No Brasil, o direito à liberdade de religião ou crença é previsto pela Constituição Federal. A legislação garante o livre exercício de cultos religiosos e a proteção aos locais de culto e suas liturgias. Em nosso país, também celebramos anualmente, em 21 de janeiro, o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, com o objetivo de promover o diálogo inter-religioso, a tolerância e o respeito, além de alertar as pessoas sobre esse problema gerado pelo desrespeito às diversas crenças existentes no mundo.
Apesar das incessantes lutas pelo direito à liberdade religiosa e a garantia de direitos constitucionais, a desinformação e a falta de educação acerca da diversidade religiosa da sociedade brasileira é o principal fator gerador da intolerância religiosa. O preconceito nada mais é do que um juízo preconcebido de algo que se desconhece, e é dessa forma que a intolerância religiosa cresce na sociedade. Por meio do conhecimento, é possível romper essas barreiras. A educação é a mais eficaz forma de combate às diversas formas de intolerância e preconceito. O indivíduo que for educado e conscientizado acerca da importância do respeito ao próximo e à diversidade religiosa do País seguramente contribuirá para a construção de uma sociedade mais inclusiva e justa.
Pela educação religiosa, é possível promover o diálogo entre as mais diversas crenças e religiões na percepção de que, independentemente das formas diferentes de expressarem a fé, existe um elo que as une, seus princípios de bondade, liberdade e amor. O outro é diferente, tem certamente outras referências e experiências culturais, porém, pelo encontro e o diálogo, é possível eliminar as distâncias e condicionamentos que levam ao isolamento, indiferença ou irresponsabilidade, para harmonizar as diferenças e interagir.
Evidenciada a urgente necessidade de uma cultura do encontro, o Papa Francisco exorta a educação católica a promovê-la, de modo que possa ser uma proposta de esperança e confiança para nosso tempo. Em um de seus discursos, enfatiza que “as mentes e os corações devem estar em harmonia na busca do bem comum universal e na busca do desenvolvimento integral de cada pessoa, sem exceções ou injustas discriminações”.
Essa reflexão do Santo Padre diz muito sobre a importância de uma formação integral dos educandos, para que estejam comprometidos com a realidade social, os valores, a moral e a ética. Nesse sentido, o Ensino Religioso se destaca na promoção de uma educação aberta à transformação sociocultural que forma cidadãos que compreendem os processos sociais, desenvolvendo atitudes de escuta, respeito e serviço na perspectiva de uma formação que contemple a cultura do diálogo e do encontro. Esse diálogo deve ser amplo e aberto com todas as pessoas: o diálogo ecumênico, inter-religioso, com os não crentes, com as ciências, com a economia, a política, a arte, etc.
O Ensino Religioso tem esse importante papel de encontrar-se com aqueles que têm outras opiniões e diferentes opções, sem abdicar os próprios princípios, valores e convicções. Proporciona um encontro autêntico que não coloca em risco a própria identidade, mas a enriquece com aquilo que o outro oferece. Pela dinâmica do diálogo (que requer falar e ouvir, receber e dar), dá-se o reconhecimento do outro como alguém valioso, que tem algo a oferecer. Diante dos desafios e incertezas enfrentados pela humanidade, o Ensino Religioso busca novos e criativos caminhos que conduzam ao diálogo e ao encontro, olhando para o próximo como irmão.
É fundamental educar crianças e jovens sobre todas as doutrinas religiosas e, principalmente, sobre a relevância do respeito a todas. O saber é fundamental para a liberdade dos indivíduos. É a educação que, de forma eficaz, combaterá esta grave “doença” social, a intolerância religiosa, que fere e desrespeita tantos direitos fundamentais, e construirá o respeito à diversidade religiosa existente no País.
Mariana Botelho Coimbra
Professora de Ensino Religioso do Colégio Imaculado Coração de Maria, no Rio de Janeiro-RJ.