Estamos no início da primavera, e a natureza se expande com sua vitalidade exuberante, espalhando encanto e beleza por todos os galhos e flores que se esparramam pelos cantos e recantos onde ainda há árvores e terra disponíveis. Olhar, contemplar as belezas que se multiplicam em cada variedade maravilha os olhos e causa leveza à alma detida em seus detalhes. Desde a flor minúscula àquela grande e vistosa, pairam sobre elas uma melodia de esplendor e um cheiro cheio de vitalidade e aroma. Extasiar-se diante de uma folhinha nova que se espicha entre as outras para formar copadas renovadas faz renascer a esperança dos dias melhores por vir. Espreitar as flores cheias de pólen que se fecham qual úteros, para gestar as frutas que estarão maduras no próximo verão, é entrar no mistério da natureza que não se cansa de bendizer ao Criador que lhe deu essa mágica revelada nos diferentes sabores que elas contêm.
Ver os pássaros se regozijando com seus cantares, construindo seus ninhos para abrigar seus filhotes da nova geração, renova a esperança da vida que continua. Olhar para o céu e ver nuvens zanzando para lá e para cá, umas carregadas de chuvas benfazejas para irrigar a natureza que pede água; outras apenas passeando, mostrando os desenhos bonitos que fazem no céu, convida o coração da gente a elevar-se e, pelas narinas, absorver um ar primaveril oxigenado inflando os pulmões ávidos por ele.
Caminhar por bosques e praças, perceber o revigorar das coisas que antes pareciam paradas e semi mortas; observar a variedade de pássaros tagarelando e alimentando-se de insetos que caçam no ar ou buscam com seus bicos agudos sob a grama que pisam é entrar na dança da primavera que abre espaços para a vida se renovar.
Na primavera, até o corpo e o espírito parecem mais dispostos a carregarem-se com sensação de mais leveza e continuar a correr atrás dos próprios sonhos. Assim, a cada nova primavera, recanta-se o hino à vida, que nos convida a desfrutá-la como dom da natureza dado pelo Criador. Nos mistérios que nela se escondem, reflete-se a bondade do Deus da vida que não se cansa de oferecer um paraíso para todos desfrutarem.
Pena que tudo isso acima dito parece ter seus dias contados. As previsões das primaveras futuras não são tão alvissareiras. Os desmandos humanos que poluem desmesuradamente as camadas de ozônio, criando o efeito estufa; a ganância exacerbada do querer apropriar-se do que não é seu; os tratados sobre a preservação do ambiente não cumpridos; os acordos sobre o clima que ficam engavetados; tudo isso está levando o planeta Terra a seu caos.
O Papa Francisco, defensor intransigente da “casa comum”, tem lançado apelos contínuos, por meio da Laudato si’ e Laudate Deum, entre outros, para nos conscientizar sobre a gravidade presente em nossos dias. A própria natureza tem nos alertado, com suas hecatombes, o reflexo dos males a ela infligidos. Sua rebeldia que nos assusta são seus gritos de dor pela destruição que a ela infligimos.
Se quisermos ainda primaveras primaveris, urge assumirmos nossas responsabilidades individuais e coletivas, num esforço conjunto, para preservarmos o que ainda resta de nosso amado planeta Terra.
Oxalá, nossos esforços contribuam para não nos faltar primaveras em nossos dias, e assim possamos garantir que as novas gerações também possam conhecê-las. Conscientes de nossa responsabilidade atual, vamos agir com presteza em seu favor, para preservá-la.
Primavera, ah, que bem precioso tu és, que tanta poesia e alegria inspiras, não nos deixes órfãos de tuas belezas, devido a nossas negligências, dá-nos mais uma chance de recompor o que nossas ambições destruíram! Benditas as primaveras que já nos encantaram, bendigamos ao Criador, apesar de tudo, por aquelas que ainda hão de vir!
Padre Deolino Pedro Baldissera, SDS