Escolas são guardiãs da tradição das festas juninas

No calendário das escolas de todo o Brasil, a chegada de junho vem acompanhada pelo colorido de vestimentas caipiras e das bandeirinhas que enfeitam pátios, salas e corredores. Em alguns casos, o período das festas juninas pode se prolongar até julho, em programações que valorizam a cultura, além de promover a alegria e a integração, sendo tudo isso parte do conteúdo pedagógico.

A celebração tem suas origens em festividades da Europa que marcavam a passagem da primavera para o verão no Hemisfério Norte, sendo trazida para o Brasil por influência dos portugueses do século XVI. As danças, músicas e comidas que conhecemos hoje evidenciam a mistura de elementos típicos do interior do País e de tradições sertanejas, forjadas pela mescla das culturas africana, indígena e europeia. “A cristianização da festa está diretamente relacionada ao estabelecimento de comemorações de importantes figuras do catolicismo, entre as quais se destacam Santo Antônio (homenageado em 13 de junho), São João (dia 24) e São Pedro (dia 29)”, informa o portal Brasil Escola.

Nas escolas das missionárias servas do Espírito Santo, essa tradição também vem de longa data, sendo um dos eventos mais aguardados por toda a comunidade escolar. Danças de quadrilha junina, as brincadeiras e o casamento caipira são algumas das atividades que ficam na memória de quem participa dessas festas. Saiba como é esta prática nos colégios Imaculado Coração de Maria (Rio de Janeiro-RJ), Santa Maria (Cascavel-PR), Espírito Santo (São Paulo-SP) e Espírito Santo (Canoas-RS).

Festejos têm caráter pedagógico

Colégio Imaculado Coração de Maria

Dentro de seu planejamento pedagógico, o Colégio Imaculado Coração de Maria entende que valorizar as tradições culturais deste imenso país junto às gerações mais novas é proporcionar acesso à riqueza, beleza e diversidade dos povos originários, povos africanos e europeus. “O Brasil possui como característica reconhecida a multiculturalidade, o que nos enche de orgulho. E trazer uma festa tipicamente campestre para a cidade é dar visão, valorizar e respeitar os traços e costumes típicos desses brasileiros que transformam, em cores e passos vibrantes, as noites das festas juninas do interior do País”, assinalam os educadores.

Por isso, a tradicional festa junina da escola não se resume apenas a ensaios, danças e barraquinhas. Engloba um estudo sobre esse Brasil, aparentemente distante, que colocou em evidência artistas como Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Dominguinhos, Marinês, Elba Ramalho, além de aspectos culturais e a beleza das festas de Caruaru-PE e de Campina Grande-PB, com seu teto colorido de bandeirinhas, quadrilhas, xotes, baiões e a história da força do povo sertanejo. “Esses valores são passados e debatidos com os alunos, durante as aulas em sala, e depois trazidos aos ensaios, quando professor e aluno fazem uma união entre as músicas mais tocadas nas áreas urbanas com as músicas marcadas por zabumbas, triângulos e sanfonas, para daí saírem as danças que abrilhantam nosso evento”, afirmam os professores do Colégio Imaculado Coração de Maria.

Colégio Espírito Santo – Canoas

A coordenadora pedagógica da educação infantil do Colégio Espírito Santo (CES) de Canoas, Elen Zimmermann, ressalta, inclusive, que as festas juninas integram a competência de Repertório Cultural na Base Nacional Comum Curricular: “Na BNCC, entra toda a parte cultural e de festividades que caracterizam cada Estado do País. Fazemos o estudo das regiões para fundamentar a festa com essas informações. Já trabalhamos como temática a biografia de Luiz Gonzaga e Elba Ramalho, por exemplo”. Essa competência da BNCC estabelece como fundamental que os estudantes conheçam, compreendam e reconheçam a importância das diversas manifestações artísticas e culturais, propondo a participação deles em práticas diversificadas da produção artístico-cultural.

Colégio Espírito Santo – Canoas

Outro aspecto pedagógico é a mescla da festa junina com projetos escolares e eventos como a Copa do Mundo, propondo conexões ainda mais amplas. “A festa junina é uma tradição no CES. É uma atividade muito esperada, cheia de alegria, dança, gostosuras e descontração. Aproveitamos a oportunidade para enfatizar o programa Líder em Mim, desenvolvendo os princípios dos sete hábitos trabalhados com os alunos, colocando-os em ação, de forma a desenvolver a proatividade, a estabelecer o que é mais importante, pensando o ganha-ganha, além de criar sinergia na organização, nos ensaios e na apresentação das danças”, comenta Adriana Maciel, coordenadora pedagógica do ensino fundamental I do colégio gaúcho.

Colégio Santa Maria – Cascavel

Também no Colégio Santa Maria, em Cascavel, a professora Rosangela Maria de Oliveira Bueno, do ensino fundamental, conta como a programação envolve todo um trabalho multidisciplinar: “As festas juninas fazem parte do calendário letivo e são momentos para o desenvolvimento de muitas atividades lúdicas, além de uma valiosa oportunidade para que os professores ensinem conteúdos relativos a diferentes disciplinas, como Geografia, História, Artes e Educação Física. O evento contribui para o desenvolvimento de habilidades socioemocionais, principalmente nas crianças, possibilitando a integração entre todos os envolvidos, e estimula competências impactantes para a socialização, como cooperação, paciência e respeito”.

Presença da família e da comunidade

A alegria das festas juninas é algo que empolga não somente os estudantes, mas também seus familiares e, em alguns casos, ex-alunos e a comunidade vizinha às escolas. “Nossa festa junina é referência no bairro, pois é um momento em que várias gerações do Colégio Imaculado Coração de Maria se reencontram para aproveitar o festejo e participar da tradicional dança de quadrilha dos ex-alunos”, dizem os professores. O evento inicia com uma procissão, tendo a imagem de Nossa Senhora Aparecida à frente, levada por um colaborador, seguida pelos estandartes dos três santos juninos: Santo Antônio, São João e São Pedro. “É lindo ver toda a comunidade escolar atrelada a esse momento em que se celebra também nossa fé. Nós, educadores deste grande colégio, colocamos nosso saber e nosso coração em prol de uma educação verdadeira, que desenvolve a empatia, o respeito e o reconhecimento por esse patrimônio cultural que são as festas juninas”.

Colégio Espírito Santo – São Paulo

No Colégio Espírito Santo, na capital paulista, um dos propósitos também é essa integração. “A nossa festa junina significa família, diversão e tradição. É um dia cheio de brincadeiras populares, comidas típicas e danças, que dão um toque de beleza. É um momento no qual as crianças apresentam o que aprenderam e resgatam o que tem de mais precioso na nossa cultura. Tudo é feito com muito carinho e dedicação, para que seja inesquecível e que fiquem registros afetivos de um dia muito feliz”, afirma a professora Karina Khristian.

Colégio Espírito Santo – São Paulo (4)

E a felicidade das festas juninas fica mesmo marcada na vida de todos, como conta a professora Evelyn Joyce Molina, também do Colégio Espírito Santo de São Paulo: “É uma das festas que eu mais gosto, porque envolve toda a escola no evento. Os alunos são protagonistas, e cada turma ensaia, participa e apresenta a sua dança com muita alegria e envolvimento. Eles aprendem e conhecem a cultura e a origem de suas danças, envolvendo também suas famílias no preparo dos acessórios e trajes. O momento mais aguardado pelos alunos é a participação das brincadeiras junto com seus familiares e professores. Gosto muito das comidas típicas oferecidas, porque me lembram muito a minha infância”.

Mas as festas juninas não estão restritas ao mês de junho. Há escolas que realizam a programação em julho, como fechamento das atividades antes do recesso de inverno. Esse é o caso do Colégio Santa Maria, que tem por tradição promover duas festividades, uma somente para os alunos e outra para a cidade. “Aqui costumamos ter uma festa bem grandiosa, aberta a toda a comunidade, com participação muito boa, não só dos parentes dos nossos estudantes, mas de ex-alunos e de outras pessoas”, destaca a irmã Regina Lucia Campana Moessa, SSpS.

Colégio Santa Maria – Cascavel

“Aproveitamos os eventos para aproximar as famílias, educadores e funcionários. Temos a festa interna, para os alunos, e a festa externa, quando o nosso colégio simplesmente enche, porque a cidade toda vem participar”, diz a professora Rosangela Bueno. “É uma festa muito grande, e todos participam, desde os bebês até os concluintes do terceirão. Geralmente, começamos os preparativos no início de maio, e a festa é entre o início de julho e o último fim de semana antes do recesso de inverno. Em todo esse processo de produção da festa, todos os professores acabam se envolvendo. Os pais e as mães também estão sempre trabalhando junto”, complementa a educadora. Ela ainda destaca uma bonita tradição da festa: “Temos um bolo, no qual vai uma medalhinha, que é o bolo de Nossa Senhora. É um sucesso no dia da festa junina”.

O efeito da pandemia nas comemorações

Devido à pandemia de covid-19, uma estratégia adotada em 2020, como forma de prevenção à doença, foi o isolamento social, implicando a suspensão do ensino presencial e de atividades que promovessem aglomerações. Com isso, a tradição de reunir a comunidade escolar na festa junina foi interrompida em todas as instituições de ensino.

Em junho de 2021, as flexibilizações das medidas preventivas ainda recomendavam cautela, porém se abriu a possibilidade para que o festejo fosse realizado em outros formatos, como o drive-thru. “Depois de um ano sem festa junina, decidimos que, em 2021, teríamos de usar a criatividade para não deixar de comemorar. O drive-thru deu certo, com grande participação e elogios por parte das famílias. As crianças gostaram muito, porque, em 2020, tudo tinha sido on-line. O conteúdo foi trabalhado nas aulas remotas, conforme o foco de cada faixa etária, e as crianças usaram trajes típicos em um lanche virtual”, recorda Elen Zimmermann, do Colégio Espírito Santo de Canoas.

Colégio Espírito Santo – Canoas

Para este ano, a programação segue mantendo cuidados em relação à covid-19, mas já mais próxima dos moldes tradicionais. “Montamos um cronograma para as danças, lanche e visita à barraquinha dos brindes, para que os alunos participem em momentos diferentes, sem aglomerações. Será um formato diferente, em que as outras turmas vão poder apreciar com tranquilidade as apresentações dos colegas”, explica Elen.

No Colégio Santa Maria, já são dois anos sem festa junina presencial, somente atividades virtuais. “Durante a pandemia, a gente estava em aula on-line. Então, o que pedíamos era que as crianças participassem das aulas e estivessem caracterizadas com as vestimentas típicas e rostos pintados. Este ano, por estarmos em aula presencial, mas ainda atentos à pandemia, teremos somente a festa interna, porém sem comida”, comenta a professora Rosangela Bueno. “Pensando em todo o cuidado e proteção com nossos alunos, professores e equipe do colégio, ainda não teremos a festa junina aberta à comunidade escolar, porque percebemos que a pandemia ainda não acabou”, pondera a irmã Regina Lucia.

Com informações do portal Brasil Escola:
https://brasilescola.uol.com.br/detalhes-festa-junina/origem-festa-junina.htm

https://brasilescola.uol.com.br/datas-comemorativas/festa-junina.htm

Marcos Vinícius Merker
Jornalista no Colégio Espírito Santo de Canoas-RS, membro da Equipe de Comunicação das SSpS Brasil.

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