Apesar de todo o avanço das ciências, das conquistas em vários campos do saber, das melhorias e facilidades oferecidas ao dia a dia do cidadão, nota-se uma insatisfação meio generalizada com os rumos da vida. Há muita gente aborrecida, cansada, desnorteada, perguntando a si se a vida é isto: trabalhar, correr, pagar contas, sentar-se na poltrona, ver telenovela, dormir e, no dia seguinte, repetir essa rotina estafante.
Esses parecem ser alguns vestígios de um mal-estar que está esvaziando a vida de significados maiores. Há uma dupla tendência para enfrentar essa situação, salvo as exceções, que sempre existem. Há uma tendência narcísica, na qual o centro da vida e do mundo é o próprio umbigo, a autorreferencialidade, e outra tendência depressiva, em que a vida se resume a lamentos, desânimos e passividade.
No horizonte narcisista, o que se sobressai é a preocupação exagerada consigo mesmo, querendo satisfazer todos os desejos a qualquer custo, recusando qualquer sacrifício pelo que é comum ou para o bem do outro. Em tudo quer ter vantagem para si. Só se faz o que se gosta e ponto final, o resto não interessa. O mundo narcísico está centrado sobre si mesmo e gira em torno de um ego grandioso, meio aloprado, que se esconde em suas justificativas: “se não cuido de mim, ninguém o fará por mim”.
O mundo narcísico é visto pelo olhar da vantagem para si. A lógica que prevalece é conquistar o melhor status, ser o mais competente, ter o melhor salário, possuir o que há de top! Vestir-se segundo a moda, ter prestígio, receber elogios, sucesso na carreira, tudo isso a qualquer preço, não se importando muito com os que vivem à sua volta.
No outro lado da moeda, prevalece a depressão. Muita gente entregando os pontos. Cansou de lutar, o desânimo se torna o companheiro diário, tudo é cansativo, não inspira mais ambições de futuro; conformar-se com a situação é o destino. A esperança de salvação milagrosa está nos remédios, mas se queixa de que estes não fazem efeito e a vida é pesada, não deslancha mais.
São duas situações existenciais muito frequentes hoje. Há saídas? Certamente que há, não sejamos fatalistas! Afinal, o ser humano tem uma capacidade grande de reação e é capaz de encontrar saídas quando parece prevalecer o caos. Contudo, é bom que se diga, que não há mudança sem esforço. Para tudo há um preço. Não há soluções mágicas e milagrosas. Uma dica para começar a encontrar saídas é rever seus valores, onde se colocou suas esperanças. Se lá elas existem de verdade ou são enganosas. Não é qualquer solução que satisfaz, é preciso que seja motivadora o bastante, que quebre o círculo vicioso em que se enroscou.
Buscar ajuda quando estamos nessas situações é necessário, não somos super-heróis capazes de vencer sempre. A vida continua a oferecer oportunidades, é preciso estar também disposto a pagar o preço que ela exige no dia a dia de nossa existência. O narcisismo pode ser combatido por um pouco de humildade, sem precisar de estar sempre na berlinda da fama. A depressão pode ser tratada com medicamentos e auxílios psicológicos, mas não dispensa também o esforço pessoal para reagir a ela. A vida nos convida a vivê-la cada dia, na perspectiva de um amanhã sempre novo.
Padre Deolino Pedro Baldissera, SDS