Envelhecimento saudável versus envelhecimento melancólico

A vida, o envelhecimento, é comparável a uma grande viagem. Se nos prepararmos, teremos uma chegada tranquila e poderemos desfrutar da estada final. Se, porém, viajarmos de qualquer jeito, teremos de aceitar o que encontrarmos e até poderemos ficar frustrados e arrependidos de não termos nos preparado devidamente. Então, a canção-tema de nossa viagem para a velhice poderá ser:

Devia ter amado mais,
ter chorado mais,
ter visto o sol nascer.
Devia ter arriscado mais e até errado mais,
ter feito o que eu queria fazer. […]
Queria ter aceitado a vida como ela é.
A cada um cabe alegrias e a tristeza que vier”

(Titãs, Epitáfio, composição de Sérgio Britto).

Nesse sentido, a Psicologia diferencia dois tipos de envelhecimento: o saudável e o melancólico. O envelhecimento saudável é marcado por sentimentos de gratidão e de realização pela vida pessoal, afetiva, familiar, social e profissional. Idosos saudáveis são aqueles que têm um projeto de vida para executar após a aposentadoria; têm apoio da família; têm uma rede de amigos; retomam contatos antigos; viajam; participam de clubes para a terceira idade; estão bem com o corpo, aceitam as perdas, fazem curso, etc. Já o envelhecimento melancólico é marcado pela presença do luto, ansiedade, depressão, suicídio, suicídio lento, apego à doença, solidão, inveja da juventude, lamentações, entre outros sentimentos melancólicos.

Desde nossa juventude, é necessário discutir e planejar a fase da velhice, para que o envelhecimento seja vivido de uma maneira saudável. No âmbito socioprofissional, percebe-se a falta de preparação por parte das empresas e do próprio indivíduo para a vivência do momento da aposentadoria. Constata-se:

A velhice é um território desconhecido e particular a cada um. O homem vivencia a passagem do tempo com espanto, surpresa, desconcerto. […] Ele não reconhece em si as metamorfoses advindas, passo a passo, com a senescência. Reconhece-as no outro, é o outro que envelhece. Mas, com surpresa, não mais que de repente, ele vê sua velhice no olhar do outro, que tal como um espelho lhe retorna aquele “estrangeiro” em que se tornou (Peres, 2004, apud Candice Roque, 2017).

A fase da velhice é uma fase de colheita de frutos do que se plantou na juventude e na adolescência. Para a psicanálise, é um tempo de acertar as contas com o passado, especialmente com a infância. É um tempo de superação, de elaborações e de adaptações. Pesquisas mostram que o tema não é atraente nas discussões cotidianas nem mesmo nas acadêmicas.

Nossa cultura ocidental, muito ao contrário da cultura oriental, não dá o valor merecido para as pessoas que estão nessa última fase do desenvolvido. Os idosos sofrem preconceitos. Foi necessário, inclusive, criar um estatuto do idoso para garantir seus direitos. A mídia supervaloriza a juventude, alvo predileto do capitalismo, com o seu consumismo. Ainda estamos muito distantes da cultura indígena, africana e asiática.

“A vida é uma peça teatral com um último ato muito mal escrito” (Cícero).

Para saber mais
ROQUE, Candice. A Psicologia pensando o envelhecimento. 2017. 52 f. (Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação em Psicologia) – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí) – Santa Rosa, 2017. Disponível em: https://bibliodigital.unijui.edu.br:8443/xmlui/bitstream/handle/123456789/4931/Candice%20Roque.pdf?sequence=1

Pe. Aparecido Luiz de Souza, SVD
CRP 08/149
Tel.: (93) 99128-3042

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