Quando pensamos em Educação, muitas vezes, nos vem à memória a imagem das tradicionais salas de aulas, dos conteúdos acadêmicos que são difundidos no espaço escolar, dos mestres detentores do saber. No entanto, atualmente, precisamos fazer uma releitura dessas imagens e entender que tudo mudou. As tradicionais salas de aula tornaram-se espaços dinâmicos de aprendizagem; o professor, mediador dos conhecimentos; e o aluno, protagonista de suas ações. Não que tenhamos criado algo novo, pois inovar não significa fazer o que nunca foi feito, mas ressignificamos o espaço escolar, a fim de torná-lo cada vez mais significativo, mesmo que, para isso, tenhamos de enfrentar muitos desafios.
Contudo, diante desse novo cenário de possibilidades, não podemos deixar de priorizar e consolidar, pela práxis educativa, uma formação integral que considere as diversas dimensões do ser humano: física, emocional cognitiva, social e espiritual, e promovendo, como nos dizia Paulo Freire, uma educação transformadora e libertadora, pois não basta apenas dominar conteúdos e técnicas, é necessário ter autonomia e ser cognitivamente capaz de inserir-se socialmente. E, para que tudo isso seja consolidado, é preciso ter muito cuidado, não só no sentido de cautela, mas no de zelo.
Formar uma pessoa, em todas as suas dimensões, exige competência, sabedoria e sensibilidade, pois lidamos com vidas e temos a missão de ver, sentir, acolher e cuidar. Educar é ter esperança no futuro, mesmo diante de um presente tão incerto, para semear com sabedoria e colher com paciência, pois são as vidas que agora estão sendo cuidadas que cuidarão de nós, do mundo e dos seres que nele habitam.
Muitos afirmam que a arte de educar é, ao mesmo tempo, a mais difícil e bela de todas. O ato de educar é o prolongamento do ato de gerar. Ao educarmos, geramos vidas, pois promovemos o crescimento intelectual e o amadurecimento. A educação transforma e forma, não só durante nove meses, mas durante toda a existência. Ela gera vida plena e em abundância. Assim como uma mãe que traz seu filho no ventre e o acolhe, como seu bem mais precioso, doando um pouco de si, e aprendendo com aquela experiência, educar também é um ato de amor, benevolência e comunhão. Quem educa, também, deixa um pouco de si no outro e leva um pouco do outro para si.
E, diante dessa responsabilidade, precisamos pensar em educação, não em seu sentido restrito, mas naquele mais amplo, que ultrapasse as paredes da sala de aula, os conhecimentos, as competências cognitivas e aufira as competências pessoais, a inteligência socioemocional e forme pessoas de bem que olhem não só para si, mas para o outro, para os mais necessitados, para aqueles que precisam, para os animais, vegetais, para o meio ambiente e estejam a serviço da vida.
Só assim teremos pessoas capazes de aprender a aprender sempre, de enfrentar os desafios impostos, de buscar soluções adequadas e eficazes para problemas que nunca pensamos enfrentar. Só pessoas preparadas emocionalmente conseguem combater, da melhor maneira, os desafios sociais, econômicos e pessoais, que surgem diariamente, e viver, da melhor forma, uma vida que se transforma e é transformada, da noite para o dia.
No momento atual, diante da pandemia do covid-19, estamos, verdadeiramente, tendo de nos reinventar. Estamos vivendo um cenário nunca antes vivido, muito menos esperado, que nos incita a novas aprendizagens. Precisamos reinventar a nossa forma de nos relacionar com o mundo, com o outro, de trabalhar, estudar e de estabelecer uma rotina. Estamos, mais do que tudo, aprendendo que necessitamos nos importar com o nosso semelhante, com o mundo e com detalhes que, diante de nossa correria do dia a dia, deixamos, aos poucos, de nos importar. Sairemos mais fortes dessa situação e com a certeza de que não estamos, ou ficamos, bem individualmente. Só estamos bem coletivamente, porque estamos juntos, somos parte do mundo e geradores de vida.
Clarice Aparecida Monreal P. Cavalcante, pedagoga com especialização em orientação educacional e administração escolar, pós-graduada em Gestão Escolar e diretora educacional do Colégio Espírito Santo, em São Paulo-SP.