítico, mais fundamentado no conhecimento produzido pela área das humanidades, é atropelado por métricas, produtividade, “monetização” e “entregas” que desconsideram a reflexão acerca dos resultados indesejados que acompanham esse frenesi produtivo e lucrativo?
Construir um horizonte coletivo não é trabalho simples nem atividade para um dia só. Requer compromisso, insistência e aposta na possibilidade de mudança. A Plataforma de Ação Laudato si’ visa a contribuir com a “reflexão na ação”, com o fomento do diálogo e do debate civilizado orientado às mudanças coletivas, considerando relacionamentos, interconexões, a vida das espécies e do planeta como centrais. Se a educação é primordial para a constituição da humanidade, a educação ecológica é fundamental para imaginar futuros possíveis.
Para saber mais
MATOS, António. Dia Mundial da População: como e quanto mudámos em quatro décadas. National Geographic Portugal, Lisboa, 18 jul. 2024. Disponível em: https://www.nationalgeographic.pt/historia/dia-mundial-populacao-1985-2024_5198. Acesso em: 8 set. 2024.
PAPA FRANCISCO. Carta Encíclica Laudato si’ do Santo Padre Francisco sobre o Cuidado da Casa Comum. Vaticano, 2015. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/encyclicals/documents/papa-francesco_20150524_enciclica-laudato-si.html. Acesso em: 8 set. 2024
SANTA SÉ. Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral. Plataforma de Ação Laudato si’, Vaticano, 2024. Disponível em: https://plataformadeacaolaudatosi.org/. Acesso em: 8 set. 2024.
Marli Teresinha Everling
Professora dos cursos de Graduação e Pós-graduação em Design da Universidade da Região de Joinville (Univille); coordenadora do Projeto Ethos – Design e relações de uso em contexto de crise ecológica; colaboradora do Instituto Caranguejo de Educação Ambiental (caranguejo.org.br); colaboradora do blog SSpS Brasil para temas ambientais (https://blog.ssps.org.br/posts); colaboradora das redes sociais do design para temas ambientais – Instagram @designuniville