O consumo e a produção conscientes são processos entrelaçados e merecem atenção especial quando se trata de educação ambiental. O modo como consumimos é parte da força motriz dos processos de produção que analisam nossos comportamentos, fragilidades e necessidades, interpretando-os como “demanda” a serviço do lucro. Como indivíduos, nossa resistência é menor ante essa máquina de produção que quer estimular o consumo.
A educação ambiental tem muito a contribuir com a percepção da necessidade de organização articulada dirigida para mudanças individuais e, sobretudo, mudanças coletivas de comportamento, incluindo agentes de produção, de legislação e políticas públicas. Os processos de produção operam em escala industrial, o que amplia exponencialmente seu impacto sobre a Terra e, consequentemente, sua responsabilidade. Nesse sentido, no dia 15 de outubro, dedicado ao educador ambiental e a consumo/produção conscientes, compartilhamos uma experiência de educação ambiental dirigida para a relação consumo/produção e resíduos.
Resíduo não é lixo
Durante a pandemia, submetemos um projeto ao Fundo de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (FAPESC), com o objetivo de investigar e desenvolver novos processos relacionados à cultura maker e à sensibilização ambiental com estudantes de escolas de ensino fundamental e médio. Esse projeto foi aprovado e resultou no Espaço Maker, dirigido para o Design e Educação, um laboratório móvel. Sua ênfase está na jornada do resíduo plástico, desde sua coleta e separação até seu reaproveitamento na cadeia industrial. Além de disseminar a ideia de que resíduo não é lixo e que pode ser utilizado no desenvolvimento de produtos, o laboratório visa a capacitar cidadãos para cuidar do mundo que nos cerca e diminuir as consequências ambientais de nossas atividades.
Depois que o laboratório foi estruturado, ocorreram duas experiências, em escolas distintas, com estudantes do nono ano. Em cada escola, as atividades iniciavam com um diagnóstico, junto aos professores e à equipe pedagógica, no intuito de identificar disciplinas, atividades e outros projetos em andamento que poderiam ser articulados à proposta de reaproveitamento do resíduo de plástico. A experiência também abrangeu a compreensão da jornada dos resíduos; oficinas de coleta, separação e reciclagem de resíduos; oficina criativa para o desenvolvimento do produto a ser confeccionado com resíduos no laboratório; oficina de demonstração da produção do produto gerado, utilizando a estrutura do laboratório Maker. Todo esse processo foi analisado e estruturado sob a forma de recursos didáticos e está disponível na plataforma Espaço Maker – Design e Educação, a qual será retomada no final de nossa história.
Uma parte que consideramos essencial para a educação ambiental foi compreender o destino dos resíduos. Para isso, foi visitada a Associação Ecológica de Recicladores e Catadores de Joinville (Assecrejo). A visita foi iluminadora para compreender a importância da destinação adequada dos resíduos, considerando os impactos sociais, ambientais e econômicos, já que o descarte inadequado causa desperdício de recursos materiais. Da escuta e da observação, aprendemos sete recomendações que poderiam contribuir para reduzir resíduos e tratá-los adequadamente, facilitando seu reaproveitamento. Sabíamos que não poderíamos levar os estudantes para vivenciar esse processo, mas entendemos que seria fundamental traduzir e incorporar o que aprendemos nas experiências que desenvolvemos com as escolas.
Isso foi feito por meio de um toolkit com ênfase na educação ambiental, que conta com um e-book didático de apoio às próximas atividades e com cinco vídeos de finalidade pedagógica que estão disponíveis na plataforma Espaço Maker – Design e Sustentabilidade. O vídeo tem cinco episódios, e o e-book tem cinco capítulos apresentando coerência cognitiva e complementaridade. O segundo episódio e o segundo capítulo apresentam os aprendizados relacionados à redução, cuidados e reaproveitamento dos resíduos, elaborados a partir da visita à cooperativa. Sua inclusão é essencial para a sensibilização dos participantes das oficinas quanto à jornada dos resíduos e o quanto nossa (in)consciência afeta a dignidade de um trabalhador tão essencial para nossa sociedade.
Para acessar o conteúdo
Em 11 de outubro, foi lançada a plataforma em um evento de Design dirigido para a Educação. Agradecemos a parceria da Rede de Comunicação SSpS na divulgação do lançamento da plataforma. Em retribuição a esse apoio, nosso relato visa a partilhar com os leitores do blog e com a comunidade educacional os conteúdos gerados.
A plataforma está disponível endereço https://projetomaker.com.br/. Já o lançamento dos serviços oferecidos por meio da plataforma foi gravado e está disponível em https://www.youtube.com/live/mzm4Elmcu0M?feature=shared. Desejamos, sinceramente, que seja útil.
Agradecemos à FAPESC o apoio financeiro; ao Instituto Caranguejo de Educação Ambiental o desenvolvimento da plataforma; às escolas municipais Eladir Skibinski e Padre Simioni Valent, à UFSC e à Assecrejo (Associação Ecológica de Recicladores e Catadores de Joinville) a parceria.
Marli Teresinha Everling
Professora dos cursos de Graduação e Pós-graduação em Design da Universidade da Região de Joinville (Univille); coordenadora do Projeto Ethos – Design e relações de uso em contexto de crise ecológica; colaboradora do Instituto Caranguejo de Educação Ambiental (caranguejo.org.br); colaboradora do blog SSpS Brasil para temas ambientais (https://blog.ssps.org.br/posts); colaboradora das redes sociais do design para temas ambientais – Instagram @designuniville